O alinhamento aos EUA não é novidade. A diferença é ter na Casa Branca Joe Biden, que busca protagonismo na luta contra a crise climática após quatro anos de Donald Trump, que minimizava o problema.
A avaliação de negociadores internacionais e ambientalistas é de que – sem Trump e diante da importância econômica dos Estados Unidos para nossa economia – o Brasil não consegue manter postura declaradamente negacionista, sob risco de prejuízos econômicos. O País chegou à COP sob desconfiança internacional, diante da alta no desmate na Amazônia e da resistência ao diálogo sobre a floresta com nações desenvolvidas.
No fim de semana, na reunião do G-20 (grupo das 20 maiores economias), Bolsonaro ficou isolado. Ele decidiu não ir a Glasgow, que recebeu mais de cem chefes de Estado.
Segundo o Estadão apurou, a pressão americana foi reforçada no último mês para que o Brasil firmasse compromissos. Isso se soma a cobranças da sociedade civil organizada e do empresariado, que teme perder mercado com a má reputação ambiental.
REPERCUSSÃO
O anúncio da meta de redução de 50% nas emissões de gases estufa até 2030 corrigiu uma revisão de cálculo da gestão Bolsonaro, batizada de “pedalada climática” por ambientalistas. Na prática, a meta climática não é mais ambiciosa do que a de 2015, quando houve o Acordo de Paris, pacto global contra as mudanças climáticas.
O enviado especial para o Clima do governo americano, John Kerry, porém, celebrou. “Isso adiciona um impulso crucial ao movimento global para combater a crise climática”, escreveu ele no Twitter. Também houve elogios de autoridades britânicas nas redes.
O acordo para o metano foi assinado por mais de cem países. Pressionado pelos Estados Unidos, o Brasil aderiu. Outros emergentes – como China, Rússia e Índia – se recusaram. Uma das preocupações do Brasil em se comprometer com o metano se deve à agropecuária, com grande peso na economia do País e maior responsável pelas emissões desse gás.
Nas pré-negociações de Glasgow, o Brasil disse que, se houver metas específicas para metano, também será importante ter para o CO2, pedra no sapato dos desenvolvidos, já que é emitido em maior volume por causa dos combustíveis fósseis. O acordo, porém, prevê um corte coletivo de 30% até 2030. Não cria meta específica para cada nação. Segundo o Estadão apurou, o Brasil não prevê criar metas próprias para esse poluente.
Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, o IPCC, Paulo Artaxo afirma que a pressão americana e da União Europeia foi elevada pelo menos há três meses. “Isso vem sendo costurado desde lá. Essas questões da redução de metano e do desmatamento já estavam no relatório (do IPCC, de agosto) como indicações.” Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito diz que seria uma surpresa se o Brasil ficasse fora.
AÇÃO CONCRETA
Para Márcio Astrini, do Observatório do Clima, o desafio é alinhar as metas de médio e longo prazo com as práticas do governo agora. “A mesma caneta que assina esse compromisso é a que assina o desmonte dos órgãos ambientais”, diz ele.
Em nota, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que reúne responsáveis por quase 50% do PIB, elogiou outro anúncio do Brasil na COP: o de atingir a neutralidade (saldo zero) de emissões até 2050 – compensar cada tonelada de carbono com algum tipo de absorção, como o reflorestamento. Essa é outra meta que fica para bem depois da gestão Bolsonaro, que acaba em 2026 se ele for reeleito. O grupo empresarial, porém, cobrou “plano, metas e métricas claros, que aumentem agora a ambição climática do País”.
A neutralidade também dividiu os emergentes. Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia pressionaram pela data de 2050. China e Rússia optaram pela década seguinte. Já a Índia deixa para 2070.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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