Uma pesquisa da Universidade de Chongqing, na China, publicada na revista científica Thorax, aponta que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados pode aumentar em até 41% o risco de câncer de pulmão, mesmo em pessoas que nunca fumaram.
O estudo analisou mais de 100 mil adultos nos Estados Unidos durante 12 anos, utilizando dados do Prostate, Lung, Colorectal and Ovarian Cancer Screening Trial. Ao longo do acompanhamento, foram registrados 1.700 casos de câncer de pulmão, sendo 1.473 de carcinoma de não pequenas células e 233 de pequenas células.
Maior risco mesmo após ajustes
Mesmo após ajustes estatísticos para fatores como tabagismo e exposição a poluentes, a associação entre o alto consumo de ultraprocessados e a incidência da doença permaneceu significativa.
Entre os 25% dos participantes que mais ingeriam ultraprocessados, a chance de desenvolver câncer de pulmão foi 41% maior em comparação ao grupo que consumia menos. O risco foi ainda mais alto em subtipos raros:
- Carcinoma de pequenas células: aumento de 44%;
- Carcinoma de não pequenas células: elevação de 37%.
Possíveis mecanismos do aumento de risco
Segundo o oncologista Gustavo Schvartsman, do Hospital Israelita Albert Einstein, diferentes fatores podem explicar essa relação. Entre eles estão as inflamações crônicas sistêmicas, o estresse oxidativo e as alterações da microbiota intestinal, que afetam as defesas do organismo.
O especialista lembra que substâncias presentes nos ultraprocessados, como nitratos e nitritos em carnes processadas (salsicha, presunto, bacon) e a acrilamida encontrada em batatas fritas industrializadas, já foram associadas ao desenvolvimento de tumores.
O que são os alimentos ultraprocessados
Os ultraprocessados são produtos industriais que utilizam aditivos como conservantes, corantes e aromatizantes, geralmente sem ingredientes in natura. Entre os exemplos mais comuns estão:
- refrigerantes e bebidas açucaradas;
- embutidos (salsicha, presunto, bacon);
- biscoitos recheados e salgadinhos;
- pratos congelados e sopas instantâneas.
Impactos na saúde e recomendações
Para o nutrólogo Rodrigo Costa Gonçalves, também do Einstein, o estudo reforça alertas já existentes sobre a associação dos ultraprocessados com obesidade, doenças cardiovasculares e outros tipos de câncer.
Ele ressalta, contudo, que nem todos os ultraprocessados apresentam o mesmo nível de risco. As carnes processadas estão mais ligadas ao câncer que bebidas açucaradas, embora ambas sejam prejudiciais.
“Um aumento de 41% no risco é significativo, mas o estudo mostra correlação e não causa direta. Ainda assim, é uma evidência forte para incentivar a redução desses produtos na dieta”, afirmou Gonçalves.
Redução como medida de proteção
Para os especialistas, diminuir o consumo de ultraprocessados deve ser visto como estratégia de saúde pública e também como escolha individual. O planejamento das refeições, o incentivo ao preparo caseiro e a busca por alimentos in natura acessíveis podem ajudar a reduzir a presença desses produtos no dia a dia.
“Cozinhar é um passo importante para redescobrir sabores e texturas, além de promover uma alimentação mais saudável e menos dependente de produtos prontos”, concluiu Gonçalves.
Fonte: Agência Einstein





