Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, anualmente, o INEP (Instituto Educacional Anísio Teixeira), realiza o chamado Censo Escolar, que é uma pesquisa nacional sobre a situação da escola de educação básica brasileira, abrangendo, portanto, da educação infantil ao ensino médio. O levantamento de dados, neste ano ocorreu, em sua segunda etapa, entre os meses de fevereiro a maio e o resultado foi divulgado na quinta-feira, dia 08 de julho.
A pesquisa dessa etapa e ano, foi realizada com o intuito de compreender a possível “Resposta educacional à pandemia de covid-19 no Brasil”.
A pesquisa apresenta dados sobre os impactos e as respostas educacionais decorrentes da pandemia de covid-19, em todas as escolas de educação básica brasileira, na perspectiva de entender como as escolas enfrentaram a pandeia e que ações desenvolveram para garantir os direitos de aprendizagem dos alunos.
Para obter respostas que pudessem sinalizar o que, de fato, ocorreu na educação básica brasileira, o Inep elaborou um formulário específico para saber quais estratégias de ensino aprendizagem foram adotas e como está a situação educacional no país, numa tentativa de traçar, a partir das respostas, ações que possam garantir que os direitos de aprendizagem nos anos letivos de 2020 e 2021 sejam efetivamente assegurados a todos os alunos. Abaixo, reproduzo os dados divulgados e faço uma tentativa de compreensão dos principais itens.
Para o presidente do Inep, Danilo Dupas, foram coletadas informações consideradas inéditas sobre como as escolas e as redes de ensino responderam ao desafio de continuar ensinando na pandemia, especialmente no ano letivo de 2020. Para ele, “A pesquisa permite compreender as estratégias adotadas pelas escolas para continuar ensinando e avaliando os estudantes da educação básica. Os resultados, de caráter censitário, podem auxiliar o Ministério de Educação (MEC) e os secretários estaduais e municipais de ensino na tomada assertiva de decisões. É este o papel do Inep: gerar informações relevantes para o planejamento de ações de enfrentamento e políticas educacionais”.
De acordo com os dados apresentados pelo INEP, 94% (168.739) das escolas responderam ao questionário aplicado pelo Inep por meio do Censo Escolar. O percentual corresponde a 97,2% (134.606) e 83,2% (34.133) das redes pública e privada, respectivamente. Esse dado é de extrema importância, uma vez que representa a quase totalidade do universo de escolas de educação básica brasileira e, como consequência os dados são fidedignos.
A real situação que a pandemia demandou foi a suspensão das atividades presenciais em 99,3% das escolas de todas as redes, ou seja, houve uma paralisação praticamente total de todas as instituições de ensino na modalidade presencial.
Diante disso, como se sabe, o ano letivo de 2020, foi “ajustado”, na verdade, escola por escola, dependendo do contexto de cada uma. E, como se sabe, também, a introdução de aulas remotas, sejam síncronas ou assíncronas, ou atividades a serem retiradas nas escolas, foi o que prevaleceu, pois, de alguma forma as escolas precisavam dar “continuidade” ao processo de ensino e aprendizagem.
Os dados revelam que, em 2020, 90,1% das escolas de educação básica não retornaram às atividades presenciais, num contexto que levou 98% das escolas brasileiras à aderirem às atividades de ensino não presenciais.
Se, com relação aos alunos, a novidade trouxe angústias, incertezas, dúvidas e até muito desânimo e sentimento de fracasso, não foi diferente com os professores.
Mesmo que as escolas, a grande maioria delas, tenha tentado se programar, e adotado estratégias de alguma preparação e planejamento por meio de reuniões virtuais, não era essa a rotina dos docentes. Inclusive porque, a grande maioria das escolas não tinha a prática de algum trabalho complementar por meio de atividades remotas ou pelas redes sociais. Muitíssimos professores se sentiram à deriva, pois não estavam e, muitos ainda não estão, acostumados ao ensino não presencial.
Um dado revelador disso é que nas escolas das redes estaduais, 79,9% das escolas fizeram algum tipo de formação ou treinamento para os professores enquanto que, nas redes municipais, esse índice cai para 53,7%.
Outra situação que demonstra o quanto se perdeu em termos de ensino e aprendizagem e que as escolas são carentes de equipamentos, é que apenas 43,4% das escolas das redes estaduais disponibilizaram equipamentos, como computador, notebooks, tablets e smartphones, aos docentes e nas redes municipais esse percentual é de meros 19,7%, e talvez aí resida a grande questão do ensino e da aprendizagem nas escolas brasileiras. E, mais que isso, revela o quanto o Ministério da Educação precisa planejar ações de planejamento e políticas públicas pois os mais prejudicados foram exatamente os alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, a base da educação básica.
Corroborando com essa interpretação, os dados referentes às aulas síncronas, ou seja, as aulas ao vivo, a pesquisa do Inep mostra que em 2.142 cidades brasileiras nenhuma das escolas municipais implementou essa modalidade e que em apenas 592 cidades, todas as escolas da rede municipal adotaram essa estratégia.
O que inquieta, é: como se pode dizer que houve, de fato, ensino e aprendizagem diante desses índices? Até que ponto as escolas cumpriram com a legislação escolar, especialmente com os direitos de aprendizagem dos alunos em 2020? Em que medida se poderia implementar o ano letivo de 2021 diante dos dados apresentados pela pesquisa? Como se pode pensar em prosseguir sem se ter clareza de como foi que os alunos aprenderam, o que eles, de fato aprenderam, e que base terão para prosseguir seus estudos com aproveitamento razoável, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental? Pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei