Nesta época do ano, felizmente, é possível observar pelas ruas, praças e centros esportivos que a população tem buscado praticar mais atividades físicas e com essa boa notícia, surgem reflexões sobre o desenvolvimento seguro de cada atividade. Sobre essa perspectiva um ponto que pode ser perigosamente negligenciado pelos atletas amadores são os cuidados com a saúde ocular e proteção dos olhos para evitar lesões.
Estima-se que no Brasil, os traumas oculares relacionados ao esporte sejam a quarta maior causa de incidência, chegando a representar 25% dos casos de lesão ocorridos. Neste caso, a indicação é de máxima atenção, com atenção especial à correção de erros refrativos e prevenção a traumas oculares, sejam eles de contato, por exposição excessiva ao sol ou à água.
Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia “O olho é um órgão que possui 15 vezes mais terminações nervosas que os outros órgãos do corpo, e é a região mais exposta do corpo; a que recebe mais luz. A exposição a raios UVA e UVB pode queimar a superfície do olho e o vento, por sua vez, pode ressecar o órgão. Com isso, são indicados óculos de sol para a prática de atividade física, inclusive para evitar lesões nos olhos que podem ser causadas por poeira, galhos e pedra”.
TRAUMAS OCULARES
Apesar de estar bem protegida dentro do crânio pela órbita, pelas pálpebras e cílios, a estrutura ocular é bastante delicada e por isso suscetível a lesões. Falando sobre lesões esportivas, a médica oftalmologista, Renata Siviero, explica que estas estão mais comumente associadas a esportes de contato direto ou que envolvem bolas, raquetes, entre outros equipamentos, como esportes de luta, futebol, tênis, entre outros.
A médica explica que “os traumas podem ser contusos, lacerantes ou perfurantes, gerando lesões que variam de lacerações palpebrais, conjuntivais e arranhões corneanos, a hemorragias intraoculares, inflamações, deslocamento de cristalino, catarata, desenvolvimento de glaucoma, descolamento e alterações retinianas e perfurações oculares, alterações que podem ser extremamente graves e até evoluir para cegueira”.
Renata alerta ainda que os traumas oculares causados pela exposição excessiva ao sol e a água, que podem gerar inflamações corneanas e até alterações retinianas.
AVALIAÇÃO MÉDICA
Renata Siviero salientou ainda que “o cuidado e o tratamento da nitidez das imagens que, na maioria das vezes, está relacionado a erros refrativos como miopia, astigmatismo e hipermetropia, é uma das principais áreas em que oftalmologista pode auxiliar o atleta e assim melhorar tanto seu desempenho, quanto evitar acidentes. Por sua vez, alterações na noção de profundidade, que só é possível com o bom funcionamento da visão binocular, e no campo visual, que auxilia na auto localização e amplitude de visão, podem ser irreversíveis e assim limitar a prática de alguns tipos de esportes”.
As condições ambientais em que cada esporte é realizado também devem ser observados. “É preciso adotar cuidados específicos para cada situação, como por exemplo a exposição excessiva ao sol, à água, a queixas de lacrimejamento, fotofobia, ardência nos olhos, entre outros”.
EQUIPAMENTOS CORRETOS
Para aumentar a proteção nas práticas de atividades esportivas, a oftalmologista recomenda o uso de produtos adequados para cada finalidade. “Os avanços tecnológicos na oftalmologia nos fornecem hoje várias alternativas para a prevenção e tratamento das doenças oculares. Por exemplo, temos vários diferenciais de óculos especiais para a prática esportiva que combinam materiais leves e resistentes para tolerar fortes impactos, lentes com proteção contra radiação UVA e UVB, e modelos que deixam as lentes bem ajustadas ao rosto para melhor ergonomia, e que podem ainda ser adaptados para esportes aquáticos, se necessário”.
A médica destacou ainda outros recursos preventivos. “Temos possibilidades de lentes de contato, cirurgias refrativas e alternativas que devem ser sempre particularizadas pelo profissional oftalmologista junto com o paciente para que se possa atingir a melhor alternativa e assim garantir o bom desempenho na prática esportiva e a manutenção da saúde ocular”, observou.
Tratar de problemas já existentes e que comprometem a visão durante as atividades também pode ser muito importante para evitar complicações de saúde futuras. Neste contexto, a oftalmologista argumenta que como a prática da atividade esportiva requer boa visão, para ter sua execução mais segura, é essencial realizar uma avaliação com médico especialista para identificar problemas oculares e desta maneira evitar possíveis acidentes no futuro. “Temos basicamente três qualidades essenciais à boa acuidade visual: nitidez da imagem, percepção de profundidade e campo visual. Diferentes esportes irão exigir mais ou menos de cada uma destas qualidades, por isso o ideal é que todos os atletas, antes de iniciarem a prática esportiva, passem por uma consulta oftalmológica para avaliação completa da função visual, identificação precoce de possíveis alterações e estabelecimento de tratamentos e ajustes visuais para a prática segura e mais efetiva de cada esporte de acordo com as suas exigências”, explicou.
