Na carta, o menino Gustavo desenhou uma bicicleta, os anéis olímpicos e a bandeira do Brasil. E escreveu de próprio punho para a atleta. “Estou escrevendo para te desejar uma ótima competição e dizer que estou na torcida para uma medalha”, afirmou o garoto, que é de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Para Jaqueline, esse é um combustível para fazer sua bicicleta andar mais rápido. “Sou conhecida como atleta bem acessível, gosto de conversar de igual pra igual. As pessoas já me conhecem como alguém assim. O Gugu escreveu a carta, é uma criança apaixonada por mountain bike e tem eu e o Avancini como ídolos. Esse é meu combustível, quero inspirar as pessoas.”
Aos 45 anos, ela compete na terça-feira às 3h (horário de Brasília). “Estar no esporte por tanto tempo é por amor. Enquanto tem isso, aquela vontade de ter uma performance, você continua em alto rendimento. Tem pesquisas que mostram que fisiologicamente a mulher perde muito pouco até os 50 anos. Então nunca pensei na minha idade como se fosse algo que pudesse me limitar.”
A atleta chega à sua sétima Olimpíada igualando o recorde de participações de Robert Scheidt (vela), Formiga (futebol) e Rodrigo Pessoa (hipismo). Sua estreia foi em Atenas-2004 no MTB e participou em Pequim-2008. E esteve nos Jogos de Inverno de Turim-2006, Vancouver-2010, Sochi-2014 e PyeongChang-2018 no esqui cross-country (e em Sochi também no biatlo).
“Eu tenho tanta felicidade de poder representar meu país em sete Olimpíadas. É fazer história e festejar minha trajetória de abrir portas, de encarar o desconhecido. Minha presença aqui coroa a versatilidade e a vontade de romper barreiras. Eu tenho muita admiração por todos os atletas que estão indo para a sétima Olimpíada. Cada um tem sua história, é uma honra estar neste grupo”, comentou.
Para ela, esta será uma edição olímpica com muitas restrições e cheia de peculiaridades. “É uma Olimpíada bem diferente das que eu pude participar. Tem a pandemia, tive dificuldade de conseguir fazer o treinamento, precisei me adaptar a tudo. Acredito que vai ser a Olimpíada da esperança, mas estamos aqui para lutar. Muitos atletas não tiveram condições de treinar. Eu mesma não tive acesso à sala de musculação, precisei equilibrar o calendário. Mas tudo isso mostra resiliência dos atletas, que lutam contra todos os imprevistos.”
A prova de mountain bike é bastante física e até por isso Jaqueline precisou se reinventar para poder chegar a mais uma edição dos Jogos, ainda mais que sua última participação na modalidade foi 13 anos atrás. “Eu terminei minha carreira em 2008, magoada e chateada. Aí em 2018 resolvi voltar, foi pessoal. Consegui os pontos e de repente estava largando na Copa do Mundo para tirar esse ‘se’ da cabeça.”
Para além do esporte, Jaqueline escreveu um livro infantil, A menina que sonhava seguir o pôr do sol, no qual relata suas experiências olímpicas. Agora, espera ter mais histórias para contar.
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