Comunidade ucraniana do Sudoeste se manifesta sobre guerra

Conflito armado foi deflagrado na madrugada (hora de Brasília) da quinta-feira, e desde as primeiras horas da manhã descendentes de ucranianos que moram no Sudoeste vivem a apreensão causada pela ofensiva russa

Marcilei Rossi e Mariana Salles

O Paraná abriga cerca de 80% das comunidades ucranianas no Brasil. Só no Sudoeste, a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que engloba oito comunidades, abrange cerca de 700 famílias, sendo por volta de 500 residentes em Pato Branco. São netos e bisnetos de ucranianos, que vieram para cá no auge de imigração, por volta de 1910. Todas essas pessoas possuem um vínculo cultural muito grande com o país, que ontem (24) amanheceu, em partes, tomado por forças militares russas.

Mesmo que não haja nenhum pato-branquense vivendo na Ucrânia, há brasileiros de outras comunidades, como a de Prudentópolis, Curitiba e União da Vitória, vivendo no país do conflito.

A igreja liderada pelo Padre Sandro Daniel Dobkowski mantém um vínculo muito grande com as tradições ucranianas, mantendo a liturgia do rito ucraniano, celebrada na língua natal. No Brasil, são 250 comunidades católicas e 25 comunidades ortodoxas.

O Padre conta que o chefe maior da Igreja Ucraniana Católica é ucraniano, assim como a chefe das irmãs, que vive em Liviv, uma cidade perto da Polônia. “Conversamos pela manhã e ela me contou que hoje (ontem) ainda estava tranquilo, mas que ela espera que amanhã (hoje) esteja ‘quente’, então a expectativa é um aumento do clima de tensão”, comenta.

Padre Sandro conta que a paróquia mantém um grupo no whatsapp e que, por ele, recebeu muitas notícias sobre a situação de conflito. “Inclusive o ex-embaixador da Ucrânia no Brasil estava nos mandando notícias e disse que, nos últimos dias, estavam sendo convocados todos abaixo de 60 anos, inclusive eu. O alerta é muito grande. Ele nos deu essa informação dois dias antes de começar a guerra. Tinha alerta dos Estados Unidos, eles já estavam prevendo que isso ia acontecer”, diz.

Laços culturais

Demétrio Flyssak é neto de ucranianos e, por isso, a cultura ucraniana é muito forte em sua vida. “Mantemos os laços, as tradições, participamos de grupos nas redes sociais. Mesmo antes da ameaça de guerra, acompanhávamos noticiários de lá, recebíamos notícias dos padres, estamos sempre acompanhado”, diz.

“Não só para nós, para o mundo inteiro, é um sentimento muito grande. Infelizmente hoje aconteceu o que não esperávamos. O país inteiro está perplexo, tomado de preocupação. Tem muita gente sofrendo, e mais gente vai sofrer. É um momento de muita tristeza”, lamenta.

Flyssak acredita que país nenhum merece um abalo como este. “Pelo que a gente percebe, isso ainda vai longe. Que Deus ajude! O que podemos fazer agora é rezar e pedir que Deus amenize essa situação, que eles cheguem em um diálogo e que possam reduzir essa tensão”.

Para mobilizar essas orações, no dia 27, a paróquia fará uma intensa oração pela Ucrânia, não só em Pato Branco, mas em todo o Paraná, que abriga mais de 600 mil descendentes. Em nível mundial, o Papa Francisco pediu que toda a Igreja Católica se volte em orações pela paz no próximo dia 2, Quarta-feira de Cinzas.

“Enquanto houver no mundo”

Ivana Ostapiv Rigailo

Descendente de ucranianos tanto de lado paterno, como materno, a promotora de Justiça, Ivana Ostapiv Rigailo comenta que seu avô Theophilo Ostapiv, deixou a Ucrânia com destino ao Brasil ainda criança, em 1917, enquanto que pelo lado materno, seus bisavós Balabuch, na mesma época, porém deixaram a Ucrânia, passando pela Áustria até chegar ao Brasil.

Para Ivana a história da família é um resumo do que muitos migrantes ucranianos vivenciaram no passado, a fuga dos horrores da guerra. “Então novamente assombra a realidade de uma guerra na Ucrânia e traz um sentimento que a gente carrega já dos nossos ancestrais e nos causa muita tristeza.”

“Como descendente de ucranianos e acredito que de todos que descendem da terra-mãe sentem hoje é uma enorme tristeza e muito medo, exatamente porque nosso povo ucraniano é um povo que vem sendo assaltado por revoltas e guerras, especialmente impostas pela Rússia, a muito tempo e o povo ucraniano é um povo nacionalista, que ama a sua pátria e nós não vamos jamais entregar a terra ucraniana a quem quer que seja sem lutar”, afirma Ivana, falando ser “muito triste ter que reacender o sentimento de defesa da pátria pelo caminho das armas”, ao que ela volta a destacar que o povo ucraniano é povo pacífico.

A descendente de ucranianos lembra que de modo pacífico, em 1994 foi aceito o acordo de Budapeste fazer a entrega de todas as armas nucleares. “Num sentimento e compromisso de outros países, inclusive da Rússia, que jamais aconteceriam ataques e o povo ucraniano vai lutar até o fim. O povo ucraniano na sua diáspora no povo que teve que sair da sua terra natal e se espalhou pelo mundo inteiro nutre esse sentimento em relação a terra-mãe e não podemos permitir que a população que vive na Ucrânia muitos de nós ainda com parentes lá sejam massacrados, mortos, pela invasão russa. O sentimento a princípio é de muita tristeza, e de medo pelos nossos semelhantes.”

Ivana faz uso das palavras da poetisa ucraniana e paranaense Helena Colodi, para traduzir o sentimento de um povo. “A Ucrânia não morrerá jamais, enquanto houver no mundo um grupo jovem que dance suas danças típicas, cante suas canções folclóricas, cultive suas tradições como uma chama sagrada, os valores ucranianos passar de uma geração para outra até o fim dos séculos”, recorda afirmado que o sentimento traduzido em poesia, por Helena Colodi, “é o sentimento de todos os paranaenses que tem na Ucrânia a sua terra-mãe.”

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