A vilã do momento, segundo Heron, é a crise institucional, o que piora o cenário econômico e da inflação. Esse fator se junta aos problemas que já vinham complicando o cenário de preços, como a alta dos alimentos, dos combustíveis e a crise hídrica, por exemplo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o sr. avalia o resultado da inflação de agosto?
Estamos vivendo uma fase de surpresa sempre para pior. Segundo o Boletim Focus (do Banco Central), estamos na 22.ª semana seguida de alta de inflação para a previsão deste ano. O resultado de hoje de alta de 0,87% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto veio acima da previsão do mercado, de 0,70%. Teremos muito provavelmente a continuidade do processo de aumento da previsão de inflação. Essa instabilidade institucional está contribuindo para piorar a situação.
Qual é a sua previsão de inflação para este ano?
Se não acontecer nada muito diferente até o final do ano, acredito que o IPCA feche 2021 em torno de 8,5%, quase um ponto porcentual acima do que se tinha até então. Temos um cenário de incerteza internacional como consequência da pandemia da tensão com a China e, no plano interno, uma situação de estresse institucional. Esse aumento da incerteza, da insegurança, normalmente leva a uma piora na inflação, uma piora da atividade econômica e a uma deterioração dos fundamentos. Além disso, temos um problema de conjuntura, de inflação alta e atividade menor para o próximo ano. O crescimento que se pensava entre 2,5% a 3% pode ser bem menos. Por outro lado, tudo isso contribui para comprometer o fundamento fiscal, o que contrata a continuidade da crise para o futuro.
Vamos entrar em estagflação?
Estamos entrando em estagflação, com a economia crescendo pouco, provavelmente na faixa de 1%, em 2022. Para os padrões pós-Plano Real, estamos com uma inflação especialmente elevada com atividade econômica comprometida. A situação é preocupante. A inflação está se mantendo acima do previsto e deve se sustentar assim no próximo ano. A previsão do mercado está em torno de 4%. É pouco provável que a inflação de 2022 fique abaixo de 5%. Por ora, vejo inflação na faixa de 6%.
Por quê?
Temos, de um lado, as pressões decorrentes da vacinação sobre os preços dos serviços, que estão muito defasados. Temos os efeitos da crise hídrica, que afetou a produção agrícola. Há também a questão da energia elétrica ligada à crise hídrica, a incerteza em relação ao preço do petróleo, agravado pelo fato de a taxa de câmbio estar 10% acima do esperado.
A inflação está fora de controle?
Não é que esteja fora de controle. Quando se fala em controle, logo vem a questão fiscal. E, felizmente, temos o teto de gastos, que vem dando conta do recado.
Como sair disso? Subir taxas de juros resolve o problema da alta da inflação neste momento?
Atenua. O nosso problema passou a ser de outra ordem: estabilidade política e institucional. Isto é, a certeza de que as regras do jogo serão cumpridas. A instabilidade institucional leva a mais inflação e a menos crescimento.
Subir juros é uma parte do problema, então?
Subir juros é algo para combater o sintoma. Mas precisamos combater a doença.
A solução é uma questão institucional?
Os agentes políticos têm de ter bom senso, gerenciar a situação e resolver a questão das eleições. Quem ganhar ganhou e quem perder perdeu. O fundamental é ter garantias para as regras do jogo.
Hoje pesa mais na inflação a questão da crise institucional do que a alta dos preços de uma maneira geral?
Não. Os preços de uma maneira geral e a crise hídrica têm efeito. Se estivéssemos numa situação institucional tranquila, a expectativa seria de que a economia continuasse a sua retomada com a vacinação. A inflação recuaria pelo fato de os choques perderem força. Ocorre que, com a instabilidade institucional, isso, de certa forma, contrapõe-se a essa expectativa favorável que ocorreria se tivéssemos em situação de normalidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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