Essas cenas reais, presenciadas pelo Estadão ou relatadas por pais de alunos, mostram como a Olimpíada está inspirando as colônias de férias, acampamentos ou apenas camps oferecidos por diversos colégios em São Paulo e até em outros estados. São férias olímpicas que podem despertar – por que não sonhar grande? – nossos futuros medalhistas dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 ou Los Angeles-2028.
As modalidades esportivas são adaptadas para o contexto escolar. Com algumas variações, o foco são os alunos da primeira infância e das séries iniciais do ensino fundamental que abrangem berçário (0 meses a 2 anos), infantil (3 e 5 anos) e fundamental I: 6 a 11 anos. Obviamente, tudo é lúdico, divertido, naquela gostosa linha entre a brincadeira e o aprendizado.
São Jogos da diversão, da amizade, do encontro e da descoberta – não necessariamente da competição. Os alunos colocam a mão na massa para fazer os adereços e também praticam a modalidade. No Mater Dei, a coordenadora Erica Mantovani explica que o beisebol foi praticado com garrafas pet, bolas de meias e o guarda-chuva para arremesso, por exemplo. O tiro com arco foi feito com duas madeiras, tudo sem ponta, e muita imaginação.
“Além de poder despertar um atleta, as Olimpíadas mostram que o esporte pode ser um grande aliado na vida das crianças, promovendo saúde, bem-estar, diversão e desenvolvimento. As crianças estão cada vez mais envolvidas com tecnologia, que é importante, mas valorizamos as atividades físicas”, conceitua Rogéria Sprone, diretora pedagógica do Colégio Joseense.
Organizar atividades assim durante uma pandemia do novo coronavírus requer cuidados especiais. Além da adoção dos protocolos que já fazem parte da rotina das escolas, como uso de álcool em gel, máscara e distanciamento físico, as atividades foram escolhidas a dedo. A maioria das escolas sublinhou esportes individuais para evitar aglomerações. Isso diversificou as atividades. “Os alunos vivenciaram esportes que eles não conheciam, como esgrima e badminton”, conta Lucila Sarteschi, coordenadora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Renascença, na zona oeste.
No Colégio Mater Dei, a programação de julho seguiu o calendário das competições. Na primeira semana, os alunos aprenderam sobre a origem dos Jogos e confeccionaram tochas olímpicas e medalhas. Ali, eles entenderam o que é um pódio. Nesta semana, eles aprendem sobre os esportes estreantes, como skate e surfe. “Estar com os amigos está sendo importante. Com os Jogos olímpicos no meio, ela tem aproveitado bastante. São coisas novas, esportes que ela nunca tinha ouvido falar”, diz a gerente de marketing Tatiana Fialdini Monteiro, de 39 anos, e mãe da Valentina, a “esgrimista” das próximas edições das Olimpíadas.
No Rio Grande do Norte, terra do medalhista de ouro Ítalo Ferreira, os alunos do Contemporâneo, escola particular de Natal associada à Inspira Rede de Educadores, crianças de 4 a 11 anos foram além do surfe nas atividades da colônia de férias. Natação, atletismo, basquete, futebol e handebol despertaram o interesse até de pais e mães que não estão vinculados ao colégio. Neste ano, o número de vagas foi reduzido em comparação aos anos anteriores para evitar aglomerações.
Por trás das corridas, saltos e arremessos, quase sem perceber, as crianças aprendem valores e práticas que vão levar para vida inteira, como ajudar o outro, jogar junto, saber ganhar e saber perder. Mais que isso: cada esforço traz frutos positivos e a gente precisa correr atrás dos sonhos.
VOLTA AO MUNDO – No Colégio Lumiar, na zona oeste de São Paulo, a Olimpíada foi o passaporte para uma volta ao mundo, Os alunos maiores, entre 8 e 12 anos, queriam conhecer mais sobre outros países. A esse desejo, as professoras adicionaram o gosto que eles têm pelos esportes e as curiosidades sobre os Jogos. A viagem que ainda está em curso vai resultar num diário de bordo com tudo o aprenderam. Fica mais fácil entender com exemplos.
Vídeos e mapas sobre a rota da tocha olímpica ajudaram a entender as peculiaridades do território japonês. Uma pesquisa sobre o quadro de medalhas desde 1896 resultou num debate sobre a hegemonia dos EUA e dos países europeus. “O “World Trip” tem sido um projeto de bastante engajamento e entusiasmo por trazer conteúdos interdisciplinares a partir de um evento que estamos vivenciando”, avalia Camila Novaes, tutora na Lumiar Educação Pinheiros.
Esse é outro ponto importante. Quando aprendem sobre os eventos que estão acontecendo naquele momento, a interação e a empolgação são diferentes. A Olimpíada está começando em casa e terminando no colégio. Não necessariamente nesta ordem. É o que conta o vendedor Marcelo Marcondes, 41 anos. Ele é o pai do Sérgio, que aparece lá no comecinho. “Essa semana muito especial e isso se refletiu nas nossas conversas e na nossa rotina. Eu senti um grande envolvimento com ele, uma conversa de pai e filho, um momento nosso”, diz o ex-atleta de basquete.
O vendedor conta que a colônia de férias oferecida no colégio do interior de São Paulo pode ter sido a sementinha para um novo atleta em casa. “Essas atividades criaram um desejo no Sergio de desenvolver algumas modalidades diferentes de esporte, estamos falando bastante sobre isso em família”, revela.
Mas os Jogos Olímpicos não ficam só na quadra ou na sala de aula. Eles acompanharam os alunos também na hora do lanche – a melhor hora do dia. A administradora Eliana Suchodolski Goldbaum conta que as filhas Carolina, de 8, e Beatriz, de 5, adoraram os almoços temáticos. No dia dos Estados Unidos, hambúrguer e batata frita; no dia de Israel, elas comeram falafel; no dia do Brasil, arroz e feijão.
Com Jogos do outro lado do mundo, o grande desafio do pais é controlar o sono da criançada. Entre as conquistas brasileiras, os alunos do Mater Dei só acompanharam a medalha de prata de Rayssa Leal no skate feminino. Mas a coordenadora Erica Mantovani conta que, no dia seguinte à conquista de Ítalo Ferreira, a primeira coisa que ouviu de muitos alunos foi. “Quem ganhou a medalha no surfe, tia?”
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