Colocar-se à disposição para ajudar o Planeta

            Hoje sim sabemos com muita clareza que o meio ambiente sofre uma grave crise, sendo assim não nos é difícil identificar de que também outros lugares sofrem do mesmo mal, beirando já o colapso em alguns pontos, cidades grandes, médias ou pequenas, vilas remotas e o campo, são presas fáceis dos tentáculos enormes e sem fronteiras que se tornou a crise climática, um só olhar não basta para notarmos a amplidão desse problema, faz tempo que deixamos de habitar lugares tranquilos e hospitaleiros, quem em sã consciência iria nos dizer num passado até recente, que o clima iria mandar em nós, que ele iria expulsar milhões de seus lares, que ele faria milhões de vítimas, que teria uma capacidade invejável de derrubar sistemas de governo e emplacar uma crise em todos os setores; aquilo que abundou para nós, hoje se vira contra nós, tornamo-nos presas fáceis.

            Tudo indica que o ser humano ao longo do tempo tratou de impingir ao meio ambiente em geral um sistema de não vida, um processo de total desqualificação do mesmo, pior ainda buscou por todo tipo de artimanha a desrealização de formas de vida ditas menores ou mesmo sem importância e significado, justamente as pequenas coisas antes tidas como desprezíveis, são hoje tidas como essenciais para a nossa salvação, virtualizar os espaços eis o nosso grande e mortal pecado, mecanizar nossos contatos em qualquer circunstância, tem nos deixados órfãos, em quantos lugares não somos tratados apenas como números, que em muitos ambientes, caso não tivermos a senha correta, não somos admitidos em hipótese algum; exclusão, pequenos guetos; não convivência, não habitualidade, experiências de vida tão fracas e ao mesmo tempo tão fortes para nos matar.

             A tão grande, bela e ilusória modernidade, hoje com exatidão quase milagrosa faz-nos percebermos que vivemos uma era de muita rapidez e com muitos nomes, a era da mentira, a era da violência, a era do faz de conta, a era do quanto pior melhor, uma era onde tudo tem um preço, mas que absolutamente nada possui valor, temos também a era da extravagância, dos exageros sem fim, tudo fruto de uma mentalidade que sempre achou que nunca chegaria o dia para se pagar a conta com o meio ambiente, esse ser discreto, amigo de todas as horas, benevolente em todos os sentidos para com a criação toda, mas que agora diante da gravíssima crise climática se tornou hostil conosco, parece que perdemos sua amizade, não o encontramos em sua inteireza como antes, de nosso amigo, o meio ambiente se tornou carrasco da última hora, de certa maneira ele se afastou de nós.

            Curioso numa era tecnológica, é que todos sabemos para onde estamos indo caso continuemos perseguindo esse caminho com unhas e dentes sem levarmos em conta todas as consequências que estamos sofrendo, sabemos de cor e salteado que a situação é muito grave para todos, que o barco pode afundar e todos vão morrer, somos muitos fortes em promover catástrofes, temos sido muito aptos em espalhar o terror, somos doutores em matéria de poluição, somos magníficos em construirmos instrumentos que matam milhares num clique apenas. Contudo somos fracos demais para admitirmos nossa ignorância, somos pequenos demais em termos de ações que podem mudar o curso da história para melhor, somos anões quando se trata de promovermos a paz, temos mostrado em diversas ocasiões que perdemos muito feio para os animais em termos de amizade e solidariedade.

            Bioeticamente, sozinhos nessa aventura ambiental nunca iremos sair do lugar, muito menos chegar a algum lugar, a nossa dependência em relação a outras formas de vida é notória, quem fala o contrário é mentiroso e arrogante, preso em sua cegueira ocular e mental, o espetáculo de tantas coisas a nossa disposição deveria ser visto com precaução, um comércio mudo mas destruidor de mundos deveria nos assustar, dispositivos tecnológicos que encurtam distâncias deveriam ser usados para nos aproximar de tantas realidades sofredoras, hoje sabemos que temos muito potencial para formarmos novos cotidianos, menos vorazes, menos agressivos; voltar ao tempo onde tudo era simples talvez seja impossível para nós, mas não é impossível resgatar daquele nosso tempo de crianças o desejo de estarmos todos juntos, de brincarmos mais, de cuidarmos muito mais do outro.  

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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