CUIDADOS BÁSICOS
De acordo com a Academia Americana de Oftalmologia alguns cuidados que podem ser tomados para evitar lesões. São eles:
• Os praticantes de esportes devem usar a proteção adequada para os olhos, como: lentes de policarbonato ou máscaras, mesmo que a liga esportiva não exija o uso dos mecanismos protetores.
• Pessoas que usam lentes de contato ou óculos também devem usar óculos de proteção adequados. As lentes de contato e os óculos comuns não oferecem proteção suficiente ao olho, quando atingido por um projétil.
• Para preservar a visão restante, todos os atletas que possuem visão em um olho apenas, aqueles com um olho normal e o outro olho com menos de 20/40 de visão, mesmo quando usarem óculos ou lentes de contato, devem usar óculos de proteção adequados para todos os esportes.
• Atletas que tenham visão em um único olho, aqueles que tiveram uma lesão ocular ou passaram por uma cirurgia ocular, não devem participar de lutas de boxe ou de esportes que envolvam as artes marciais por causa do alto risco de ferimentos graves adicionais que podem levar à cegueira.
• Em esportes em que uma máscara ou capacete com protetor ocular, ou blindagem devem ser usados, como futebol e vôlei, é altamente recomendável que os atletas com visão em apenas um olho também usem óculos esportivos.
• Óculos de proteção esportiva devem ser substituídos quando danificados ou em decorrência do tempo, pois, eles podem ter ficado enfraquecidos e perderem suas propriedades protetoras.
CIRURGIA REFRATIVA
Segundo a médica oftalmologista alguns casos são passíveis de diminuir ou corrigir os problemas de refração ocular através da cirurgia refrativa, o que ajudaria a reduzir ou acabar com a dependência de óculos de grau e lentes de contato. “Existem basicamente dois grupos de cirurgia refrativa: um pela aplicação de laser na córnea, outro pela introdução de uma lente intraocular”, disse.
Renata explicou que a cirurgia refrativa a laser é a forma mais comum de cirurgia refrativa. Ela é indicada para tratar de casos de miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia. “Em constante evolução, hoje temos três tipos principais de cirurgias a laser: SMILE, LASIK e PRK, sendo que a melhor técnica vai variar com as particularidades de cada caso”.
“Esta cirurgia é um procedimento de alta segurança, exatidão e bons resultados, quando bem indicada, garantindo, na maioria dos casos, independência dos óculos e lentes e consequentemente melhora da qualidade de vida para o paciente”, observou a médica.
A mesma explicou, no entanto, que antes da realização do procedimento, o paciente precisa ter o seu grau de óculos estabilizado por pelo menos 1 ano, e exames específicos de córnea deverão ser realizados para determinar se o paciente é ou não um candidato ao procedimento. “Uma córnea saudável é fundamental para uma cirurgia segura e de sucesso. Após confirmação da indicação cirúrgica, sob anestesia tópica (colírio anestésico), a aplicação do laser gera uma remodelação da córnea, corrigindo assim o erro refrativo”.
Geralmente a cirurgia é feita em ambos os olhos no mesmo dia, sem necessidade de oclusão ocular ou repouso hospitalar. A recuperação é rápida, mas dependendo da técnica do laser pode apresentar uma média de 3 dias de desconforto ocular no pós-operatório. O tempo de cirurgia também vai variar de acordo com a técnica cirúrgica.
Com relação à cirurgia refrativa pelo implante de lente intraocular, a oftalmologista Renata explica que esta é uma alternativa, principalmente, para pacientes que apresentam características que contraindicam a cirurgia com laser como, por exemplo, graus elevados e córneas muito curvas ou finas. “Pessoas com estas limitações também podem se livrar dos óculos por meio do implante das lentes intraoculares. É uma cirurgia capaz de corrigir miopias de até 18 graus e hipermetropias de até 10 graus. Casos de astigmatismo e hipermetropia grave também podem ser corrigidos com as lentes intraoculares. A cirurgia é feita em um olho por vez, e a recuperação é tranquila, porém, o paciente deverá evitar esforços físicos por pelo menos 15 dias”.
“É fundamental uma avaliação oftalmológica completa incluindo avaliação de hábitos, prática de esportes, exigências e expectativas visuais de cada paciente, para que a melhor forma de correção visual seja indicada para cada caso, e assim atingirmos um resultado de sucesso, concluiu.
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