O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou, nesta sexta-feira (6), o relatório preliminar sobre o acidente aéreo ocorrido no dia 9 de agosto, em Vinhedo (SP), envolvendo uma aeronave modelo ATR 72 da companhia Voepass. O acidente resultou na morte de 62 pessoas, entre passageiros e tripulantes.
Conversas na Cabine e Possível Falha no Sistema Anti-Gelo
A análise do gravador de voz da cabine revelou que os tripulantes conversaram sobre uma possível falha no sistema de “de-icing”, responsável por proteger a aeronave contra a formação de gelo nas asas. O gravador de dados mostrou que o sistema de “airframe de-icing” foi ativado e desativado várias vezes durante o voo, mas ainda não está claro se o desligamento foi causado por uma falha técnica ou pela própria tripulação.
Segundo o tenente-coronel aviador Paulo Mendes Fróes, investigador responsável pelo caso, o piloto mencionou, em dois momentos distintos, problemas no sistema de de-icing. O co-piloto também comentou sobre a quantidade significativa de gelo acumulado, utilizando a expressão: “Bastante gelo”.
Condições Meteorológicas e Fatores Contribuintes
No momento do voo, a aeronave enfrentava formação de gelo severa devido à alta umidade combinada com temperaturas abaixo de 0°C, que afetava áreas entre o centro-norte do Paraná e São Paulo. Embora a aeronave estivesse certificada para operar em tais condições e a tripulação fosse experiente e qualificada, não houve declaração de emergência durante o voo.
Os investigadores também ressaltaram que as informações meteorológicas estavam disponíveis antes da decolagem e indicavam condições desfavoráveis à formação de gelo na rota.
Próximas Etapas da Investigação
A investigação segue três principais linhas de ação:
- Fator humano: Foco no desempenho da tripulação diante da situação adversa.
- Fator material: Avaliação das condições de aeronavegabilidade, com ênfase nos sistemas de anti-icing e de-icing.
- Fator operacional: Análise do ambiente operacional e das condições que podem ter levado ao acidente.
De acordo com o brigadeiro do ar Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, o relatório final será entregue assim que todas as informações factuais forem analisadas, mas poderá sofrer atualizações conforme novos dados forem descobertos. A investigação não busca estabelecer culpa, mas identificar fatores contribuintes que possam elucidar questões técnicas.
O Acidente
O voo 2283 decolou de Cascavel (PR) às 11h58 com destino ao Aeroporto de Guarulhos. O voo transcorria normalmente até às 13h21, quando a aeronave deixou de responder ao Controle de Aproximação de São Paulo. O último contato do radar ocorreu às 13h21, e a colisão com o solo foi registrada às 13h22.
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A aeronave estava registrada na Categoria de Transporte Aéreo Público Regular (TPR), equipada para operar em condições adversas, incluindo formações de gelo.
Contexto Legal
O Cenipa esclareceu que as investigações seguem o Decreto nº 9.540/2018, cujo objetivo não é estabelecer responsabilidade ou culpa, mas sim identificar possíveis fatores contribuintes para aprimorar a segurança operacional.
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