Por Rosel Beraldo e Arnor Sganzerla
O mundo após a vinda não tão misteriosa do ser invisível parece que dá ares de não fazer bem o que fazer com a sua existência, para onde quer que se vá a impressão que temos é que em todas as áreas desaprendemos alguma coisa, antes parecia que éramos invencíveis, foi-nos inoculado o vírus de que podíamos tudo, que éramos já praticamente deuses, com poder de vida e morte sobre tudo e todos, muitos cultivavam uma arrogância fora de qualquer controle. Mas agora, num choque repentino nos deparamos com a nossa pequenez, a imprevisibilidade glocal; seja quem for, pobres, ricos ou milionários, todos estamos sujeitos a inúmeros dissaboresque estão muito além das nossas capacidades, hoje é comum as pessoas dizerem que somos apenas um grão de areia nesse turbilhão de acontecimentos, apesar de tudo, a vida merece sim ser vivida e respeitada, amada, bendita.
Absolutamente ninguém está nesse belo mundo a passeio, sendo assim em nossa caminhada não estamos livres de problemas, sejam corriqueiros ou altamente elaborados, cada fase existencial nossa é feita daqueles altos e baixos, jamais tudo sairá como gostaríamos, de tanto darmos atenção aos artefatos técnicos acabamos deixando de lado a nossa imaginação, a nossa arte de pensar nas coisas boas da vida, esquecemos com uma facilidade extrema que precisamos nos conectar com os outros e com a natureza em geral. O resultado dessa pseudo autossuficiência levou muitas pessoas a cometerem atos bárbaros de violência, atingindo famílias inteiras, faltou-lhes paciência, complicaram demais a sua existência, não confiaram seus problemas para uma pessoa próxima capaz de lhes dar ajuda, muitos desejaram a perfeição, mas encontraram sim os entraves costumeiros.
O mês de setembro é dedicado a um tema muito delicado, qual seja, o suicídio, quando isso ocorre numa família qualquer, é um acontecimento devastador, difícil de ser superado, jamais podemos aplaudir e muito menos amaldiçoar quem praticou o suicídio, ele não é sinal de esperteza, superioridade ou muito menos de “genialidade”, esse gesto pode acontecer nas famílias mais normais que conhecemos, como naquelas destroçadas por esse ou aquele motivo, o suicídio diz respeito apenas e tão somente aos seres humanos. Quem perde uma pessoa querida pelo suicídio não quer saber de teorias ou as mais altas elucubrações sobre esse tema tão candente entre nós, tão antigo, mas tão atual como nunca, há muitas hipóteses a respeito, muitos estudos em andamento, mas nunca chegaremos a uma conclusão sobre ele; eternamente vão pairar perguntas irrespondíveis.
O estilo de vida “moderno” que a sociedade tomou para si como sendo aquele mais apto para nossa espécie pode ser um fator de contribuição para o suicídio, a vida “moderna” impõe a todos somente o sucesso, a fama, a grandeza, sempre ser o primeiro em tudo, não depender de absolutamente nada, subcelebridades, estrelas do mundo do futebol, do cinema, das finanças, são mostrados como aqueles que realmente devem ser adorados e bajulados o tempo todo, que todos devem ser como eles e quem não for como eles estará condenado a uma vida medíocre e sem sentido, excluído do convívio social e digno de viver no ostracismo para sempre. Mas a maioria esmagadora não consegue sequer o mínimo necessário para sobreviver; vamos trazer ao nosso pensamento a tragédia inominável do Rio Grande do Sul nesse momento, diante dela nossas aspirações mesquinhas se calam.
O suicídio é uma daquelas sombras que pairam aqui e ali, vinte e quatro horas por dia, ainda não nos preparamos de modo suficiente para enfrentá-lo, na escola da vida ainda falta muito para nos tornarmos diplomatas especialistas na arte de viver e ajudar o outro, quando ocorre um suicido em nosso meio, notamos que os problemas que aquela pessoa tinha, não foram solucionados com esse gesto, pelo contrário, eles se avolumaram e pior ainda, os que ficaram é que terão que arcar com eles além de toda a dor que o suicídio aflora. Escapar das “surpresas” da vida, nunca foi e nunca será a melhor solução, isso vale para qualquer um, uns lidam melhor com isso e outros não, os diferentes extremismos que abundam em nossa sociedade é um sinal de fraqueza e até mesmo de covardia, deixa em muitos a marca da inutilidade, do vazio, da desilusão, por isso resolvem então tirar a vida.
Bioeticamente, o suicídio é um dos grandes problemas mundiais que merece ser levado a sério por todos nós, todas as áreas do saber humano deveriam pensar mais nele, dar mais atenção a tudo o que nele está envolvido, parentes próximos, esposa, marido e filhos, amigos próximos ou distantes, a sociedade no seu todo sofre de um modo ou de outro todas as consequências de um suicídio. Nosso meio social ainda é muito egoísta ao tratar do tema suicídio, tem para com ele muitos preconceitos, o que é uma lástima, ainda bem que já temos campanhas e instituições sérias que tratam esse tema com propriedade e competência, qualquer um de nós pode ser um ator em potencial para contribuir para que esse problema deixe de existir, isso envolve muita empatia, solidariedade; sejamos realistas para nós mesmos: cada um de nós já teve alguém próximo ou distante que pôs fim a sua vida, com o passar do tempo fomos descobrindo as pistas que eles deixaram, os sinais de ajuda que pediram; deixaram em cada um de nós muitas pulgas atrás das nossas orelhas.
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