Os setores comercial e residencial também tiveram reação, com altas de 19% e 4,9%, respectivamente. O consumo de energia no ano é superior ao verificado em 2019, antes da pandemia. Se por um lado esse aumento indica melhora na atividade econômica, por outro pode pressionar ainda mais o sistema elétrico. Até quarta-feira, o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade de armazenamento do País, estava em 24,64%, ante 28,92% de junho. Algumas hidrelétricas, como as da bacia do Rio Paranaíba, tinham volume de água abaixo de 15%.
“Diante de uma demanda em alta e oferta (água) em baixa, o risco é de não termos energia para todos em alguns horários do dia”, diz o professor da UFRJ Nivalde de Castro, coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel). Ele destaca que alguns setores, como os eletrointensivos em energia (que gastam muita eletricidade), estão tendo uma retomada mais forte porque precisam recompor o estoque reduzido durante a crise sanitária.
O governo, que nega o risco de racionamento, pretende iniciar em 1.º de setembro programas desenhados para incentivar indústrias e consumidores residenciais a economizarem energia. Desde junho, o Ministério de Minas e Energia (MME) vem desenhando medidas voltadas para grandes consumidores que, voluntariamente, se disponham a reduzir ou evitar o consumo de energia em determinados horários. Mas, com o agravamento da crise, a pasta também planeja compensar consumidores residenciais que economizarem energia, o que provavelmente será feito por meio de descontos nas contas de luz.
“Até o final deste mês, vamos apresentar um programa de resposta da demanda. O que isso significa? Que os grandes consumidores de energia e os residenciais também serão beneficiados, caso eles utilizem a sua energia em horários pré-determinados e isso será muito bom para o sistema como um todo e para redução também do custo da energia”, afirmou ontem o ministro Bento Albuquerque.
O presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, diz que, depois de definidos os parâmetros do programa, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) precisam fazer ajustes para iniciar o processo. Também é necessário tempo para as empresas se adaptarem e dizerem se vão ou não aderir ao programa.
“A ideia é que as empresas façam ofertas da quantidade de energia que podem economizar e quanto querem receber”, diz Pedrosa. O valor da energia que exceder o PLD (preço do mercado à vista) deverá ser incluído como encargo na conta de luz. “Essa é uma alternativa para aquelas empresas que podem deslocar a produção para alguns horários da madrugada, por exemplo.”
Mas nem todos os setores têm condições de aderir ao programa. O setor químico, cujo consumo aumentou 25% em junho, trabalha em processo contínuo (24 horas por dia). Qualquer parada precisa ser planejada com muita antecedência, diz a diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira. Segundo ela, o terceiro trimestre é o melhor para o setor, que cresceu 9,7% no primeiro semestre.
O presidente da indústria de produtos de limpeza e higienização Start Química, Fábio Pergher, confirma as restrições. Segundo ele, hoje não é possível reduzir um único quilowatt de energia. “Estou precisando de mais energia para produzir. Se diminuir o consumo, comprometo todo o investimento já feito e tudo vira um caos.” Na empresa, só há parada para manutenção aos domingos.
No setor têxtil, indústria que teve maior alta do consumo de energia em junho (de 60%), nem todos os segmentos conseguem aderir ao programa. “Para a indústria têxtil, a redução não é factível, pois o trabalho é 24 horas. Já na de confecção há maior flexibilidade”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. / COLABOROU MARLLA SABINO
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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