Um dos casos que mais chamou atenção até agora foi o do britânico Tom Daley, medalha de ouro nos saltos ornamentais. Logo após a conquista, ainda molhado à beira da piscina do Centro Aquático de Tóquio, ele deu uma declaração que teve forte repercussão não só na Inglaterra. “Sinto um orgulho incrível em dizer que sou gay e também campeão olímpico. Quando eu era mais jovem, achava que jamais alcançaria tudo isso por ser quem eu era. Ser campeão olímpico agora só mostra que você pode alcançar qualquer coisa”, afirmou.
Daley é casado com o produtor de cinema Dustin Lance Black. O casal tem um filho. “Em termos de atletas assumidamente gays, há mais nesses Jogos Olímpicos do que em qualquer outro. Eu assumi minha posição em 2013 e, quando era mais jovem, sempre me senti como aquela pessoa só e diferente, que não se encaixava aos padrões da sociedade. Espero que qualquer jovem LGBT por aí possa ver que não importa o quão sozinho você se sinta agora, na verdade você não está sozinho.”
Daley também viralizou nas redes sociais ao ser flagrado tricotando uma bolsa no Centro Aquático. Depois, ele ainda tricotou um suéter.
Por declarações e atitudes como essa do saltador britânico, os Jogos de Tóquio 2020 estão sendo chamados por ativistas dos direitos LGBTQ como a “Olimpíada do Arco-Íris”. Dar espaço à diversidade fazia parte dos planos do Comitê Organizador antes mesmo do início dos Jogos. Na cerimônia de abertura, esse tema chegou a ser tocado.
A Olimpíada de Tóquio tem ao menos 163 atletas abertamente gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros ou transexuais, de acordo com a última contagem feita pelo site Outsports, especializado em notícias esportivas com foco em questões LGBT. O número é mais de três vezes maior em comparação à edição do Rio.
Os Jogos de Tóquio ficarão marcados também por aqueles em que, pela primeira vez, um atleta abertamente transgênero ou não binário ganhará uma medalha. Quinn, da equipe de futebol feminino do Canadá, disputará o ouro diante da Suécia. Mesmo em caso de derrota a prata já está garantida. “É triste saber que outros atletas não tiveram a oportunidade de viver sua verdade”, disse.
Quinn, que passou a ter só um nome e usa pronomes neutros em relação ao gênero, participou da campanha do bronze nos Jogos do Rio, em 2016, mas à época, ainda não havia se declarado abertamente. “Estou recebendo mensagens de jovens dizendo que nunca viram uma pessoa trans no esporte antes. O esporte é a parte mais emocionante da minha vida. Se eu puder permitir que as crianças pratiquem os esportes que amam, esse é o meu legado e é para isso que estou aqui.”
Em Tóquio, a pesista Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, foi a primeira atleta transgênero a competir em esportes individuais nos Jogos Olímpicos. Já a skatista americana não binária Alana Smith disse que seu objetivo em Tóquio era ser “uma representação visual para humanos como eu”.
No Japão, alguns medalhistas usaram o momento da consagração mundial para jogar luz à questão da diversidade. Foi o caso, por exemplo, da remadora Katarzyna Zillmann, que ganhou a prata e agradeceu à namorada. Com o gesto, ela disse que queria ajudar a comunidade LGBTQ na Polônia, diante de uma onda crescente de homofobia no país.
A boxeadora Nesthy Petecio, das Filipinas, também medalhista de prata, seguiu o mesmo caminho. “Tenho orgulho de fazer parte da comunidade LGBTQ!”, bradou.
Em forma de protesto, a norte-americana Raven Saunders, prata no arremesso do peso, ergueu os braços e os cruzou sobre a cabeça em formato de X na hora do pódio. Depois, explicou o gesto. “Um salve para meu povo negro. Um salve para toda a minha comunidade LGBTQ. Um salve para todo o meu povo que lida com saúde mental.”
Como comparação para reforçar como a Olimpíada do Japão virou um marco global da causa LGBTQ, nos Jogos do Rio praticamente apenas o caso de Isadora Cerullo, jogadora da seleção brasileira de rúgbi, teve maior destaque. Ela recebeu um pedido de casamento no meio do campo da sua namorada, a gerente Marjorie Enya.
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