Desde que a retirada de tropas americanas começou, em maio, o número de mortos entre civis bateu recorde e mais de 100 mil pessoas já deixaram o país, com medo do agravamento dos conflitos. Os militares americanos devem deixar o país este mês.
No sábado, 30, os combatentes do Taleban lançaram foguetes nos aeroportos de Kandahar e Herat, duas das maiores cidades e centros econômicos mais movimentados do país. Os ataques interromperam as viagens comerciais, embora os voos de entrada e saída de Herat tenham sido retomados.
Os ataques marcam um ponto de virada potencial no conflito afegão. Anteriormente, os confrontos eram em grande parte confinados às áreas rurais do país ou cidades menores disputadas pelos militantes.
Ataques convencionais em grande escala em Kandahar e Herat, a segunda e a quarta maiores cidades do país, têm o potencial de colocar em perigo milhões de civis. Outro alvo da ofensiva Taleban é a cidade de Lashkar Gah, na fronteira do Afeganistão com o Tajiquistão.
Os relatórios iniciais sugeriram que o ataque com foguete contra Kandahar veio do lado leste da cidade, onde os combatentes do Taleban avançaram. Autoridades locais esperam mais ataques nos próximos dias, por causa da deterioração da situação de segurança e da remoção de um sistema antimísseis americano que protegia o campo de aviação antes da retirada das forças americanas da província de Kandahar.
Os ataques do Taleban na província de Kandahar já duram meses, mas nos últimos dias o grupo começou a se aproximar do centro da cidade, a capital.
As linhas de frente que cruzavam os subúrbios agrícolas há apenas algumas semanas atrás agora abrangem bairros densamente povoados. A apenas algumas centenas de metros de um bairro controlado pelo Taleban na fronteira oeste de Kandahar, as forças do governo transformaram um salão de casamentos e uma opulenta casa de vários andares em bases improvisadas.
Fuga
Milhares de civis estão sendo forçados a fugir de suas casas. Mais especificamente na cidade de Kandahar, acampamentos improvisados surgiram em terrenos baldios.
Jalil Ahmad, 30, disse que sua casa foi destruída por um ataque de morteiro e que seus ouvidos ainda zumbiam com a explosão. Ele disse que uma unidade policial assumiu uma posição de tiro no telhado de sua casa e que os combatentes do Taleban retaliaram com uma rajada de morteiros.
“Uma parede inteira desabou sobre a minha família”, disse ele. “Nunca vimos uma luta assim em nossa área antes.”
Em Herat, as forças especiais afegãs foram enviadas para a capital no domingo para ajudar a conter os avanços do Taleban. Os combatentes do Taleban violaram os limites da cidade e um complexo da ONU foi atacado, com os confrontos durando horas. As Nações Unidas condenaram o ataque. Um comunicado do Taleban descreveu a destruição como lamentável, dizendo que o grupo continua comprometido em proteger a ONU.
Avanços
A pressão do Taleban sobre as principais cidades ocorre em um momento em que o grupo continua a espremer capitais de província muito menores em áreas há muito contestadas por militantes. Em Helmand, uma província que é uma das menos estáveis do Afeganistão há anos, os combates se intensificaram na semana passada, aumentando os temores de que a capital da província caísse. Os combatentes do Taleban avançaram para dentro dos limites da cidade e estão constantemente se aproximando do complexo do governo central.
As forças afegãs responderam com ataques aéreos. Um ataque aéreo atingiu um pequeno hospital nos arredores da cidade no sábado, matando o parente de um paciente e ferindo outras quatro pessoas, incluindo um paciente e três funcionários, de acordo com o diretor do hospital, Mohammad din Naraiwal.
À medida que os ataques aéreos se aproximavam nos últimos dias, Naraiwal comunicou-se repetidamente com as forças do governo afegão, pedindo-lhes que não atacassem as instalações. Ele disse que nenhum combatente do Taleban estava presente no prédio quando foi atingido. “Estou preocupado que se o governo reabastecer suas forças, haverá mais combates”, disse. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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