Flori Antonio Tasca
Em editorial da “Revista Brasileira de Educação Médica” de abril de 2006, Marisa Palacios e Sergio Rego chamaram a atenção para a existência de bullying na escola médica. Os dois deram ao bullying um conceito mais amplo, à medida que incluíam não apenas o espaço educacional propriamente dito, mas também o espaço de trabalho, já que, na escola médica, esses ambientes se encontram integrados. Dessa maneira, pode haver uma relação entre o bullying estudantil e o conceito de assédio moral no trabalho.
Eles citaram uma pesquisa feita no Rio de Janeiro que evidenciou a violência existente entre profissionais de saúde. Comportamentos ofensivos e humilhantes, com o intuito de desqualificar ou desmoralizar, foram observados em relações de desnível de poder, e que, a exemplo do bullying tradicional, aconteciam repetidas vezes. Apesar disso, o tema do bullying, dizem os autores, ainda estava praticamente ausente nas discussões de congressos e mesmo na revista em que escreviam. No máximo, se cogitava de trotes. Eles sugeriram, portanto que era preciso reconhecer o problema e disseminar essa percepção.
Ressaltando a frequência e a relevância do tema, eles citaram um estudo britânico segundo o qual um terço dos estudantes de Medicina ouvidos havia sofrido bullying, sendo um em cada quatro deles vitimado por um médico e um em cada seis por um enfermeiro. As formas de bullying iam de discriminação racial e sexual a humilhações na frente de pacientes, e às vezes até na sala de cirurgia. No Brasil, há uma percepção de estudantes de medicina de que há professores que também não respeitam os alunos.
Os autores do texto não queriam, com isso, colocar a responsabilidade sobre os ombros dos professores, mas assinalar com clareza que o bullying não é apenas um problema dos alunos e nem o resultado natural de uma competição. Eles defenderam que a escola médica tivesse uma posição muito clara de enfrentamento ao problema, contribuindo assim para romper a espiral de violência que se repetia ano após ano.
Os valores que são ensinados na formação profissional não podem valer apenas na relação entre médico e paciente, mas também entre colegas. Foi sustentado ainda que a formação moral deve ser uma preocupação da escola e que uma política de “tolerância zero” com o bullying deve ser implantada, qualquer que seja a origem da intimidação sistemática. A busca por solução deve vir tanto das direções de faculdades de Medicina, de hospitais e de demais espaços de ensino como de diretórios acadêmicos, associações de docentes, sindicatos, etc. Ou seja, não é, nem pode ser, tarefa de apenas um grupo social, mas de todos.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br