Noventa segundos. Para Steven Soderbergh, é o que bastaria para o Oscar convencer os telespectadores de que a cerimônia transmitida pela TV é diferente.
O conceito da premiação, que Soderbergh produz com Stacey Sher e Jesse Collins, é tratar a cerimônia não como um programa de TV, mas como um filme. E ele está convencido de que tem uma cena de abertura incomparável. “Vamos anunciar nossas intenções imediatamente”, disse Soderbergh. “As pessoas dirão, Nossa, é melhor colocar o cinto de segurança.”
Mudar o Oscar, uma instituição americana de 93 anos, tem se mostrado repetidamente um exercício inútil. Algumas reviravoltas foram tentadas ao longo do tempo, porém o formato básico permanece teimosamente imutável. Mas, este ano, a pandemia abalou o Oscar como nunca antes. Quando a transmissão começar a partir das 21h (horário de Brasília), no canal TNT, no domingo, 25, não haverá público. A casa que receberá o show não será o lar regular do Oscar, o Dolby Theatre (embora o Dolby continue sendo um local importante), mas a Union Station, o arejado edifício Art Déco californiano que funcionava como estação de trem no centro de Los Angeles.
Para os produtores, os desafios da covid são uma oportunidade de finalmente repensar o Oscar. “Em qualquer etapa do processo criativo de produção de um filme, quando pergunto por que algo será feito de certa maneira e a resposta é porque foi feito desta maneira, encaro isso como um verdadeiro sinal de alerta”, disse Soderbergh. “Este ano, todos nós aproveitamos a oportunidade apresentada para realmente desafiar essas ideias preconcebidas em relação às premiações.”
Independentemente do quanto seja bom o trabalho deles, a audiência quase certamente cairá em relação aos 23,6 milhões de telespectadores do ano passado. O nível de audiência para os prêmios diminuiu durante a pandemia e, este ano, os indicados ao Oscar, apesar de estarem amplamente disponíveis em streaming e serem mais diversificados do que nunca, carecem da expectativa que um ano normal costuma gerar. Soderbergh saudou os indicados ao melhor filme como “um dos grupos de filmes mais autorais”.
“Mesmo quando as equipes no Super Bowl são de pequenos mercados, ainda temos um grande jogo e as pessoas ainda se importam com o resultado”, disse Collins, que produziu o show do The Weeknd no intervalo do Super Bowl deste ano.
Collins também foi produtor do Grammy no mês passado, uma cerimônia transmitida pela TV que recebeu elogios por seu toque pessoal e liberdade de atuação. Esse senso de comunidade é algo que o Oscar também deseja exalar. “Meu grande problema sempre foi a falta de intimidade. Não parece algo pessoal”, disse Soderbergh a respeito da cerimônia de premiação. “Estamos no mundo da covid. Tem que ser assim: indicados, convidados, apresentadores, e isso é tudo. Eles são as únicas pessoas permitidas na sala. Esse foi apenas um raro alinhamento catastrófico, e minha preocupação pessoal.”
É quase certo que o Oscar será muito diferente do Globo de Ouro, realizado de forma majoritariamente virtual. Os produtores se manifestaram contra o Zoom e as roupas casuais. Estamos falando do Oscar, afinal: não haverá discursos de agradecimento feitos em roupas esportivas. Os produtores pressionaram os indicados a comparecerem pessoalmente, seguindo medidas de segurança.
Alguns ficaram furiosos com a postura da Academia – já que, em alguns países, ainda há lockdowns, e os altos índices de contágio persistem na Europa e em outros lugares -, o que levou à busca de acordos. Haverá um centro para indicados em Londres e, conforme anunciado no final da semana passada, também haverá links de participação via satélite. Parte do material será pré-gravado, e cada indicado passou 45 minutos com os produtores.
Soderbergh vê a cerimônia como um filme de três horas, não um webinar. Mas o que isso significa exatamente? Se o Oscar fosse um filme, que tipo de filme seria? Ele é o diretor de Onze Homens e um Segredo e Logan Lucky, então, deveríamos esperar um filme de policiais e ladrões?
“A sensação será a de um filme onde há um tema dominante que é expresso de diferentes maneiras ao longo do espetáculo. Portanto, os apresentadores são essencialmente os narradores de cada capítulo”, disse Soderbergh.
