Com isso, um consenso começa a surgir entre os clubes: os sócios-torcedores terão prioridade na compra dos ingressos no retorno do público. Os clubes apostam na retomada dos planos de fidelidade e na recuperação dessa parcela da torcida, que também foi afetada pela pandemia.
“O sócio-torcedor do Flamengo sempre teve prioridade na compra de ingressos. Com a retomada controlada de público aos estádios, esta prioridade será ainda mais importante, na medida em que teremos uma limitação de ingressos disponíveis para venda. Muito provavelmente, neste início, o público presente será formado majoritariamente por sócios-torcedores”, diz Gustavo Oliveira, vice-presidente de comunicação e marketing do Flamengo.
A posição do clube com maior torcida do País é a mesma de outras agremiações. “Assim que o retorno for concretizado, ao analisarmos as regras que serão impostas, nós iremos priorizar o acesso aos sócios-torcedores, que mesmo sem poder ir ao estádio permaneceram ao lado do clube durante esse período”, assegurou o presidente do Fortaleza Marcelo Paz.
O Juventude pretende abrir a venda de ingressos para o público em geral apenas quando a capacidade de ocupação for superior a 50%. “Temos que reforçar nosso apoio aos sócios, principalmente pela ajuda que eles nos deram na pandemia. Eles se mantiveram adimplentes e apoiaram o clube em todos os momentos”, afirma Fábio Pizzamiglio, vice-presidente de marketing.
Victor Grunberg, vice-presidente de administração do Internacional, afirma que o clube gaúcho vai apresentar um modelo de retomada parcial do público com valorização dos sócios-torcedores.
Os programas de sócios se tornaram uma renda significativa para os clubes nos últimos anos. De maneira geral, eles oferecem vantagens nas compras de ingressos para jogos. Por conta da pandemia, no entanto, o segmento também encolheu.
TESTES – A CBF prevê as primeiras experiências de retomada da torcida no segundo turno do Campeonato Brasileiro e nas quartas de finais da Copa do Brasil. Isso deve acontecer no final de agosto e início do mês de setembro. A entidade deve buscar o aval das autoridades estaduais para que as partidas sejam realizadas com público parcial. O governo estadual de Minas Gerais, por exemplo, já autorizou a reabertura nos municípios que estão na “fase verde” no combate à pandemia. Hoje, a região do Vale do Aço, onde se localiza Ipatinga, é a única que poderia receber torcida na arena sem restrições.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB), afirmou na quarta-feira que não vai antecipar a data para a volta do público aos estádios e que isso só deve ocorrer em 1º de novembro.
A Conmebol autorizou em julho o retorno do público aos estádios nos jogos das oitavas de final da Copa Libertadores e da Copa Sul-Americana. Isso depende, no entanto, da liberação das autoridades locais. A prefeitura do Rio de Janeiro liberou a presença de público na final da Copa América no início do mês de julho. O Maracanã recebeu cerca de 1.600 torcedores na vitória da Argentina sobre o Brasil. O cenário mudou em setembro. O poder municipal havia liberado a volta gradual aos estádios, mas voltou atrás em função do aumento de casos de covid-19 na cidade.
FALTA DE BILHETERIA – A ausência de bilheteria afetou de forma significativa o orçamento dos clubes brasileiros. O Fortaleza, dono da segunda maior média de público do Campeonato Brasileiro em 2019, foi uma das principais equipes afetadas pela falta de bilheteria. A receita bruta dos ingressos em 2019 foi de aproximadamente R$ 11 milhões, o que representa cerca de 10% da receita operacional. A saída, como conta o presidente Marcelo Paz, foi reduzir gastos. “A perda das receitas com bilheterias foi minimizada, mas é difícil compensá-la”, avalia. De maneira geral, a participação da venda de ingressos no total de receitas dos clubes gira de 10% a 15%.
O Cuiabá, estreante na Série A, estima perdas de R$ 1 milhão por mês por conta da falta de público. A torcida planejava ver o clube na primeira divisão pela primeira vez. “Para o mato-grossense, não poder ir ao estádio neste momento é difícil. Ficamos 35 anos sem ter um time do estado na Série A. Era um sonho de todos”, declarou Cristiano Dresch, vice-presidente do clube.
No Brasileirão de 2019, último com a presença de torcida, a receita bruta resultante da venda de ingressos dos clubes da Série A foi de aproximadamente R$ 270 milhões.
Sem a bilheteria, os clubes tiveram de diversificar as receitas. Fábio Pizzamiglio explica que o Juventude investiu em planos associativos diferenciados a partir de R$ 28 mensais, ingressos virtuais e até campanhas de doação via PIX, além da busca constante de novos patrocinadores. O clube está de volta à Série A depois de 13 anos.
Gustavo Oliveira revela que o Flamengo “conseguiu um incremento representativo nos valores dos patrocínios, maior monetização das redes sociais, venda de espaços na programação da FlaTV, (a terceira maior TV de clubes do mundo), a comercialização direta do PPV do Campeonato Carioca e, é claro, a venda de alguns jogadores de futebol do elenco”.
Apesar da pandemia, o mercado publicitário continuou crescendo no último ano. Desde março do ano passado, mais de 120 novos acordos foram fechados por clubes da Série A. A interação das marcas com as torcidas ficou restrita ao meio digital.
“Durante a pandemia, as ativações no âmbito digital foram fortalecidas”, explica Fernando Lamounier, diretor de marketing da Multimarcas Consórcios, patrocinadora do Atlético-MG, Paysandu e Sport. “Mas nada substitui o contato presencial e as experiências ao vivo aos torcedores. Todo o mercado publicitário, as empresas, as agências e os próprios clubes estão ansiosos e já se planejam para esse momento”, completa.
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