Há exatamente um ano, o curso de Odontologia do Centro Universitário de Pato Branco (Unidep) passou a oferecer a disciplina eletiva de Libras (Língua Brasileira de Sinais) aos seus alunos, a fim de que tivessem um olhar mais inclusivo sobre o paciente, sensibilizando sobre a importância do acolhimento humanizado através do atendimento da pessoa surda em contextos de saúde.
O ensino de Libras já era ofertado aos alunos do curso de Medicina, e quem ministra a disciplina é a professora e intérprete de Libras, Ma. Luciana de Freitas Bica. Nela, os alunos estudam a história do surdo no Brasil e no mundo, aprendem os sinais básicos para os primeiros contatos com o sujeito surdo, o que contempla desde o alfabeto até frases do cotidiano usadas no atendimento clínico. “Os acadêmicos compreendem que adotar a Libras enquanto idioma é uma prática de inclusão”, ressalta Luciana, que também é membro do CIA (Comissão de Inclusão e Acessibilidade) e docente orientadora da Lalics (Liga Acadêmica de Libras e Cultura Surda) e do MedLibras.
Mas o projeto foi além do ensino da Língua e passou a fazer parte do atendimento na Clínica Escola.
Atendimento em Libras
Conforme a coordenadora do curso de Odontologia, professora Dra. Christiana Almeida Salvador Lima, quando Luciana começou a ministrar o estudo de Libras como um curso de extensão dentro do Unidep, e para pessoas de dentro e fora da faculdade, ela ficou interessada em se capacitar e, depois, surgiu a vontade de executar o mesmo projeto que já estava sendo aplicado na Medicina também para o curso de Odontologia.
Christiana conta que os alunos gostaram tanto da iniciativa que também quiseram fazer parte da Lalics, e agora a disciplina viabilizou o projeto de atendimento a surdos realizado na Clínica Escola do curso. “Esse projeto de extensão consegue trabalhar a programação dentro da clínica integrada, que faz atendimento à comunidade. Temos alunos que se identificaram com esse trabalho e estão se comunicando muito bem em Libras, e são pré orientados para fazer o atendimento de deficientes auditivos”, explica.
Para a professora Christiana, esse tipo de disciplina contribui para a formação humanizada dos alunos, especialmente no refere-se à atuação do profissional de Odontologia. “Com a inclusão, os acadêmicos adquirem uma nova percepção de vida, assim como a sensibilidade de que cada ser humano é único e com características que constituem a grandeza que é o ser humano. Estar numa disciplina como a de Libras permite trabalhar a inclusão, mas, acima de tudo, o respeito e o cuidado às pessoas”, destacou. “A Língua Brasileira de Sinais, na maioria das faculdades, é ofertada somente nos cursos da área da educação, então culturalmente ela não é escolhida como eletiva pelos futuros profissionais na área da saúde. Nós, do Unidep, mudamos essa realidade, inclusive somos reconhecidos pela Federação Nacional dos Surdos (FENEIS/PR) em virtude dessa postura”, completa.
A ideia de ter esse projeto dentro da instituição, acredita a coordenadora de Odontologia, é desenvolver no aluno além da técnica. “Precisamos pensar que nossos alunos precisam de desenvolvimento além das altas habilidades técnicas, mas também as comportamentais, para que ele esteja apto a ingressar no mercado e lidar com as dificuldades, saber se comunicar, pensar na inclusão das pessoas, no amor ao próximo, enfim, trabalhar um profissional do futuro”, reafirma.
Além do atendimento em Libras, o curso de Odontologia do Unidep tem outros projetos encaminhados, como acompanhamento para pacientes pré-oncológicos, que é uma necessidade regional. Outro projeto citado pela coordenadora do curso é em relação ao atendimento de pacientes renais. “Na nossa clínica, procuramos sanar as dificuldades da comunidade em relação aos tratamentos odontológicos”, diz.
Atendimentos
A Clínica Escola está em funcionamento há 1 ano e meio, oferecendo atendimento odontológico de forma gratuita a toda a comunidade, para crianças e adultos. Entre os procedimentos ofertados ao público estão restauração, limpeza, raspagem, tratamento periodontal, clareamento, extração, exames radiológicos, prótese móvel e tratamento de canal.
Os procedimentos são realizados pelos estudantes, sempre com supervisão dos professores, e usa tecnologia de ponta e infraestrutura digital.
“Todo o aluno de odontologia precisa estar ancorado nessas atividades práticas para se formar, e todo o atendimento realizado por eles precisa, obrigatoriamente, de professores ligados à instituição os supervisionando”, explica Christiane.
Para ser atendido, é preciso agendar previamente através do telefone 46 3220-3036, que também é possível ter atendimento pelo WhatsApp. Os interessados no atendimento especial, feito em Libras, deve solicitar no momento do agendamento que seja atendido por um aluno capacitado em Libras.