Caso de varíola dos macacos no Brasil é questão de tempo

Novos casos da varíola dos macacos estão surgindo em vários países e preocupando autoridades de saúde. A varíola dos macacos é uma zoonose silvestre (ou seja, um vírus que infecta macacos, mas que incidentalmente pode contaminar humanos) que ocorre geralmente em regiões de floresta da África Central e Ocidental.

No entanto, há casos relatados na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, e eles parecem não ter relação com as regiões africanas, o que pode indicar uma possível transmissão comunitária do vírus. Já são mais de 100 registros em diferentes países de pacientes que não necessariamente apresentam histórico de viagem para a África Ocidental, onde a doença é endêmica.

Conforme a médica infectologista Susane Marafon, ao contrário do coronavírus ou até mesmo da varíola humana, a varíola dos macacos é menos contagiosa, principalmente entre humanos. “Ainda temos poucas informações de como ocorre a rota de transmissão nos surtos atuais. O que sabemos até agora é que a transmissão ocorre por contato próximo e troca de fluidos corporais, até ligados à transmissão sexual”, informa.

Susane diz ainda que as autoridades médicas internacionais afirmam que a chance de uma transmissão descontrolada, como uma pandemia, são baixas, e a letalidade também é baixa, diferente da varíola humana.

A médica diz que o Brasil ainda não registrou nenhum caso suspeito da doença, mas lembra que a transmissão se dá pelas vias aéreas e pelo contato físico. “Em um mundo globalizado, em que você pega um avião e poucas horas depois já está em outro país, é muito provável que sej uma questão de tempo para termos um ou mais diagnósticos aqui no Brasil, como já temos no nosso país vizinho, a Argentina”, alerta.

Sintomas

Entre os sintomas, a infectologista diz que podem aparecer febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, aumento dos linfonodos, calafrios e fraqueza. As lesões de pele geralmente aparecem no rosto e depois se espalha para outras partes do corpo, incluindo os órgãos genitais. Os casos atuais apresenta predominância na área genital. “As lesões da varíola do macaco são parecidas com várias doenças que ainda circulam, como a catapora ou lesões de sífilis. Além delas, temos as lesões de herpes labial, genital ou zoster, com a diferença que, nesta doença, o paciente apresenta muita dor no local. Mas no atual cenário, todo paciente que apresenta história de viagem internacional, com quadro de febre, mal estar, linfonodomegalia e lesões de pele que iniciam como manchas avermelhadas e evoluem para ‘bolinhas de água’, deve ser tratado como suspeito para varíola do macaco”, indica.

A melhor maneira de se proteger da varíola dos macacos é evitar o contato com animais selvagens e praticar uma boa higiene, como limpeza das mãos com água e sabão ou álcool em gel. Os viajantes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos, como roedores, marsupiais e primatas, e não devem comer caça selvagem. Além disso, não se deve ter contato com pessoas infectadas ou usar objetos de pessoas contaminadas e com lesões na pele.

“Gostaria de deixar um recado para o leitor que viajou ou que teve contato com alguém que veio do exterior e apresenta um quadro de febre, mal-estar, gânglio e lesões vermelhas ou pequenas bolinhas na pele: procure orientação médica para melhor conduta e investigação”, finaliza.

Erradicação

A varíola humana se tornou a primeira doença erradicada da história, há mais de 40 anos, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou seu fim em 1980, após uma bem-sucedida campanha de vacinação global. Esse fato, reforça a importância das campanhas vacinais para a erradicação das doenças infectocontagiosas.

Susane Marafon é médica infectologista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com residência médica pelo Hospital Universitário Julio Muller (UFMT). Atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Instituto Policlínica Pato Branco (IPPB) e no Hospital Santa Pelizzari, em Palmas. é docente pela Unidep e atendo em seu consultório, que fica no Alda Instituto de Saúde.
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