Na versão de Burton, o peso de sua parceria com Johnny Depp (intérprete do dono da fábrica de chocolate) foi decisivo – ao longo dos anos, o estilo gótico e, ao mesmo tempo, deslumbrante do cineasta encontrou plena ressonância na interpretação de Depp, que se acostumou a dar vida a tipos diferentes. Não foi diferente com Willy Wonka: com uma peruca e uma dentadura, o ator criou um personagem por vezes bizarro, reduzindo as atitudes estranhas de Wonka (na verdade, todas têm um propósito moral) em algo simplesmente esquisito – houve quem sugerisse que ele teria se inspirado em Michael Jackson. “Não me agrada a versão criada por Tim Burton”, comenta John Stefaniuk, responsável pela direção geral do musical brasileiro. “Sinto uma falta do humor, especialmente no personagem de Depp, e as ações punitivas nas crianças não transmitem a mensagem correta.”
A versão de Burton também é mais explícita, contando, em flashbacks, a origem de Wonka e seus problemas familiares (ele não consegue, por exemplo, dizer a palavra “pai”, o que dá a real dimensão do problema). E, se Depp confere um ar mais infantil ao personagem, o mesmo não se pode dizer de Gene Wilder, grande comediante que viveu Wonka na versão de 1971.
Mais enigmático e, portanto, com características mais adultas, sua interpretação oferece um personagem mais simpático às crianças, mesmo sendo, em alguns momentos, arredio. E a interpretação selvagem de Wilder vai na contramão da afetação da de Depp. Com isso, ele cria um protagonista mais complexo e, assim, menos palatável para o público infantil. Nisso reside o mérito de Burton, que trata de temas profundos com a simplicidade das crianças. O que possibilita algo essencial: a comunicação entre adultos e os mais jovens.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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