Filha do fotógrafo e cineasta italiano Ugo Lombardi e da atriz austríaca Yvonne Sandner, a carioca Bruna Patrizia Romilda Maria Teresa Lombardi é casada há mais de 40 anos com o também ator e diretor Carlos Alberto Riccelli, e são pais do Kim, um trio unido pelo sangue e por trabalhos em comum. Quanto a esse casamento tão longevo, atribui a fatores como proximidade, diálogo, cumplicidade.
Com relação ao momento atual de pandemia e o que ela tem provocado no País, Bruna não tem meio-termo, é direta: “É inadmissível que o Brasil passe fome, que exista miséria. Esse é um país rico e precisa de uma distribuição melhor, mais justa, mais humanitária e igualitária”.
Confira a seguir alguns pontos abordados na entrevista que Bruna Lombardi concedeu ao Estadão.
Novela de 1986, ‘Roda de Fogo’ mantém uma trama atual?
A novela Roda de Fogo foi um marco, porque era a primeira vez, mesmo durante uma censura que estava em ação no País, que um tema tão atual e tão forte era tratado na televisão. Ela foi a primeira a falar de lavagem de dinheiro e de corrupção da elite, temas que hoje são abundantes não só na dramaturgia, mas em todos os noticiários, o tempo inteiro. Ela provocou um impacto naquele momento e continua atual hoje. Claro que tudo isso sempre foi visto por uma dramaturgia que visa o romance acima de tudo, porque a força da novela é a intensidade da paixão. A minha personagem, Lúcia Brandão, é uma juíza incorruptível, com valores muito rígidos, que defende o bem, muito correta. Mas, de repente, ela se apaixona, e aí está seu ponto de fraqueza. Ou seja, ela se apaixona pela pessoa que tem de julgar.
Pessoas como o personagem Renato Villar (Tarcísio Meira) podem mudar por amor ou só uma doença consegue essa façanha?
Houve uma tentativa de ele se conscientizar pelo amor, mas acho que a ideia de ter uma doença é exatamente para que o vilão não se desse bem, porque, afinal de contas, esperamos algum tipo de justiça sempre, por mais que se veja tanta impunidade. Estamos sempre esperando que esse tipo de conduta, que tão mal faz ao nosso País, seja punido.
O que representou interpretar Diadorim, na minissérie ‘Grande Sertão: Veredas’ (1985)?
Diadorim é um grande privilégio, um grande prêmio para uma atriz! Eu já tinha lido, ainda na adolescência, o Grande Sertão, de Guimarães Rosa, e outros livros dele, e era muito fã. Fiquei extraordinariamente surpresa quando o (diretor Walter) Avancini me convidou para fazer Diadorim, porque eu não conseguia entender o que ele tinha visto em mim: eu achava que só podia fazer o Diadorim e que, se eu não quisesse fazer, ele cancelaria o projeto. Avancini dizia que eu tinha muitas ousadias, muita audácia, mas não enxergava isso em mim. Foi um trabalho de uma criação gigante, vivenciando aquele livro. Porque fomos para os verdadeiros lugares onde Guimarães escreveu. O Avancini era muito realista, vivemos no sertão como se fôssemos jagunços. Não tínhamos nenhum tipo de privilégio. E aquela restrição, naquele lugar tão básico da vida, me fez compreender muita coisa, foi uma grande viagem da alma mesmo.
O que é a Rede Felicidade?
A Rede Felicidade é um portal no qual muita gente colabora e dela fazem parte minhas redes sociais, como meu Instagram (@brunalombardioficial) e YouTube (youtube.com/brunalombardioficial). Fazemos grandes campanhas, desde animais abandonados até para povos indígenas de várias partes. Tentamos ser o mais abrangente possível, porque a felicidade não é só feita de você estar contente num instante, é feita de pequenas realizações diárias, e somos muito felizes ajudando pessoas. O que eu formo com a Rede Felicidade é uma forte corrente do bem. A gente faz pequenas diferenças diárias e isso é muito estimulante.
Como é falar de felicidade neste momento de tanta tristeza?
A ideia de falar de felicidade começou há um bom tempo e foi crescendo nas minhas redes sociais. Com a chegada de tempos sombrios, como esse agora de tamanho desafio, a palavra felicidade se tornou, sim, um ato de resistência. E o que eu fazia achando que era importante, agora faço achando que é imprescindível. Claro que a situação atual é gravíssima, não só por tudo que está acontecendo no mundo inteiro, mas no Brasil em particular: da maneira como está sendo conduzido, se transformou em um campeão de mortes e é um campeonato no qual a gente não desejava jamais ganhar tal título. Eu acho que, em momentos de tamanha crise, precisamos manter a nossa saúde mental em primeiro lugar, que está sendo abalada. Isso não quer dizer que não passaremos por momentos tristes, como a gente está passando com as mortes, as perdas. Como a perda de um cara tão simbólico na alegria como o Paulo Gustavo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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