“Queremos que eles sintam que não é um programa feito para uma instituição. Queremos que sintam que estão assistindo a um programa feito por um pequeno grupo de pessoas que realmente procurou demolir tudo que pareça genérico, ou desnecessário, ou insincero. Esse é o tipo de intenção de que sinto falta quando assisto a programas como este. Uma voz, deve haver uma voz específica.”
Do ponto de vista técnico, a transmissão terá uma aparência mais Widescreen e uma abordagem mais cinematográfica para a música. Questlove é o diretor musical da cerimônia e os apresentadores são considerados um grupo. Uma coisa que você não verá, diz Collins, é o clássico papo furado antes da entrega de um prêmio.
“Quando virmos os membros do elenco chegando para apresentar os prêmios, veremos uma conexão”, disse Collins. “Não serão duas pessoas caminhando que acabam de se conhecer no camarim e têm dificuldade em acompanhar o teleprompter.”
Definitivamente, estamos falando de muitos feitos significativos em meio às condições e restrições em constante mudança ligadas à covid-19. A logística é “tediosa”, disse Soderbergh. Os egos são outro componente fascinante. “É um capítulo para ser lembrado, sem dúvida”, diz ele. Mas eles estão conseguindo adaptar o prêmio juntos, e Soderbergh diz que está bastante animado.
O papel de salvador no Oscar é inesperado para Soderbergh, que se despediu dramaticamente de Hollywood há oito anos. Sua crítica na época era que os estúdios não estavam inovando e que o cinema havia se distanciado do centro cultural. Mas, depois de retornar à cinematografia em uma série implacável de filmes de aventura e conceitos ousados (um deles filmado com iPhones, e o outro em um navio), Soderbergh ajudou a indústria a retornar à produção durante a pandemia, criando protocolos de segurança, incluindo o tipo de testes e quarentenas que serão necessários para os indicados que comparecerem no domingo.
O Oscar é um encontro anual único para Hollywood – um momento de reflexão, aspiração e celebração. Adiada por dois meses, esta edição da premiação veio após um ano de pandemia difícil para a indústria, em que cinemas foram fechados e os serviços de streaming proliferaram. Soderbergh espera que o Oscar seja catártico e sirva como impulso para Hollywood. (Tradução de Augusto Calil)
O conceito da premiação, que Soderbergh produz com Stacey Sher e Jesse Collins, é tratar a cerimônia não como um programa de TV, mas como um filme. E ele está convencido de que tem uma cena de abertura incomparável. “Vamos anunciar nossas intenções imediatamente”, disse Soderbergh. “As pessoas dirão, Nossa, é melhor colocar o cinto de segurança.”
Mudar o Oscar, uma instituição americana de 93 anos, tem se mostrado repetidamente um exercício inútil. Algumas reviravoltas foram tentadas ao longo do tempo, porém o formato básico permanece teimosamente imutável. Mas, este ano, a pandemia abalou o Oscar como nunca antes. Quando a transmissão começar a partir das 21h (horário de Brasília), no canal TNT, no domingo, 25, não haverá público. A casa que receberá o show não será o lar regular do Oscar, o Dolby Theatre (embora o Dolby continue sendo um local importante), mas a Union Station, o arejado edifício Art Déco californiano que funcionava como estação de trem no centro de Los Angeles.
Para os produtores, os desafios da covid são uma oportunidade de finalmente repensar o Oscar. “Em qualquer etapa do processo criativo de produção de um filme, quando pergunto por que algo será feito de certa maneira e a resposta é porque foi feito desta maneira, encaro isso como um verdadeiro sinal de alerta”, disse Soderbergh. “Este ano, todos nós aproveitamos a oportunidade apresentada para realmente desafiar essas ideias preconcebidas em relação às premiações.”
Independentemente do quanto seja bom o trabalho deles, a audiência quase certamente cairá em relação aos 23,6 milhões de telespectadores do ano passado. O nível de audiência para os prêmios diminuiu durante a pandemia e, este ano, os indicados ao Oscar, apesar de estarem amplamente disponíveis em streaming e serem mais diversificados do que nunca, carecem da expectativa que um ano normal costuma gerar. Soderbergh saudou os indicados ao melhor filme como “um dos grupos de filmes mais autorais”.
