Dirceu Antonio Ruaro
Venho falando de conivência, respeito, educação para a vida. Na semana passada tentei responder a uma questão sobre a diferença ou diferenças entre ensinar ou educar para a vida.
É muito comum usarmos o termo ensinar para todas as situações em que há algum aprendizado. Então, não é de todo equivocado falar-se em “ensinar para a vida”, porém parece mesmo mais adequado usarmos o conceito de “educar para a vida” quando queremos nos referir a aprendizados permanentes e que mudam nosso pensamento e ações nas relações humanas que vivemos.
Concordo com a ideia de que “falar é fácil”. Dar receitas, conselhos e até intrometer-se em assuntos pessoais dos outros é fácil. A visão das vivências muda de perspectiva quando nos colocamos no lugar do outro. Por isso, falar “se fosse eu, no seu lugar”, muda muito quando a situação concreta é conosco.
Lembro-me bem de minha mãe quando dizia: “olha, é fácil dizer faça assim ou assado, mas se você não for capaz de se colocar no lugar da pessoa, sentir o que ela sente, fica difícil dar uma opinião”.
Mais, lembro-me também de que minha mãe dizia que era fácil dizer “faça isso ou faça aquilo”, mas difícil é dar o testemunho de que você “age da mesma maneira que fala”.
É interessante observar que em termos de educação de filhos para a vida, não há receita pronta, aliás, em termos de educação de filhos, nunca há receita, sabemos disso.
Parece ser importante entender que a noção de que como seres humanos somos ao mesmo tempo iguais, porém distintos em nossa individualidade e que a família na qual nascemos, crescemos e somos educados, tem valores, ideias e ideais diferentes umas das outras.
A noção de sociedade, de família, de amizades, de religião, de direitos e deveres não é uma visão totalmente homogênea, aqui e ali, identificamos diferenças que marcam e, de certa forma, definem as famílias. E é isso que acaba diferenciando uma família da outra e, na mesma família, os membros entre si.
Então, parece-me que duas coisas são fundamentais no sentido de educar para a vida. Primeiro: que aquilo que se diz, seja igual àquilo que se faz. Segundo: aprender a colocar-se no lugar do outro antes de querer julgar o outro.
Para isso é necessário, como pais, que aprendamos a dialogar com os filhos. O diálogo, a conversa, não precisa ser formal, aliás, na família não se pode ter “momentos de diálogos”, o diálogo deve ser permanente. E um grande cuidado no exercício do diálogo é saber ouvir.
Muitos de nós temos dificuldade de ouvir os outros, especialmente os filhos. Mas na educação para uma vida futura, é fundamental saber ouvir, para poder dialogar. Nossos filhos têm seus pontos de vista, suas razões, seus conceitos. Intervir nisso quando há necessidade é muito importante, porém, saber ouvir para entender o que o filho pensa é ponto central para saber o que dizer e como dizer para poder conduzir um processo educativo. Exercitar a paciência de ouvir é um dos pilares da educação de filhos.
Outra questão importante é saber sair do automático do “não”. Tenho observado que muitíssimos pais pensam que dizer não a todo momento e para tudo, educa para a vida. Não é bem assim.
Saber dizer não e saber colocar limites nas atitudes e ações dos filhos, desde pequenos, é outro pilar da educação para a vida. Eles, nossos filhos, precisam aprender que não podem tudo, que não sabem tudo, que há limites entre eles e os outros.
Ora, se nós não ensinarmos isso, a própria vida se encarrega de ensinar. Só que nós podemos ensinar de forma mais terna, mais gentil enquanto que, a vida, nem sempre escolherá a forma de ensinar para nossos filhos. Enquanto nós podemos e devemos ensinar de forma amorosa, a vida, quase sempre escolhe a forma mais dolorosa, pois sabemos que na vida adulta, nossas vontades nem sempre, ou, na maioria das vezes, não são atendidas.
Essa é uma das razões de ensinar limites, eles precisam aprender desde pequenos que não se pode ser tudo e ter tudo e que a magia só ocorre nas histórias. A vida real é diferente da fantasia. Ensinar isso com amor e ternura, porém com firmeza, faz parte da educação para a vida.
Quando a intenção é “educar para vida” penso que muito mais do que falar e dar conselhos, deixar herança, é necessário ser o adulto referência para seu filho. Os filhos, quando pequenos querem ser iguais ao pai ou a mãe, basta perguntar para uma criança de 4 a 5anos. Mas, e se fizermos a mesma pergunta para meninos (as) adolescentes?
O que será que mudou tanto em dez anos?
Parece-me que “ensinar para a vida” seja muito ensinar pelo exemplo. O exemplo ensina e inspira nossos filhos, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER