Coleta de dados do IBGE na Terra Indígena Mangueirinha deve iniciar nas próximas semanas

Os agentes censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) devem dar início, nas próximas semanas, a coleta de dados na Terra Indígena (TI) Mangueirinha para o Censo 2022, após a realização de uma reunião com o cacique José Calor Gabriel, no escritório da aldeia Campina-sede. Após essa etapa, os recenseadores devem realizar o teste da covid-19 e, a partir do resultado negativo, iniciar a coleta.

De acordo com a Agente Censitária Supervisora (ACS), Cristiane de Paula Carneiro, a Terra Indígena Mangueirinha abrange três municípios: Coronel Vivida, Chopinzinho e Mangueirinha, sendo que em Chopinzinho há a aldeia Palmeirinha do Iguaçu, com a maioria de habitantes da etnia Guarani, enquanto nos outros dois municípios estão as aldeias da etnia Kaingang.

Além de atuar como ACS, Cristiane também é formada em pedagogia e conhece a realidade indígena, por ser da etnia Kaingang. “Trabalhar no IBGE foi um momento de construção de conhecimento, é um momento em que estou aprendendo muito”, destaca, ao comentar que trabalhou oito anos como professora e, ao ficar desempregada, realizou o concurso do IBGE.

Representatividade

Além disso, a supervisora destacou a importância da representatividade e ter a oportunidade de coordenar os recenseadores para realizar o trabalho. “É muito importante ter um indígena nos representando em qualquer trabalho, ainda mais do IBGE, um trabalho tão importante. É uma alegria enorme, porque facilita o trabalho para o recenseador, para a comunidade e para os moradores da aldeia, ter alguém que fala por eles, então se sentem mais à vontade para receber a pessoa na casa, porque alguém já preparou essa pessoa”.

Cristiane aponta que, quando os recenseadores são preparados por um indígena que conhece a realidade e a cultura, o trabalho se torna mais fácil e os moradores da aldeia tem maior confiança para ouvir e aceitar.

“O recenseador vai ter um conhecimento a mais para entrar na aldeia, aplicar o questionário, saber como se comportar. Se vai entrar lá achando que está entrando em uma outra comunidade do interior, não vai ter sucesso no trabalho, então é muito importante ter um indígena que oriente o recenseador e a comunidade”, conclui.

Foto: Odan Jaeger

De acordo com a orientadora, os setores indígenas não podem ser os primeiros a receberem o recenseador, sendo essa uma regra do IBGE, ou seja, “o recenseador realiza um ou mais setores que não sejam indígenas, para que assim possam dar início na coleta de dados das aldeias”.

Treinamento

Além dos cinco dias de treinamento realizado em conjunto com os recenseadores que estão atuando nas comunidades, aqueles que farão a coleta de dados em terras indígenas tiveram um dia a mais de treinamento. Além disso, eles devem participar de uma conversa com o cacique e outras lideranças indígenas. Cristiane explica que a conversa “é para apresentar o recenseador ao cacique, para que ele informe a comunidade de quem é essa pessoa, para que a população se sinta mais segura e, assim, possam receber essa pessoa em suas casas”.

Além das perguntas realizadas a todos os brasileiros, como se frequentam a escola, renda e entre outras questões, os indígenas deverão responder se se consideram indígenas, etnia a qual pertence, a língua que fala no domicílio, se todos no domicílio pertencem a mesma etnia e se todos falam a mesma língua.

De acordo com o IBGE, em matéria publicada pela Agência Brasil, por indígena entende-se a pessoa que se auto identifica assim. “O recenseador ou qualquer outra pessoa da equipe de coleta não pode questionar o informante nem colocar em dúvida sua declaração”, diz o instituto.

Segundo o IBGE, o Censo Demográfico 2010 foi a primeira pesquisa que registrou a quantidade de etnias e de línguas indígenas existentes no Brasil. Foram contados 896,9 mil indígenas, de 305 etnias ou povos e falantes de 274 línguas indígenas.

TI no Sudoeste

Vale lembrar que além da TI Mangueirinha, o Sudoeste possuiu outros aldeamentos. A exemplo, Clevelândia possuiu o único aldeamento indígena urbano da região.

Os povos tradicionais também são encontrados em Vitorino, e em Palmas, na área do escritório do IBGE de Pato Branco.

Também há TI em Barracão.

Censo em TI

O IBGE vem trabalhando para que o Censo 2022 chegue a todos os territórios indígenas do Brasil, com a fala de que independe se a localidade tenha sido ou não mapeada anteriormente.

Durante a divulgação do primeiro balanço do Censo 2022, em 30 de agosto, o IBGE afirmou que até aquele momento 450.140 indígenas tinham sido contatados.

Na ocasião, também foi revelado que entre os dias 1° e 29 de agosto foram recenseadas 58.291.842 pessoas, em 20.290.359 domicílios no país. Destas, 36,51% estavam na região Nordeste, 35,51% no Sudeste, 11,87% no Sul, 9,44% no Norte e 6,67% no Centro-Oeste. Até a manhã do dia 30 de agosto, o total de população recenseada já era de 59.616.994.

Quilombolas

Outra parcela da população que também integra os povos tradicionais são os quilombolas. O Censo Demográfico de 2022 pretende produzir um retrato inédito, uma vez que este é a primeira vez que a população de áreas remanescentes de quilombos é entrevistada em um Censo.

Para que seja retratado de forma mais fiel esta população, no questionário foi acrescentada a pergunta; “Você se considera quilombola?”. A resposta sendo afirmativa, o entrevistado responde o nome da comunidade a que pertence.

Para o IBGE, as comunidades quilombolas são descritas como “grupos étnicos, seguindo critérios de autoatribuição, com trajetória própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com resistência à opressão historicamente sofrida.”

Palmas é o município do Sudoeste que possui quilombo reconhecido, o Adelaide Maria da Trindade Batista, que está no bairro São Sebastião.

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