É o caso da experiente velejadora Fernanda de Oliveira. Em sua sexta Olimpíada, está acostumada a ter os familiares por perto. Nestes Jogos, compete longe dos pais, do marido e dos dois filhos. “Não é um costume meu ficar longe deles por muito tempo. Meu máximo até agora era ter ficado 18 dias. Essa é a primeira vez que serão quatro semanas longe deles, dificulta bastante”, disse ao Estadão a mãe da pequena Roberta, de 7 anos, e do Arthur, de 4.
Em razão da pandemia, o Japão vem limitando a entrada de turistas nos últimos meses. Até mesmo os torcedores estrangeiros foram vetados, algo único na história das Olimpíadas. A preocupação é que os Jogos aumentem o número de casos de covid-19 no país, o que realmente vem acontecendo nos últimos dias. Por isso, o número de credenciais também foi limitado aos comitês olímpicos de cada país participante. No caso do Comitê Olímpico do Brasil (COB), se restringiram ao corpo técnico e de preparação física.
Fernanda admite que, se não fossem as restrições, estaria acompanhada do marido, Diogo Horn, e dos dois filhos. “Minha família sempre me acompanhou, desde os Jogos de Sydney-2000. A Roberta já estava no Rio-2016. A ideia inicial era ter eles aqui comigo para poder ver as crianças, matar a saudade. Mas não tivemos escolha. Foi bem difícil sair de casa, embarcar, e está sendo bem difícil agora para mim e para eles também”, afirmou a primeira medalhista olímpica da vela feminina brasileira, ao lado de Isabel Swan, em Pequim-2008.
A solução é conversar pelos aplicativos de celular. “A minha filha mais velha entende o que está acontecendo, até curte um pouco. Mas o pequeno não entende nada. Até me dá ‘castigo de gelo’, não quer me ver muito no vídeo”, contou Fernanda, de 40 anos, que conta com o marido para a “jornada dupla” em casa em Porto Alegre. “Ele está cuidando das crianças sozinho, está sendo pai e mãe e trabalhando também. Um ponto negativo da pandemia foi a menor convivência das crianças com os avós. Preservamos bastante a vida deles.”
A distância também dói em Tandara, referência da seleção de vôlei, embora ela tenha passado por um período de adaptação. “Está um pouco mais fácil agora porque na Liga das Nações ficamos longe por 37 dias”, contou a mãe de Maria Clara, de 5 anos. “Expliquei para ela antes de vir. Fico até emocionada em falar… Disse que a mamãe ia viver o seu sonho, eu disse que ia precisar muito dela, que ela ajudasse o papai, que ficasse bem. Ela externou isso para a professora da escola: ‘sabe, professora, eu estou com muita saudade da minha mãe, mas eu estou muito feliz porque ela está vivendo o sonho dela'”, relatou Tandara.
Os papais também sofrem com a saudade, principalmente os de primeira viagem. Dono de duas medalhas olímpicas, Arthur Zanetti tinha planos de levar o filho Liam, de apenas dez meses, e a esposa Jéssica. Pediu até autorização para o pediatra, que teria aprovado. “Para as Olimpíadas tem que abrir uma exceção. É a cereja do bolo”, dissera o ginasta ainda em 2020. Mas os planos precisaram mudar por causa das restrições dos Jogos de Tóquio. Liam ficou com a mãe em Santo André (SP).
O mesmo aconteceu com o pequeno Théo, de 11 meses, filho de Leonardo de Deus. Já em solo japonês, o nadador ganhou uma surpresa. “Ele falou ‘papai’ pela primeira vez. Eu estava tentando escutar esse ‘papai’ pessoalmente, mas eu consegui escutá-lo por vídeo. Tinha que escutar essa palavra antes de nadar. Vai me dar muita energia e muita força para eu poder dar o meu melhor”, disse o atleta de 30 anos.
Mães e pais olímpicos se agarram aos seus objetivos em Tóquio para superar a saudade. “O que dá forças é ter um objetivo muito grande, que é representar o Brasil em mais uma edição dos Jogos, dar o melhor de mim. Afinal, fiz tanto para estar aqui”, disse Fernanda de Oliveira. “Estou realizando um sonho. Tenho que agradecer a minha família, que está sempre do meu lado, meu pai, meu marido, e a Maria Clara, por estar dando essa força porque ela é o meu propósito. Ela é o que me faz levantar todo dia e tentar ser uma pessoa melhor.”
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