Os cientistas da Química apontam falta de diálogo com a presidência da Capes e pouco compromisso desta com a principal avaliação conduzida pela instituição: a aavaliação quadrienal, que periodicamente confere a qualidade dos cursos de pós no País. Também reclamam que o processo para a abertura de novos cursos de pós-graduação tenha caminhado antes que a avaliação dos cursos já existentes possa ser retomada.
“Entendemos que a inexistência de uma política nacional de pós-graduação formalizada torna todo o sistema frágil, no sentido de que diagnósticos, metas e desafios estratégicos não estão disponíveis para toda a comunidade. Também não se pode mais falar em um verdadeiro diálogo”, escreveram os cientistas da Química em carta de renúncia, obtida pelo Estadão.
A Capes é uma agência de fomento à pesquisa, ligada ao Ministério da Educação (MEC), que tem como missão avaliar os cursos de pós-graduação no Brasil. Desde abril deste ano, é presidida pela reitora do Centro Universitário de Bauru, Claudia Mansani Queda de Toledo.
O pedido de renúncia desta quarta foi feito por três coordenadores e 25 consultores ligados à área de Química. O Estadão apurou que houve uma conversa entre Claudia e os coordenadores na terça-feira, mas os pesquisadores não notaram mudanças.
Para conduzir as avaliações dos cursos de pós, são montadas comissões em cada uma das áreas do conhecimento. Há 49 áreas de avaliação na Capes. Em cada uma delas, são convocados, por meio de um processo público, três coordenadores que têm um mandato de quatro anos. Esses coordenadores, por sua vez, contratam consultores especialistas em suas áreas.
Na carta de renúncia, os pesquisadores da Química lembram que a atuação das coordenações de área e dos consultores é um trabalho voluntário. “Aceitamos de bom grado colaborar com a Capes, sabendo que uma avaliação indutiva e formadora é o caminho para melhora a qualidade na formação de recursos humanos para o país, na produção de conhecimento e na transferência desse conhecimento para a sociedade”, afirmam.
Segundo o grupo, a pós-graduação sempre foi tratada como uma “política de estado e não de governo”, mas isso mudou na atual gestão. Os pesquisadores dizem que falta compromisso com a avaliação quadrienal e há inércia na tomada de ações necessárias para a retomada do processo, paralisado por questões judiciais. Outro ponto questionado é um pedido de documento para submissão de propostas de pós-graduação a distância.
“Uma boa parte das áreas, incluída a Química, tem pouca ou nenhuma experiência em EaD. A elaboração de tais documentos, em tempo tão exíguo, deveria ter sido precedida de uma ampla discussão com diferentes atores, se EaD na pós-graduação se aplica a todas as áreas e o que seria importante para fomentar sua implantação com a devida qualidade”, escrevem.
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