“Mesmo quando as equipes no Super Bowl são de pequenos mercados, ainda temos um grande jogo e as pessoas ainda se importam com o resultado”, disse Collins, que produziu o show do The Weeknd no intervalo do Super Bowl deste ano.
Collins também foi produtor do Grammy no mês passado, uma cerimônia transmitida pela TV que recebeu elogios por seu toque pessoal e liberdade de atuação. Esse senso de comunidade é algo que o Oscar também deseja exalar. “Meu grande problema sempre foi a falta de intimidade. Não parece algo pessoal”, disse Soderbergh a respeito da cerimônia de premiação. “Estamos no mundo da covid. Tem que ser assim: indicados, convidados, apresentadores, e isso é tudo. Eles são as únicas pessoas permitidas na sala. Esse foi apenas um raro alinhamento catastrófico, e minha preocupação pessoal.”
É quase certo que o Oscar será muito diferente do Globo de Ouro, realizado de forma majoritariamente virtual. Os produtores se manifestaram contra o Zoom e as roupas casuais. Estamos falando do Oscar, afinal: não haverá discursos de agradecimento feitos em roupas esportivas. Os produtores pressionaram os indicados a comparecerem pessoalmente, seguindo medidas de segurança.
Alguns ficaram furiosos com a postura da Academia – já que, em alguns países, ainda há lockdowns, e os altos índices de contágio persistem na Europa e em outros lugares -, o que levou à busca de acordos. Haverá um centro para indicados em Londres e, conforme anunciado no final da semana passada, também haverá links de participação via satélite. Parte do material será pré-gravado, e cada indicado passou 45 minutos com os produtores.
Soderbergh vê a cerimônia como um filme de três horas, não um webinar. Mas o que isso significa exatamente? Se o Oscar fosse um filme, que tipo de filme seria? Ele é o diretor de Onze Homens e um Segredo e Logan Lucky, então, deveríamos esperar um filme de policiais e ladrões?
“A sensação será a de um filme onde há um tema dominante que é expresso de diferentes maneiras ao longo do espetáculo. Portanto, os apresentadores são essencialmente os narradores de cada capítulo”, disse Soderbergh.
“Queremos que eles sintam que não é um programa feito para uma instituição. Queremos que sintam que estão assistindo a um programa feito por um pequeno grupo de pessoas que realmente procurou demolir tudo que pareça genérico, ou desnecessário, ou insincero. Esse é o tipo de intenção de que sinto falta quando assisto a programas como este. Uma voz, deve haver uma voz específica.”
Do ponto de vista técnico, a transmissão terá uma aparência mais Widescreen e uma abordagem mais cinematográfica para a música. Questlove é o diretor musical da cerimônia e os apresentadores são considerados um grupo. Uma coisa que você não verá, diz Collins, é o clássico papo furado antes da entrega de um prêmio.
“Quando virmos os membros do elenco chegando para apresentar os prêmios, veremos uma conexão”, disse Collins. “Não serão duas pessoas caminhando que acabam de se conhecer no camarim e têm dificuldade em acompanhar o teleprompter.”
Definitivamente, estamos falando de muitos feitos significativos em meio às condições e restrições em constante mudança ligadas à covid-19. A logística é “tediosa”, disse Soderbergh. Os egos são outro componente fascinante. “É um capítulo para ser lembrado, sem dúvida”, diz ele. Mas eles estão conseguindo adaptar o prêmio juntos, e Soderbergh diz que está bastante animado.
O papel de salvador no Oscar é inesperado para Soderbergh, que se despediu dramaticamente de Hollywood há oito anos. Sua crítica na época era que os estúdios não estavam inovando e que o cinema havia se distanciado do centro cultural. Mas, depois de retornar à cinematografia em uma série implacável de filmes de aventura e conceitos ousados (um deles filmado com iPhones, e o outro em um navio), Soderbergh ajudou a indústria a retornar à produção durante a pandemia, criando protocolos de segurança, incluindo o tipo de testes e quarentenas que serão necessários para os indicados que comparecerem no domingo.
O Oscar é um encontro anual único para Hollywood – um momento de reflexão, aspiração e celebração. Adiada por dois meses, esta edição da premiação veio após um ano de pandemia difícil para a indústria, em que cinemas foram fechados e os serviços de streaming proliferaram. Soderbergh espera que o Oscar seja catártico e sirva como impulso para Hollywood. (Tradução de Augusto Calil)
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