Especialista fala sobre sintomas e tratamentos que podem ajudar as mulheres a passar por este período sem preconceito e sofrimento
De acordo com o Estudo Brasileiro de Menopausa, realizado em 2022, que entrevistou mais de 1500 mulheres, a idade média da mulher entrar na menopausa no Brasil é de 48 anos. Esta é uma fase delicada na vida de muitas pessoas porque envolvem mudanças hormonais e os sintomas nem sempre são agradáveis de conviver.
A médica geriatra, Giana Daclê Telles, explica que a menopausa considerada natural significa o último período menstrual da mulher e ela ocorre porque os baixos níveis de estrogênio e progesterona não estimulam o revestimento do útero (endométrio) no ciclo normal. “É importante destacar que os níveis hormonais podem flutuar por vários anos antes de se tornarem tão baixos que o endométrio permaneça fino e não sangre mais”, disse. Essa condição também pode ocorrer quando os ovários são danificados por um tratamento específico, como quimioterapia ou radioterapia, ou quando são removidos, geralmente, no momento de uma histerectomia.
Algumas mulheres também podem vivenciar essa condição física após os 54 anos, onde é possível identificar uma menopausa tardia. “Nesta idade cerca de 80% das mulheres já terão parado de menstruar”.
Sintomas
Acredita-se que os níveis baixos e variáveis resultantes dos hormônios ovarianos, particularmente, o estrogênio, sejam a causa dos sintomas da menopausa. “Muitas mulheres percebem os primeiros sinais enquanto ainda estão menstruadas, quando a produção hormonal está diminuindo gradualmente. Este estágio de queda gradual e flutuação dos níveis hormonais costuma ser chamado de “climatério” ou “mudança” e geralmente começa na 4ª década e pode durar vários anos”, explicou a geriatra.
Segundo a mesma, como a função ovariana flutua, as mulheres podem apresentar sintomas de menopausa intermitentemente. “Algumas mulheres experimentam uma condição precoce ou prematura, após a qual os sintomas podem ocorrer, dependendo da causa, imediatamente. O início dos sintomas geralmente segue uma menopausa cirúrgica e a duração dos “primeiros” sintomas é muito variável, podendo ser de alguns meses a muitos anos. A gravidade também varia entre os indivíduos”.
Os primeiros sintomas da menopausa incluem problemas físicos, sexuais e psicológicos. Neste caso, as mulheres devem ficar atentas se sentirem com frequência, ondas de calor, suor noturno, palpitações, insônia, dores articulares e dores de cabeça.
Bem conhecidos, os calorões, ou flash, se apresentam como um sintoma clássico queafeta cerca de 60-85% das mulheres na menopausa. “Esses sintomas são chamados de vasomotores e variam em gravidade e duração; podendo ocorrer ocasionalmente sem causar muito sofrimento, ou ainda, em cerca de 20% dos casos, se apresentarem de forma grave e causando interferência significativa no trabalho, no sono e na qualidade de vida”.
Geralmente a duração destes sintomas vasomotores é de aproximadamente 2 anos, mas, para cerca de 10%, os sintomas podem continuar por mais de 15 anos. “Os fogachos geralmente duram de 3 a 5 minutos e acredita-se que sejam causados por uma mudança na parte do cérebro que controla a temperatura. No início da noite, essas pequenas mudanças normalmente não são notadas, mas devido a uma mudança na configuração do centro de controle de temperatura do cérebro, o corpo pensa que está superaquecendo mesmo quando não está. Para tentar resfriar, uma variedade de reações químicas faz com que os vasos sanguíneos da pele se abram, dando a sensação de uma onda de calor, e as glândulas sudoríparas liberam o suor para dissipar o calor”, explicou Giana.
Como osrubores afetam cada mulher de maneira diferente a médica explica que em muitos casos, não será necessário um tratamento específico. “Já quando as descargas são perturbadoras e afetam sua qualidade de vida, o médico definirá um plano de tratamento individualizado, visando combater as dores de cabeça, palpitações (sensação de coração acelerado) e tonturas que também podem estar associados a sintomas vasomotores”.
Ainda, devido à menopausa, os baixos níveis de estrogênio podem causar alterações na vagina e na bexiga, ocasionando em desconforto e problemas urinários. “A secura vaginal pode ser aliviada por lubrificantes e hidratantes vaginais, e as alterações subjacentes à deficiência de estrogênio podem ser curadas com estrogênio vaginal, que é eficaz e seguro”. Neste caso, as mulheres devem ficar atentas aos sintomas: secura vaginal antes/durante o sexo, desconforto vaginal, dor durante o sexo, coceira e/ou queimação vaginal, coceira ou irritação nos lábios externos, infecções vaginais ou urinárias frequentes ou recorrentes, sintomas de candidíase e falta de controle da bexiga.
Tratamento
Com relação a terapia de reposição hormonal (TRH) sistêmica, que é indicada para o alívio dos sintomas da menopausa, a geriatra destaca alguns dos benefícios. “Este ainda é o tratamento disponível mais eficaz, considerando que auxilia, e muito, no alívio de sintomas como ondas de calor, suores, alterações de humor, irritabilidade, insônia, palpitações, dores nas articulações, secura e desconforto vaginal e frequência urinária”. A médica observa, no entanto, que o tratamento será definido a partir das condições individuais de cada paciente.
