Conforme relato de moradores nas redes sociais, após o ataque ao banco e troca de tiros com a polícia, pedestres e motoristas foram abordados e feitos reféns. Em vídeos, é possível ver moradores da cidade amarrados em carros sendo feitos de “escudo humano” para a fuga da quadrilha.
Em nota, a PM informou que os criminosos deixaram explosivos em pelo menos 14 pontos da cidade, inclusive em um caminhão deixado em frente a uma das agências atacadas. Por isso, autoridades recomendam que moradores não saiam de casa. Estima-se que a quadrilha tenha ao menos 15 integrantes, que usaram dez veículos na ação. Eles teriam ainda utilizado drones para monitorar a ação e se esquivar dos policiais, tanto na chegada à cidade quanto na fuga para a zona rural.
Pelo menos duas agências bancárias tiveram seus caixas danificados por ação de explosivos, e outras tiveram disparos de arma de fogo. Durante a fuga, veículos utilizados no assalto foram deixados para trás com munição e armas de grosso calibre, como fuzis e “miguelitos”, artefatos de metal utilizados para furar pneus.
Ainda segundo a polícia, os criminosos incendiaram veículos em locais estratégicos para dificultar o acesso à cidade. A quadrilha ateou fogo em carros deixados nas pontes do Rio Tietê em Buritama e Santo Antônio do Aracanguá, no trevo de Guararapes, na praça de pedágio em Glicério e no centro de Araçatuba.
O designer gráfico Amylton Quirino de Oliveira, 50, estava na cidade durante o assalto e relata ter começado a ouvir tiros contínuos a partir da meia-noite. Mais tarde, passou, também, a ouvir explosões muito fortes. Da janela de seu hotel, no centro, ele diz ter visto um caminhão incendiado para impedir o trânsito, carros passando em alta velocidade e pessoas correndo. “O som das bombas explodindo era muito forte, parecia uma zona de guerra”, diz.
Em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira, o porta-voz da Polícia Militar do Estado de São Paulo afirmou que uma das pessoas que acabou sendo alvejada e morta havia descido de seu carro para filmar a ação dos criminosos. Ele acrescentou que há 380 policiais fazendo o patrulhamento da cidade, entre integrantes da segurança local e enviados para reforço.
O prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), afirmou em entrevista à TV Globo que comunicou o assalto ao governador João Doria (PSDB) durante a madrugada e a cidade recebeu reforço de segurança de Bauru, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. Borges recomendou que a população aguarde em casa enquanto o trabalho da polícia é feito, e acrescentou que os criminosos podem ter esparramado artefatos explosivos nas vias enquanto fugiam. “Eles colocaram barricadas nas rodovias principais, atearam fogo em carros e caminhões”, disse.
Nas redes sociais, o prefeito reforçou o pedido para que as pessoas fiquem em casa e anunciou que as aulas na cidade estão suspensas. “Estou em contato com as autoridades militares e para segurança da população, nesta segunda-feira (30) estaremos cancelando as aulas nas escolas municipais e estaduais, também peço a todos que caso possível evitem sair de suas casas, pois temos informações que ainda há explosivos em alguns pontos no centro da cidade”, escreveu. O prefeito também pediu que a população informe a polícia se vir qualquer material estranho.
A Santa Casa de Araçatuba informou que atendeu duas pessoas feridas no ataque, um adulto que foi baleado e um adolescente que foi atingido por estilhaços de um explosivo.
Ainda de acordo com a Polícia Militar, algumas entradas da cidade foram fechadas pela quadrilha para evitar que reforços policiais cheguem ao local. Por causa da gravidade da ocorrência, o Baep de São José do Rio Preto, a 151,5 km de Araçatuba, foi acionado para auxiliar no caso.
Tipo de crime é conhecido como novo cangaço
A ação de quadrilhas especializadas em grandes assaltos, como este em Araçatuba, é conhecida nos meios policiais como “novo cangaço”. O termo faz referência aos bandos itinerantes que atacavam quartéis e roubavam instituições financeiras em pequenas cidades do sertão nordestino, no século 19.
Os ataques nos dias atuais envolvem grupos de 20 a 40 bandidos fortemente armados. Quase sempre os alvos estão em cidades pequenas, com efetivo policial reduzido. As ações são planejadas e, dependendo do alvo, as quadrilhas usam armas de guerra, como metralhadora calibre ponto 50, e recursos tecnológicos, como o drone usado em Jarinu. Conforme a polícia, as ações são planejadas e quase sempre envolvem facções criminosas.
Desde o ano passado, ataques semelhantes foram registrados em outras cidades paulistas, como Mococa (abril de 2021), Araraquara (novembro de 2020) e Botucatu (julho de 2020).
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