Além do Brasil, entre os principais emergentes, só a Turquia, que passou por troca de toda a equipe econômica, choque de juros e ataques contra a lira nos últimos meses, por causa do baixo nível de reservas, ainda tem moeda mais depreciada hoje do que antes da pandemia. No caso brasileiro, economistas não veem o real voltando para os níveis de antes da pandemia tão cedo. E uma das principais razões é que o Brasil gastou demais para lidar com a crise, ficando com situação fiscal muito pior que outros emergentes, embora pelo lado positivo tenha tido uma recessão menos severa.
Por enquanto, predomina a visão entre analistas de que o dólar deve seguir acima de R$ 5,00. Mesmo casas que preveem a cotação abaixo desse patamar, projetam a moeda americana em nível não muito aquém, perto dos R$ 4,90.
“Não vejo o dólar abaixo de R$ 5,00”, disse o economista e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (BC), prevendo que, na ausência de eventos externos ou internos inesperados, como mais ruídos políticos em Brasília ou nova piora fiscal do Brasil por conta de gastos com a pandemia, a moeda deve seguir no curto prazo na casa dos R$ 5,10 a R$ 5,20, disse em evento da Genial.
Fiscal
“Acabamos optando por fazer um impulso fiscal na pandemia maior que os nossos pares e isso acaba deslocando os preços da moeda”, avalia o sócio e gestor da Galapagos Investimento, Sérgio Zanini. Se por um lado o Brasil teve menor encolhimento da economia, acabou tendo outras deteriorações, como endividamento do governo, que em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) está bem acima do de outros emergentes.
O gestor avalia que o real continua barato em relação a seus pares, mas não deve voltar a R$ 4,50 tão cedo, embora possa testar níveis pouco abaixo de R$ 5,00 até o final do ano, influenciado pela alta de juros do Banco Central, que melhora a atratividade de ativos locais, e dos preços das commodities no exterior.
O real era até pouco tempo uma das moedas emergentes com pior desempenho perante o dólar em 2021, repetindo o posto ocupado em 2020. Desde meados de abril, tem tido uma performance melhor que os pares.
O economista sênior para a América Latina da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, comenta que a melhora do real ocorre por uma combinação de fatores externos e internos, que tem feito a divisa ficar mais em linha com os pares, mas ainda mais depreciada. Com relação ao exterior, as condições estão melhorando, sobretudo com a elevação dos preços de commodities, por conta da retomada americana, chinesa e, agora, europeia. Com isso, o Brasil tem registrado exportações recordes.
Vacinação
Internamente, a pandemia dá sinais de melhora com o avanço da vacinação, o que ajuda a reduzir um pouco a preocupação fiscal, destaca Abadia. Outro fator é que a sanção do orçamento mantendo o teto de gastos trouxe certo alívio, acrescenta ele. Para o economista, o real tende ainda a ganhar força, mas a volatilidade vai persistir, reflexo de eventuais ruídos políticos, sobretudo agora com o andamento da CPI da Covid no Senado.
Em 6 meses, a Pantheon vê o dólar caindo a R$ 5,15. Em 12 meses, pode recuar abaixo de R$ 5,00, mas para um nível na casa dos R$ 4,90.
A analista de moedas e mercados emergentes do alemão Commerzbank, Alexandra Bechtel, está ainda mais cautelosa e não projeta a divisa americana caindo abaixo de R$ 5,00 em 2021 ou mesmo no ano que vem. O Brasil tem “riscos específicos” que tendem a manter o câmbio pressionado, não deixando que o real se beneficie como deveria da alta de juros pelo BC, da liquidez mundial e da elevação dos preços das commodities. Se a pandemia não tiver melhora significativa, pressões para mais gastos do governo, como uma nova prorrogação do auxílio emergencial, vão em breve reaparecer e provocar volatilidade, argumenta. O banco prevê o dólar a R$ 5,30 em dezembro e R$ 5,00 ao final de 2022.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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