Outra aplicação positiva desta terapia, segundo Giana, está relacionada ao tratamento complementar ou preventivo da osteoporose, doença comumente conhecida entre as mulheres devido ao alto índice de diagnósticos em idades mais avançadas. “Esta opção é mais eficaz como ação preventiva, que deve incluir uma alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos, além disso, para um tratamento completo e eficaz, o médico deverá analisar o estado hormonal, uso de corticosteroides, estatura corporal, história familiar e fratura anterior por trauma mínimo”.
O conselho geral para quem deseja minimizar os efeitos da osteoporose inclui uma dieta bem balanceada e rica em cálcio, evitar fumar ou ingerir álcool em excesso e praticar exercícios regulares com levantamento de peso.
Já a relação risco/benefício da terapia hormonal varia entre as mulheres, também de ano para ano, dependendo da presença ou não de sintomas, outros antecedentes médicos e número de anos em que TRH está sendo realizada. “Não há limites arbitrários de quanto tempo a TRH pode ser tomada, cabe a cada mulher equilibrar os riscos contra os benefícios para ela. Algumas mulheres podem não precisar deste tratamento, ou podem tomá-lo apenas por alguns anos, enquanto outras continuam a fazer por muito tempo, uma vez que continua a fornecer benefícios significativos para elas. O fato é que toda mulher deve ser apoiada para fazer uma escolha informada sobre o uso da terapia de reposição hormonal”, concluiu.
Alimentação
Ainda segundo a geriatra, Giana, as mulheres que se exercitam e seguem uma dieta saudável conseguem lidar melhor com as mudanças da menopausa, com os sintomas da osteoporose, além de se proteger contra o surgimento de outras doenças, como as cardíacas.
“Uma dieta saudável deve incluir 5 porções de frutas/vegetais por dia. Tente incluir alimentos não refinados e procure ingerir menor quantidade de alimentos ricos em gordura, sempre evitando o consumo exagerado de cafeína e álcool. Lembre-se que já é comprovado que o excesso de peso piora os rubores e aumenta o risco de doenças cardíacas e diabetes, além de aumentar o risco de câncer de mama. Tente manter um Índice de Massa Corporal (IMC) saudável”.
Com relação a prática de exercícios físicos, a médica alerta que todos nós devemos ter esse hábito como uma prioridade em nossa rotina diária. “O exercício regular não só ajuda na perda de peso, mas também reduz o risco de diversas doenças, incluindo o câncer. É importante lembrar que as mulheres que fumam têm uma menopausa mais precoce, com rubores piores e maior dificuldade de obter resultados positivos com a terapia de reposição hormonal, portanto a recomendação é de parar de fumar”, disse.
A geriatra finaliza lembrando que sempre é possível “usar positivamente o tempo escolhendo começar a viver uma vida melhor e mais saudável”.
Testosterona
A geriatra Giana ressaltou que os ovários também contribuem para a produção do hormônio “masculino”, e por esta razão, o interesse no uso de testosterona para tratamento de mulheres na pós-menopausa tem aumentado. “Existem, inclusive, estudos que indicam uma melhora do humor e sensação de bem-estar, embora as evidências sejam limitadas. Além disso, o uso de testosterona está associado a melhorias em alguns aspectos da função sexual feminina. Esta é um benefício que tem levado muitas mulheres a considerar aderir a este tratamento”, disse.
Neste caso, é importante lembrar que “atualmente, a única indicação recomendada para o uso de testosterona para mulheres é para baixo desejo sexual persistente, conhecido como distúrbio do desejo sexual hipoativo, HSDD”. A médica explica ainda que o desejo sexual nas mulheres é complexo, podendo ser influenciado por uma série de fatores físicos como baixa energia, ansiedade, mau humor, secura vaginal e desconforto, além de problemas de relacionamento e do estresse da vida cotidiana. “É prudente lembrar que a reposição de testosterona pode não é uma resposta mágica ao problema da queda de libido”, salientou.
Como em todos os tratamentos, a possibilidade de efeitos colaterais desse tratamento também deve ser considerada. “Temos a possibilidade de alterações cutâneas, ligeiro aumento de pelos faciais e engrossamento da voz que é uma condição rara e, ainda menos prováveis, é possível o surgimento de anormalidades da função hepática. Esses efeitos adversos podem ser minimizados monitorando os níveis de testosterona no sangue”, concluiu.
Conheça outros cuidados necessários à boa saúde da mulher
• Tenha cuidado com quedas, elas podem causar traumatismos e fraturas;
• Pratique atividades físicas;
• Faça, no mínimo, três refeições por dia;
• Consulte regularmente o seu médico;
• Coma frutas, legumes e verduras diariamente e inclua nas suas refeições ovos, peixes, aves e grãos integrais;
• Fique atenta ao seu cronograma de vacinação. A vacinação contra a gripe, por exemplo, acontece anualmente e evita muitas complicações;
• Tenha momentos de lazer com sua família. Procure sempre estar em contato com outras pessoas;
• Evite a solidão!
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