É preciso mudar o jeito agressivo de fazer política, alerta Fórum Pato Branco


Os ex-deputados constituintes de Pato Branco, Alceni Guerra, Luiz Carlos Borges da Silveira e Nilso Sguarezi alertaram hoje no Fórum Pato Banco para a necessidade de incorporar a política no cotidiano da sociedade. Em painel, que teve também a participação do ex-secretário de ciência e tecnologia do Paraná, Aldair Rizzi, da vice-prefeita de Pato Branco, Angela Padoan, do ex-presidente do PMDB, Celso Hilgert, do ex-deputado estadual José Rogério, do cientista político, Rafael Favetti, e do presidente da OAB do Paraná, Cássio Telles, foram discutidas mudanças no processo eleitoral e o papel das pessoas que ocupam cargos públicos. A seguir o que cada um tratou:

(*) Aldair  Rizzi destacou a importância da relação política para o desenvolvimento local. “Tivemos políticas sensacionais ao longo dos anos que nos permitiram montar a estrutura industrial que temos hoje, como a agroindustrialização por exemplo e as novas tecnologias que surgiram. Essa é uma forma de fazer política que precisa entrar na cabeça dos partidos e políticos”.

(*) Cássio Telles lembrou que Pato Branco é um celeiro na formação de grandes lideranças no Paraná. Ele pontuou ainda que a democracia só pode ser sustentada porque a nossa Constituição tem uma base muito forte com a cidadania brasileira. Lembrou ainda a importância de pensar no cidadão como participante da gestão do nosso país.

“Sempre afirmo que o que falta como degrau para a democracia amadurecer é a população participar. Temos eleições com voto direto, mas ainda estamos muito acomodados. Ainda que tenhamos avançado na cota de gênero, racial, temos dificuldade na escolha consciente. E as instituições da sociedade civil são as responsáveis por disseminar esse recado para a população”.

(*) Alceni Guerra, que recebeu o título de cidadão patobranquense, alertou que o processo político brasileiro passa pelo seu pior momento perante a população. Segundo ele, atualmente as pessoas olham para a política de forma agressiva e com total descrença. Porém, na sua avaliação, é preciso incorporar o processo político no cotidiano da sociedade.

 “A política permeia tudo que acontece na sociedade e em suas relações. A UTFPR chegou a Pato Branco por conta dessas relações políticas. A saúde no Brasil era um caos antes do SUS e eu concluí esse processo com duas leis quando fui ministro. Então a política está em tudo e acredito que temos que incorporar em nossas escolas, empresas, sindicatos, etc, a formação política”.

Logo na sequência, Borges contou um pouco da sua história na área. “Eu entrei na política aqui porque comecei a mudar o setor da saúde pública e os líderes políticos começaram a me perseguir”. Ele pontuou ainda que enquanto não houver organização política dificilmente será possível colocar o Brasil no caminho do crescimento que deve ser trilhado.

“Hoje não existe mais coerência partidária como tínhamos antigamente. E isso é básico para a democracia. Atualmente, vemos a negociação do presidente com os deputados para aprovar projetos. Infelizmente, os interesses pessoais ainda vem antes dos interesses coletivos. Isso tá causando esse caos político. Precisamos participar, debater e aprofundar aquilo que se tem interesse”.

(*) Presidente durante muitos anos do MDB e pioneiro na medicina de Pato Branco, Celso Hilgert lembrou as relações políticas em sua época. “Eu tinha uma ideologia oposicionista porque acreditava que muitas coisas precisavam mudar”. Celso falou do movimento que liderou a criação do Estado do Iguacu, da barganha feita com o governador Paulo Pimentel para a construção da rodovia de Três Pinheiros a Pato Branco. Hilgert explicou que a oposição sofreu grande discriminações no acesso aos orçamentos da União,  dos governos da época da ditadura para se conseguir as coisas para o Município precisava estar ligado ao Governo.

(*) Ex-deputado estadual, José Rogério de Carvalho, disse que às vezes em que ocupou cargos públicos foi apenas para atender aos pedidos do partido tendo consciência de missão transitória como cidadão. Que nunca foi sua vocação de fazer política como atividade profissional. “Junto com o Celso, iniciamos um trabalho político. Em seguida veio uma eleição para vereador, de vice-prefeito mais tarde com o Astério Rigon e depois deputado estadual. Foram muitos desafios naquela época”.

(*) A primeira vice-prefeita na história de Pato Branco, Angela, enfatizou que a política se resume a uma única palavra: servir. “É preciso deixar os interesses pessoais para tratar do bem comum. A política se tornou algo pejorativo e não mais instrumento de mudança. Mas eu acredito que a política pode ser feita de maneira séria. Essa é a minha obrigação, de conversar e mostrar que é possível”.

(*) Cientista político, Favetti, destacou que atualmente vivemos em uma cibercultura, um mundo absolutamente conectado. Que essas novas tecnologias modificaram o DNA de como se fazem as relações humanas e que trouxe duas consequências:  a primeira acelerando o ritmo das relações sociais e a segunda dando amplitude às questões locais.

“O mundo hoje é uma mistura do global com o local. Logo, para qualquer pessoa de Pato Branco vencer em uma atmosfera globalizada, ela precisa necessariamente trazer a sua experiência local, a sua cultura. Não é possível compreender o mundo sem compreender Pato Branco. Não é possível vivermos em um mundo globalizado sem antes termos essa vivência de Pato Branco”.

Nilso Sguarezi lamentou que a política vem sendo feita de forma equivocada por muitos. “Hoje se paga o político para ele fazer campanha e depois trair o que está escrito na Constituição. Hoje vemos um Congresso criando um orçamento secreto. O voto é uma procuração, que depois o político deveria prestar contas. Os nossos parlamentares pegam essa procuração e fazem o que bem entendem”, afirmou.

Sguarezi lembrou a grande experiência da democracia que fez parte da formação de Pato Branco, quando a população de ucranianos, alemães, poloneses e italianos, que aqui vieram após o pós-guerra de 1945, sempre tiveram uma relação de convivência respeitosa, apesar de suas diferenças políticas e respeitosas. Ele enfatizou que essa cultura fez com que na sua formação política, as pessoas que pensam diferente não são inimigos, mas apenas adversários políticos.

Ele contou o caso do seu padrinho de casamento, Ivo Tomazzoni, assim como o seu sogro Douglas Nascimento Cardoso (ARENA), eram seus adversários e nem por isso impedia-se de terem relações cordiais entre a família e amigos.

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