“Nossas florestas são também o modo como a natureza captura o carbono, tirando gás carbônico (CO2) da atmosfera”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na COP-26, em Glasgow, na Escócia. “Temos de abordar esta questão (do desmatamento) com a mesma seriedade com que abordamos a descarbonização de nossas economias”, completou o presidente norte-americano, em um evento sobre as florestas e uso do solo.
Segundo a ONG Global Forest Watch, em 2020 a destruição de florestas primárias aumentou cerca de 12% em relação ao ano anterior, apesar da paralisação da economia por causa da pandemia. O Brasil teve aumento de 9,5% nas emissões de gases de efeito estufa. A causa do crescimento foi a alta no desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
Brasil, China, Rússia, Indonésia, República Democrática do Congo e outros líderes de mais cem países assinaram nesta terça a Declaração de Glasgow, prometendo deter e reverter o desmatamento e a degradação do solo em 2030.
No total, esses países “reúnem cerca de 85% das florestas do mundo, uma superfície de 33,6 milhões de km2, segundo a presidência britânica da COP-26.
Estas medidas se apoiarão em um fundo de US$ 12 bilhões de dinheiro público aportado por 12 países entre 2021 e 2025, além de US$ 7,2 bilhões de investimento privado por parte de mais de 30 instituições financeiras mundiais, incluindo gigantes como Aviva, Schroders e Axa.
A União Europeia também anunciou que contribuirá com 1 bilhão de euros para a iniciativa global de frear o desmatamento, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
As medidas devem apoiar atividades nos países em desenvolvimento como a restauração de terras degradadas, a luta contra os incêndios florestais e a defesa de direitos das comunidades indígenas.
Na véspera, o Brasil já havia anunciado a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Os novos anúncios do governo fazem parte da tentativa de driblar a desconfiança internacional em relação ao Brasil na pauta do meio ambiente, diante da recente alta de desmate e incêndios na Amazônia.
Cancelada no ano passado por causa da pandemia, a COP-26 tem como missão colocar em prática o Acordo de Paris, de 2015, que estipulou como grande objetivo limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC.
Na segunda-feira, a Índia, quarto maior emissor de CO2 do mundo, anunciou que não esperava alcançar a neutralidade de carbono até 2070. Bastante esperado, o anúncio da Índia representou um atraso de duas décadas em relação à maioria dos países.
O Brasil se comprometeu com a neutralidade de carbono até 2050 e anunciou aumento no corte de emissões para 50% até 2030. Essa última mudança, porém, não torna a meta climática brasileira mais ambiciosa – apenas retoma os padrões de ambição de 2015.
‘Luz verde para a destruição’
Ambientalistas apontaram como tardio o fim o desmate em 2030. Para o Greenpeace, o anúncio foi uma “luz verde para outra década de destruição florestal”.
Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostram de que desde 1990 foram perdidos 420 milhões de hectares de floresta por conversão para outros usos da terra.
Um informe da organização WWF alerta de que o desmatamento ocorre há muitas décadas na Amazônia, África central e Indonésia, mas destaca também novas frentes na África ocidental (Libéria, Costa do Marfim e Gana), África oriental (Madagáscar) e na América Latina, em países como México e Guatemala.
O acordo sobre as florestas foi o primeiro dos grandes anúncios previstos para esta terça en Glasgow.
À tarde, os líderes tentam formular um acordo mundial para reduzir nesta década em 30% as emissões de metano, um gás 80 vezes mais potente que o CO2 e cujas fontes, como as minas de carvão a céu aberto e o gado, tem recebido relativamente pouca atenção até agora. COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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