A primeira vez que Li ganhou notoriedade foi quando participou do resgate dos brasileiros que estavam em Wuhan, na China, no início da pandemia, em fevereiro de 2020. Depois, ela virou até personagem de quadrinhos homenageada por Mauricio de Souza, na Turma da Mônica.
A inclusão da infectologista na delegação brasileira dá a medida de como os protocolos de combate à covid-19 ganharam importância dentro da preparação dos atletas para os Jogos Olímpicos, com 14 mil testes de antígeno, 85 mil máscaras descartáveis, 12.500 sapatilhas TNT, 400 borrifadores de álcool e 250 aventais.
“É um trabalho totalmente diferente. Como coordenadora da UTI, meu trabalho é focado nos pacientes que estão com formas graves da covid-19, enquanto que nos Jogos o foco é muito mais conscientizar membros da delegação da importância da prevenção”, disse Li ao Estadão.
O temor de um possível surto de covid-19 na Vila Olímpica coloca os organizadores dos Jogos e os médicos do COB em estado de alerta. O local deverá receber 11 mil pessoas até o fim do evento. No domingo, dois jogadores e o técnico do time de futebol sul-africano que estão hospedados no local testaram positivo para covid-19, por exemplo. Os infectados foram isolados e todas as pessoas que tiveram contato com eles estão sendo monitoradas e submetidas a exames complementares, além do controle diário da saliva que os participantes dos Jogos têm de fazer.
Desde o início do mês, os organizadores realizaram mais de 30 mil testes nos participantes, com 58 casos positivos – nenhum deles envolvendo atletas brasileiros até o momento. “Nosso trabalho consiste principalmente na orientação em relação às medidas de segurança para evitar contágio da covid-19, interpretação dos exames que os organizadores dos Jogos pedem e orientação de isolamento caso alguém teste positivo, além dos cuidados após uma possível confirmação”, conta Li.
Para montar a equipe médica que está no Japão, o COB procurou ter um time multidisciplinar. Além de Li, fazem parte do grupo nomes como Beatriz Perondi, especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e atualmente coordenadora da área de situações extremas do Hospital das Clínicas. “O perfil destes profissionais é diversificado. Procuramos designar médicos do esporte com formação clínica, que também saibam sobre a covid, e não apenas sobre lesões”, explica Ana Carolina Côrte, coordenadora médica do COB.
A cerimônia de abertura, sexta-feira, às 8h (horário de Brasília), preocupa do ponto de vista médico porque reunirá centenas de atletas de mais de 200 países. Detalhes da participação da delegação brasileira especificamente neste evento, inclusive, dependem de uma definição oficial dos organizadores. A tendência, no entanto, é de um equipe bastante reduzida. “Nossa prioridade é a segurança e a integridade física da nossa delegação, que não será colocada em risco desnecessariamente”, afirma Li.
Por causa da pandemia, o COB fez diversas mudanças em relação ao planejamento original, como, por exemplo, redução das equipes. Foram mantidos apenas os profissionais ligados à manutenção de serviços e programas de impacto direto à performance dos atletas. Nas bases de treinamento, a delegação também passou a ter alimentação e academia privativas.
Até mesmo a divisão dos quartos foi discutida com as infectologistas. A recomendação foi para que dois jogadores da mesma posição não ficassem no mesmo dormitório na concentração. Motivo: se um testar positivo, o colega poderá se contaminar também e a equipe ficará sem ninguém daquela função disponível.
Também foi feito um replanejamento nas viagens dos atletas, com três dias de antecedência no desembarque no Japão para as modalidades que possuem base de aclimatação no país e sete para as que foram direto para a Vila Olímpica.
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