Fazia um ano e meio que Covas lutava contra a doença que também matou o avô, em março de 2001. Na época, Bruno tinha 20 anos e já se preparava para assumir a herança política da família. Cinco anos antes, havia trocado sua casa em Santos, no litoral paulista, pelo Palácio dos Bandeirantes para concluir os estudos na capital.
Foi aprovado em duas faculdades ao mesmo tempo: Direito, na USP, e Economia, na PUC. Formou-se nas duas em um período de oito anos, época em que passou a experimentar seu potencial político em grêmios estudantis e já dentro de seu único partido.
Bruno se filiou ao PSDB aos 17 anos. Nessa época, era um jovem que já se destacava pela capacidade de mobilização. A “turma” que fez na base jovem do partido sempre o acompanhou. Os mais próximos – Fabio Lepique e Alexandre Modonesi – ocupam cargos-chave na administração municipal.
Antes de comandar a maior cidade da América Latina, Bruno foi eleito deputado estadual por duas vezes, deputado federal e vice-prefeito. Assumiu o posto de prefeito com a renúncia de João Doria (PSDB), em 2018, e depois se reelegeu como cabeça de chapa. Nisso, aliás, o neto superou o avô.
Mário Covas não chegou ao cargo por escolha popular. Foi o último prefeito biônico antes da democratização. Bruno seguia uma história parecida – era o vice na chapa vencedora de 2016 -, até ganhar a eleição em segundo turno, no ano passado, com 3,1 milhões de votos.
Desde criança, quando fez a carteira do Clube dos Tucaninhos, o objetivo de Covas sempre foi entrar na política, seguir os passos do avô e chegar ao Palácio do Planalto. “Quem começa como estagiário quer chegar a CEO. É o natural de qualquer carreira”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, durante a eleição de 2020.
Sua primeira atuação política mais direta se deu em junho de 2002, um ano após a morte do avô, quando agiu para barrar uma aliança tucana com Orestes Quércia, do então PMDB, que também buscava se aproximar do PT nas eleições estaduais. Quércia teve de conversar com o jovem político.
Se os ensinamentos do avô o seguiram por toda a vida, o mesmo não se pode dizer do temperamento. Contido, Bruno nunca foi um orador explosivo ou um político midiático. Pelo contrário. Tímido e disciplinado, o prefeito sempre calculou as palavras.
Sem colecionar inimigos e com o respaldo popular assegurado pelas urnas, Bruno estava no auge de sua carreira política. A eleição havia lhe dado confiança para começar a impor seu modo de governar e traçar o futuro. Diferentemente de Doria, considerava-se “PSDB raiz”. Até 2024 havia projetado cumprir 75 metas de governo, como 12 novos CEUs.
Mas os planos como prefeito eleito só duraram dois meses. Em fevereiro, os médicos de Covas descobriram novos tumores, e a quimioterapia, que havia sido trocada por imunoterapia (menos agressiva) ao longo de 2020, recomeçou. Dois meses depois, outros exames indicaram metástase nos ossos. Debilitado, precisou tratar complicações como água no pulmão e sangramento na cárdia.
Transparência
A evolução da doença foi exposta aos eleitores. Covas liberou sua equipe a informar diariamente a imprensa de sua situação clínica e pediu aos médicos que atendessem jornalistas. A prática se tornou mais comum a partir de abril, quando cinco tumores foram identificados no fígado, um nos ossos da coluna e outro nos ossos da bacia.
Até esse momento, aliados mantinham-se esperançosos com a possibilidade de cura.
As metástases e o sangramento na cárdia, no entanto, abalaram a confiança até mesmo dos médicos, e a palavra sobrevida passou a compor o repertório de quem acompanhava o prefeito mais de perto.
Já com dores e cada vez mais debilitado, o tucano pediu licença do cargo num domingo, 2 de maio, e foi internado no Hospital Sírio-Libanês. Na ocasião, disse pelas redes sociais que a “vida havia lhe apresentado enormes desafios” e que, diante dos novos focos da doença, “seu corpo estava exigindo mais dedicação ao tratamento, que entrava numa fase muito rigorosa”. Não saiu mais do hospital. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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