Parte da pressão se deve à expectativa de que, gradualmente, Nunes retire espaço do PSDB na Prefeitura para abrigar melhor sua própria legenda. As secretarias mais vitais para a gestão, Governo e Casa Civil, são controladas por tucanos. Nunes, até o momento, não fala em mudanças, e procura dizer, nas agendas públicas, que seu governo se chama “gestão Bruno Covas”.
Embora tucanos refutem que o posicionamento da bancada seja caracterizada como uma “rebelião”, o distanciamento vem se apresentando por meio de críticas ao modus operandi da Prefeitura – que na verdade é uma prática adotada desde a gestão João Doria (2017-2018) – de alterar o conteúdos dos projetos de lei horas antes da votação, por meio de substitutivos. Na semana passada, os tucanos ensaiaram até não votar o projeto que alterou regras da Operação Urbana Água Branca, na zona Oeste, proposta aguardada há dois anos pelo mercado imobiliário para reduzir os custos para empreender na região.
No momento da votação, os tucanos só apontaram o “sim” quando o processo já durava quatro minutos e o painel de votações registrava 33 votos favoráveis – número suficiente para a aprovação do texto. Ciente do risco de derrota, o governo havia cedido a demandas de siglas de oposição, como o PT, que queria mais recursos para a habitação, e mudou trechos do projeto para garantir o “sim” da oposição.
A bancada tucana tem oito dos 55 vereadores, e empata no posto de maior da casa com o PT. Seis deles atrasaram a votação: Xexéu Trípoli, o líder do partido, Carlos Bezerra Júnior, Aurélio Nomura, Rute Costa, Sandra Santana e Gilson Barreto. Fabio Riva, líder do governo, e João Jorge, que foi líder do governo durante a gestão de João Doria, continuam fiéis a Nunes.
Distância
O Estadão ouviu sete membros da bancada tucana nesta semana. Cinco deles confirmaram a predisposição pelo afastamento, dizendo que a legenda continua sendo da base do prefeito, mas não é mais o partido do governo. Dessa forma, cada projeto de lei terá de ser detalhado à bancada.
A apresentação dos substitutivos já era criticada pela oposição porque abre brecha para a inclusão de jabutis – artigos alheios ao escopo original do projeto. “É um papel da Mesa da Câmara, da própria Câmara, ter um diálogo com o Executivo para haver uma melhora”, disse o líder do PSDB, Xexéu Trípoli. O líder do governo, Fabio Riva, negou que houvesse um movimento do partido de se afastar do governo.
Diante do clima, o presidente da Casa, Milton Leite (DEM) avisou na terça-feira que outro projeto apresentado pelo Executivo, e que chega com grande pressão pela aprovação – o que desburocratiza a instalação de antena de celular na cidade – não será votado nesta semana. A Prefeitura terá de fazer concessões aos partidos para ver a norma aprovada.
A votação desse texto é tida como prioridade zero por causa da necessidade de melhoria do sinal de internet na periferia, no momento em que a pandemia ainda coloca em risco aulas presenciais. Há demanda ainda para melhorar o sinal nas regiões onde há postos de saúde.
Nomeações
Parte das críticas ao prefeito está ainda em indicações feitas pelo Executivo para cargos públicos. Os vereadores da base pedem para que sejam consultados antes das nomeações. Um dos alvos das críticas foi o superintendente da Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) Sidnei Nassif Abdalla, que é réu por improbidade administrativa por suspeitas de irregularidades na saúde de Sorocaba.
Outro é o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, autor do plano ambiental do governo de Jair Bolsonaro. Nesse último, o vereador Roberto Tripoli, do PV, que também é da base governista, criticou Nunes durante reunião dos líderes pela escolha, feita “sem consulta”.
Ao Estadão, o prefeito disse que a relação com o PSDB é “muito boa” e que, na reunião que teve com toda a bancada tucana, há duas semanas, não recebeu reclamação. “O que eles me falaram na reunião é o que sempre me falaram constantemente, é de total alinhamento ao governo”, disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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