Dirceu Antonio Ruaro
Na semana passada, trouxe para nossa reflexão uma questão que incomoda pais e educadores de modo geral.
A sociedade atual, tem projetos que merecem apoio e outros que merecem ser colocados no devido lugar, ou seja, no lixo mesmo.
Há em desenvolvimento ideias mirabolantes de uma sociedade sem limites.
Ora, o próprio conceito de sociedade envolve a questão de limites e regras. Para os mentores dessa “nova sociedade”, não há regras nem limites para nada.
Cada um pode fazer o que quiser, como quiser, onde quiser, com quem quiser. Quebra-se todas as “amarras” segundo essas ideias.
Mas viver em sociedade implica sim em regras de comportamento social e em aceite de determinadas situações.
Um indivíduo sem regras, sem normas e sem leis justas não tem como se posicionar numa sociedade que se diga humana, pois sem esses condicionantes, como seriam as organizações, mesmo em termos de economia, desenvolvimento, política e assim por diante.
Em termos familiares e educacionais (referindo-me às organizações educativas formais), se não existirem normas e regras, a convivência seria um caos, ou quem sabe, nem convivência haveria.
Percebe-se que, os meios de comunicação atuais, na sua grande maioria e, diria, salvo raras e honrosas exceções, procuram incutir na mente das pessoas comportamentos que levam exatamente a entender que não se precisa de regras e normas. Que o limite não existe. Que os indivíduos devem ter total autonomia e liberdade para si mesmos, que sem considerar que o outro existe.
Convido-o, caro leitor, a imaginar um cenário sem regras, sem limites, no qual o limite seja você mesmo. Penso que imediatamente poderíamos perceber que a ideia é de dominação dos demais seres humanos. Sim, porque para poder fazer o que desejo sem limites, o outro teria de ser um indivíduo sem vontade própria.
Seria um cenário de dominação dos semelhantes, como, de certa forma, deseja os “grandes personals” de não sei quê, que invadem a mídia dizendo o que você deve fazer para ser feliz.
Preciso, no entanto, chamar nossa atenção para o fato de que o ser humano é um ser eminentemente social, que precisa de regras de convivência. Tanto o ambiente familiar como escolar, profissional e de lazer precisa de regras de convivência. Não para sufocar, mas para organizar a vida social.
Ora, precisamos estar organizados em família e na escola para realizar nossas tarefas diárias. Precisamos estar organizados com regras e limites para a convivência social, desde a ação de tomar um ônibus, de forma organizada, até entrar num cinema para assistir nosso filme favorito.
Ou seja, todos nós, esperamos que cada um respeite o limite e o direito do outro e é isso que dá credibilidade entre as pessoas numa rede de referências são utilizadas para determinada ação.
Nesse sentindo, a família tem como referência, ou deveria ter, os pais que dão o ritmo de funcionamento da casa e organizam as ações familiares para o bem-estar e a boa convivência ou convivência fraterna entre os membros da família.
A escola ou a organização escolar que precisa de regras e normas para entrar e sair, assistir aulas, participar de práticas educativas de forma que todos tenham acesso ao aprendizado pensado para e por aquela instituição.
Numa empresa, representação prática de uma organização social que produz bens para o consumo social, que, sem organização não teria como funcionar.
Uma cidade, cujo líder precisa estar acima de desejos pessoais e atender às necessidades básicas de saúde, educação, transporte, habitação entre tantos direitos sociais da população.
Um país cujo líder seja capaz de enxergar para além dos benefícios pessoais, a necessidade de atender os anseios de uma nação que precisa ter claro os limites da ação humana para “criar e desenvolver a humanidade necessária” para a convivência entre os diferentes e as diferenças que compõem a sociedade de um país.
Ou seja, há necessidade de uma rede de conexões entre as diferentes organizações para se ter uma organização maior que se chama “nação”, que seja conectada com os interesses e anseios individuais sim, mas que saiba respeitar os direitos e anseios coletivos.
Portanto, muito mais do que “ouvir” e “agir” conforme pregam os “ditadores” de certas ideias que diminuem o ser humano, que desumanizam os indivíduos, é preciso construir uma autonomia de pensamento e ação que seja capaz de identificar até onde se pretende ir com as ideias propagadas por redes de mídias sociais encarregas por determinadas áreas da sociedade, a não existência de regras e normas dizendo que tudo pode, tudo está certo, que os desejos individuais estão acima de tudo e de qualquer coisa, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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