Dirceu Antonio Ruaro
Tenho abordado questões relativas às novas gerações e seus relacionamentos intra e interpessoais na escola e na família.
É muito comum ouvir de pais e educadores que, dificuldades de relacionamento familiar e escolar, se dão por conta do chamado “conflito de gerações”.
Em termos conceituais, entende-se que conflitos de gerações sejam os “choques” entre valores que cada geração tem e nas motivações que cada uma delas possui.
Nessa visão, é interessante entender que cada geração ou, cada pessoa, tem alguma coisa que dá motivação para aquilo que faz ou deixa de fazer, para o modo como pensa ou age, diante de uma situação e que, devido a uma série de contextos são diferentes entre as gerações.
Se a diferença de idade entre pais e filhos pode ser uma chave que detona conflitos, o mesmo ocorre na sala de aula. A diferença de idade entre alunos e professores é muito semelhante a que ocorre entre pais e filhos.
Pais e professores vem de gerações em que os valores eram outros, o acesso às informações e mesmo ao conhecimento era outro.
Pais e professores, de hoje, são oriundos de um tempo em que, o respeito era a principal referência para que as pessoas pudessem se relacionar da melhor forma possível. Não que hoje o respeito seja desnecessário, não é isso, mas na formação dos pais e professores que hoje atuam, especialmente, com adolescentes e jovens, o respeito era condição essencial para os relacionamentos familiares e escolares. Diria até que era um fator de hierarquia entre pais/filhos e professores/alunos.
A falta de respeito era considerada sim, origem da maioria dos conflitos e/ou confrontos entre pais/filhos e professores/alunos.
Podemos mesmo considerar que a questão do respeito era uma espécie de “cultura familiar”, uma questão que marcava a “qualidade” da família e era socialmente importante para a vida da comunidade a qual se pertencia. De certa forma era uma “referência” que recomendava a família.
É evidente que havia situações de desrespeito, mas a forma de corrigi-las era imediata e muito severa. Rapidamente as famílias tomavam posição e corrigiam o “infrator” sem meias-palavras. Com certeza era um tipo de respeito “autoritário”, como disse, hierárquico.
Voltando à época atual, parece-me que essa cultura se deteriorou ao longo dos tempos. Parece-me que a “adaptação” aos “novos tempos” ou à modernidade da família atual ou melhor, da sociedade atual, a tolerância a certas atitudes, ganhou espaço no ambiente familiar e escolar.
E, sem medo de errar, acabamos caindo num modelo de comportamento desrespeitoso generalizado. Aliás, parece que corrigir um adolescente ou jovem, hoje, é uma atitude severa demais. Ou seja, a tolerância parece, de certa forma, abrangente demais.
De uma questão hierárquica, o respeito passou a uma questão de decisão pessoal, intimista, do arbítrio pessoal, muito relativo.
A figura materna, paterna ou professoral deixou de ser automaticamente respeitável, para se tornar uma questão de vontade pessoal. Por isso, creio que é necessário que, tanto a família quanto a escola, aprendam a construir uma cultura de respeito nas suas relações, para que filhos e alunos, posam experimentar essa vivência e colocá-la em prática nas relações interpessoais.
A família e a escola precisam aprender a discutir os comportamentos considerados desrespeitosos de forma clara e objetiva, de maneira que filhos e alunos aprendam a construir uma cultura de respeito consigo mesmos e com os outros.
Precisam ensinar a cuidar uns dos outros. A querer o bem uns dos outros. A construir um ambiente favorável à cultura de respeito por si mesmo e pelos outros.
Precisam ensinar que o respeito se conquista, mas também se constrói por meio de ações humanas de reconhecimento da importância de um e de outro, numa relação dialógica na qual cada um possa se manifestar, expor suas ideias e ser ouvido.
Precisam cultivar e manter uma cultura de respeito pelas normas e regras familiares, escolares e sociais.
Precisam ensinar a discutir valores, sem imposição hierárquica, num plano de igualdade humana que desempenha diferentes papeis: pai, mãe, professor, autoridades.
Precisam aprender a demonstrar por palavras, gestos e ações de demonstração de respeito, especialmente quando houver desacordos, construindo um código de conduta familiar e pessoal.
Penso que muito mais do que alegar “confronto ou conflito de gerações” a família e a escola, como “células mater” da sociedade precisam entender que o sucesso da educação para a humanização depende da forma como é conduzida a construção da ideia do outro na vida pessoal de cada um, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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