Leandro Freitas Tonial*
O bruxismo é um hábito parafuncional, que vem sendo muito estudado nos dias atuais, com muitas controvérsias a respeito de sua etiologia, tratamento, prevalência, bem como implicações clínicas. Essa parafunção pode se manifestar sob a forma de ranger os dentes ou apertamento dental.
A sua etiologia é decididamente multifatorial, estando fortemente correlacionada a fatores emocionais e a eventos de estresse experimentados pelos indivíduos. Dentre os principais sinais e sintomas apresentados pelos pacientes, pode-se destacar a hipertrofia muscular, presença de desgaste nas bordas incisais dos dentes anteriores, facetas dentais polidas e dolorimento da musculatura facial.
Podemos classificar o bruxismo como bruxismo do sono e bruxismo em vigília. O bruxismo do sono, é caracterizado como uma desordem de movimentos associados ao ranger e/ou apertar de dentes durante o sono, decorrentes de contração rítmica dos músculos mastigatórios. Essa condição não é considerada uma doença, mas quando exacerbada pode ocasionar desequilíbrio e alteração das estruturas orofaciais. Dessa forma, surge a necessidade de se obter terapêuticas efetivas e seguras para o controle. Já o bruxismo em vigília, é descrito como uma atividade parafuncional caracterizada por apertamento dental durante o período que o paciente está acordado e é associada a contrações prolongadas dos músculos da mastigação.
Segundo texto publicado pela Associação Brasileira de Odontologia, intitulado, Bruxismo e DTM em tempos da covd-19, o impacto da covid-19 na esfera psicológica, tem sido estudada globalmente e estudos tendem a demonstrar o crescimento da percepção de ansiedade de moderada a severa.
Espera-se assim a ocorrência de sinais e sintomas pós-pandêmicos (e podemos dizer que em face de seu prolongamento, trans-pandêmicos também) de dores orofaciais crônicas, incluindo disfunções temporomandibulares, em padrão semelhante ao da síndrome de estresse pós-traumático. Ressalta-se a importância desses fatores psicológicos, tais como ansiedade e depressão, no surgimento, manutenção ou agravamento das Disfunções Temporomandibulares (DTM), sobretudo nos pacientes que apresentam DTM muscular que em grande parte apresentam “dor” como queixa principal.
Por bruxismo entendemos como uma “atividade muscular mastigatória repetitiva” que pode ou não levar a consequências desagradáveis. Esse bruxismo pode ser dividido em Bruxismo do Sono ou Bruxismo em Vigília. Há uma fraca (ou mesmo inexistente) relação causal entre o bruxismo do sono e as alterações psicológicas e sociais; por outro lado, o bruxismo em vigília parece estar intimamente ligado a estas. Pacientes com altos níveis de estresse podem apresentar até 6x mais chance de relato de bruxismo de vigília. O bruxismo de vigília também é um fator de risco para início e perpetuação das DTM, principalmente as musculares.
Conforme uma revisão de literatura realizada pela Research, Society and Development, a pandemia da COVID-19 pode estar associada ao aumento de sintomas psicológicos como ansiedade e depressão em virtude do período de isolamento social. Esses sintomas possuem associação as disfunções temporomandibulares e bruxismo levando ao surgimento e desenvolvimento de ambas afecções. Outros estudos epidemiológicos devem ser conduzidos para enfatizar ainda mais esta associação e possibilitar diagnósticos e tratamentos mais satisfatórios aos pacientes.
Como podemos perceber, muitos estudos apontam a pandemia como um fator de aumento de stress, apreensão, e consequentemente aumento do bruxismo em vigília. Já a relação entre o bruxismo do sono e ansiedade e stress, ainda encontramos estudos contraditórios.
Sendo assim, torna-se importante diferenciarmos os dois tipos de bruxismo e ver como amenizar os sintomas durante esse período que passamos.
Para melhora dos sintomas no bruxismo de vigília, o paciente deve estar atento que durante o dia tem apertado os dentes com frequência, e deve abrir a boca e desencostar os dentes quando perceber que isto está acontecendo. Existem aplicativos que podem ser instalados em celulares, que auxiliam os pacientes através de mensagens falando para o mesmo desencostar os dentes. Outra forma do paciente correlacionar o bruxismo é a colocação de post it em locais que ele enxerga para que quando visualizar o mesmo desencoste os dentes.
Para o bruxismo do sono, não existe um tratamento definitivo, mas o cirurgião dentista especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, pode auxiliar o paciente através de alguns métodos para diminuição dos sinais e sintomas desta parafunção. Dentre estes métodos destacamos o aconselhamento ao paciente, mudança de hábitos, termoterapia, eletroterapia e placas interoclusais.
Reforçando essa ideia, Adriana Lira, membro da Sociedade Brasileira de Disfunção temporomandibular e Dor Orofacial, indica alguns tratamentos paliativos para alívio das dores. “Meditação, técnicas de relaxamento e atividade física ajudam a aliviar quadros dolorosos que podem acompanhar a DTM. Já para o bruxismo em vigília, o paciente pode lançar mão de técnicas recordatórias para relaxar os músculos, que podem ser adesivos, bilhetes ou aplicativos desenvolvidos com essa finalidade.”
Sentindo algum dos sintomas acima relatados, procure um profissional especializado nesta área para uma melhor qualidade de vida.
*Leandro Freitas Tonial é especialista em DTM e Dor Orofacial, mestrando em DTM e Dor Orofacial na SLMANDIC São Paulo-SP e membro da Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial,