“A gente está recalculando, não sei onde vai mostrar impacto. Como a gente observou um crescimento maior da população em idade de trabalhar, e todo o resto é subconjunto da população em idade de trabalhar, os indicadores do mercado de trabalho todos podem estar refletindo essa mudança. Por isso que, a partir do segundo trimestre de 2020, a gente suprimiu os recortes socioeconômicos – idade, sexo, cor e escolaridade – para unidades da federação, porque quanto mais desagregado, maior a chance de estar tendo algum efeito”, ressaltou Maria Lucia Vieira, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O fenômeno foi noticiado pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em reportagem no último dia 6 de abril. O IBGE já tratava os dados coletados pela Pnad Contínua ajustando os resultados para o tamanho da população de cada unidade da federação.
Agora, o instituto ajustará também as informações coletadas em relação à distribuição das pessoas por idade e sexo. Ou seja, essas variáveis serão usadas na construção dos pesos dos informantes para a obtenção do resultado total da pesquisa. O IBGE acredita que o ajuste resolverá os problemas de vieses que possam acontecer na coleta.
“É uma melhoria metodológica”, disse Maria Lucia. “É uma correção melhor das não respostas que a gente tem, dos domicílios que não estão respondendo, é um melhoramento do peso”, completou.
Ela lembra que a interrupção da coleta presencial em função da pandemia também afetou o trabalho de institutos de estatísticas mundo afora.
“Esse problema de viés não está ocorrendo só no Brasil”, disse Maria Lucia.
A coordenadora do IBGE conta que, com a migração da coleta de presencial para telefônica, aumentou mais o número de respostas de pessoas que tradicionalmente ficam mais em casa, como mulheres e de idosos, mas que a mudança metodológica será capaz de corrigir o problema. A equipe responsável pela Pnad já trabalha no ajuste de cálculo, que corrigirá também toda a série histórica da pesquisa, iniciada em 2021. Ainda não há data para divulgação da nova série.
“A gente acha que não vai ter tanta diferença não”, opinou Maria Lucia Vieira, ponderando, porém, que não há como fazer previsões. “Não te garanto não que não haverá impactos retroativos nos dados já divulgados.”
A Pnad Contínua é composta por uma amostra rotativa de cerca de 211 mil domicílios, divididos em cinco grupos, sendo que 20% deles são renovados a cada trimestre. O telefone do domicílio costuma ser obtido pelo entrevistador na primeira visita. Com a pandemia, o órgão teve dificuldade de conseguir o telefone, o que acabou prejudicando a taxa de resposta.
Antes da covid-19, a taxa de resposta da Pnad Contínua alcançava 89%. Em fevereiro de 2021, cujos dados serão divulgados nesta sexta-feira, 30, essa taxa de resposta desceu a 52,4%. Até sexta-feira passada, 23, a taxa de resposta da pesquisa referente a março estava em 47%, mas a pesquisadora acredita que passaria dos 50% até o fim do prazo de coleta. Todos os dados da Pnad têm passado por testes de confiabilidade antes de serem divulgados, frisa Maria Lucia.
“O que é preciso é que todos os setores sejam representados. Com 100% de coleta numa área nobre e 0% numa área pobre, eu não consigo divulgar, porque só uma parte do Brasil estará representada”, lembrou a coordenadora do IBGE.
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