Originalmente publicado apenas na versão digital, o livro volta a campo desta vez também impresso. “As experiências vividas em peladas de rua, no colégio, em campinhos de terra ou ainda em jogos contra, arquibancadas ou redações fazem parte da fértil imaginação que me acompanha esse tempo todo”, afirmou Lamas.
Com passagens pelos mais diversos veículos de comunicação do Rio de Janeiro, Lamas sempre teve o estádio do Maracanã como a sua segunda casa. Frequentador assíduo tanto das arquibancadas quanto da geral, ele retrata as percepções do seu lado torcedor e também sob o olhar de jornalista. Nessa seleção de contos, ele reservou espaço para escalar personagens amigos que já não tem mais contato, companheiros de redação e personalidades do esporte que também estão embutidas nessas histórias.
“Esse trabalho foi nascendo aos poucos. O primeiro conto apresentado no livro Torcedor de videoteipe é inspirado em um companheiro de redação do Jornal dos Sports. Às vésperas da Copa de 1994, nos Estados Unidos, estava passando uma reprise de um jogo do Brasil no Mundial de 1970. E um companheiro nosso assistia empolgado aos lances, às jogadas. Foi tudo campo de observação. Utilizei até o mesmo nome, Djalma. Ele não viu os jogos em 1970, mas vibrou muito com o videoteipe”.
O grande desafio da obra, segundo Lamas, é conseguir prender o leitor dentro dos mais variados estilos. “Poderia resumir a proposta em três pontos: diversão, emoção e reflexão. Primeiro, porque as histórias são bem-humoradas, algumas passagens realmente são bem engraçadas e espero ter conseguido encontrar tal ‘time’ dos comediantes. Emoção, porque acredito muito que os leitores, especialmente os de 35, 40 anos em diante (e os jovens nostálgicos, saudosos de um tempo que não viveram), vão se identificar muito com personagens e alguns episódios. E a reflexão é sempre importante”, afirmou Lamas, que tem também no seu currículo duas peças de teatro encenadas no Rio de Janeiro.
Muitas dessas histórias têm o Maracanã e o futebol carioca como tema central. Nada mais natural para quem, na juventude, se arriscou na tentativa de tornar-se jogador profissional. “Fiz teste no América, no Flamengo e por último no Vasco. Mas o treino que fiz para o América, no campo do Irajá, acabou me inspirando a escrever o conto Futebol de sonhos. Só que o personagem central não era eu. Foi uma outra pessoa. Eu sonhava em ser jogador, enquanto ele, o protagonista, pensava em jogar mais para se divertir”, contou o autor em entrevista ao Estadão.
O seu clube do coração não poderia ficar fora dessa seleção de histórias. Em um conto que fala sobre a decisão entre Flamengo x Atlético-MG, o então adolescente rubro-negro dá a sua versão do que imaginava ser uma boa ação de profissionais que tinham, por obrigação, manter a ordem no local. “O estádio já estava lotado e via policiais ajudando torcedores a pular a catraca e depois pegar as entradas. Na minha inocência, achava que eles estavam ajudando a facilitar a entrada dos torcedores. Na verdade estavam pegando os ingressos e repassando para os cambistas”, contou.
Lamas optou por citar algumas cidades do Brasil como palco de suas histórias. O conto do “Torcedor Azarado”, por exemplo, tem o seu desfecho no Morumbi enquanto a crônica “O que só você viu”, é uma clara homenagem ao locutor esportivo Silvio Luiz. Por fim, o autor procura passar um recado por meio dos seus mais variados personagens.
“Embora saídos da minha imaginação ou inspirados em pessoas que conheci, são personagens demasiado humanos, com todas as suas contradições, questionamentos. Creio que mesmo quem não gosta muito de futebol possa ler os contos com agrado, pelo olhar literário, das histórias e episódios humanos, de nossa sociedade, nossa cultura. É sobre o mundo do futebol, mas não só, creio”, encerrou o jornalista, que atualmente mora em Florianópolis.
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