“Na hora de bater só repito o que fiz no treino. Creio que é a confiança de pegar a bola e fazer o que eu treino. Todo pênalti dá um nervoso, uma ansiedade, mas a cada dia que passa estou maduro e sabendo controlar melhor a parte psicológica”, explica Veiga ao Estadão.
Dos 15 pênaltis que bateu e converteu (13 em tempo normal e dois em decisões por penalidades), Veiga cobrou a maioria com força. Ele usou potência no chute em 12 ocasiões. Nas outras três, tirou o peso da bola e finalizou com jeito. A preferência é pelo lado esquerdo, canto no qual colocou a bola em nove cobranças. Outras quatro foram no lado direito e duas centralizadas.
“Eu vario as cobranças porque tem muita gente estudando o jeito que eu bato. Tento mudar um pouco a batida para dificultar a vida do goleiro. Tento repetir, independentemente do lado em que eu bata, a distância e o movimento. Só mudo o canto na hora”, detalha o jogador, artilheiro do Palmeiras nesta temporada, com 15 gols. Perto de completar sua quarta temporada no clube paulista, ele soma 40 gols em 156 jogos com a camisa alviverde.
O meio-campista não costuma esperar o goleiro cair. Corre com convicção para a marca da cal e prefere escolher um lugar antes que o seu oponente. A estratégia tem lhe garantido sucesso nas cobranças. E o ótimo aproveitamento é resultado, também, segundo ele, de uma boa preparação psicológica.
“Para mim, a parte psicológica é mais importante que a parte técnica. Às vezes um jogador tem a parte técnica muito boa, mas não a parte psicológica, aí ele não consegue chegar em seu nível máximo técnico na hora da batida. Os dois caminham juntos, mas, se você tiver tranquilo e controlar a ansiedade, é muito importante”, opina o meio-campista.
Considerando o tempo em que esteve no Athletico-PR, a sequência já chega a 18 cobranças consecutivas sem errar. A última vez em que Veiga desperdiçou uma penalidade foi no dia 26 de julho de 2018, na vitória por 2 a 0 do time paranaense sobre o Peñarol, em jogo da Copa Sul-Americana. São, portanto, mais de três anos com um aproveitamento perfeito da marca da cal. No Palmeiras, a sequência de pênaltis perfeitos começou em junho de 2019, quando marcou justamente contra seu ex-time, o Athletico-PR.
Especialista em penalidades quando jogava e precursor da “cavadinha” no futebol nacional nos anos 90, Djalminha conhece como poucos como vencer o goleiro da marca da cal. O ex-jogador endossa a opinião de Veiga e entende que o alto índice de acerto está condicionado à repetição nos treinamentos, além da questão mental.
“Treinar é fundamental. É o mais importante porque o jogador, no dia a dia, repetindo os movimentos, adquire confiança. Tem que treinar, estudar os goleiros. O jogador tem que ter cada vez mais precisão hoje, porque às vezes, se não acertar bem no canto, o goleiro chega e pega”, opina o comentarista dos canais esportivos da Disney.
“A parte psicológica, juntando com a confiança, tem um peso ainda maior na porcentagem de acerto. Uns 70% é a parte psicológica. Se o jogador estiver indeciso, em dúvida, vai se prejudicar. Se estiver confiante, o que fez no treinamento fica fácil de colocar em prática”, complementa.
BIOMECÂNICA DO PÊNALTI – Recentemente, Felipe Arruda Moura, professor doutor de Biomecânica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) elaborou um trabalho, com outros dois colegas, os professores Sérgio Augusto Cunha, da Unicamp, e Paulo Santiago, da USP, com base nas leis da física, sobre os melhores batedores de pênalti do futebol brasileiro. Dado seu aproveitamento irretocável, Raphael Veiga foi um dos atletas analisados.
No estudo, os pesquisadores analisaram, entre outros aspectos, o ângulo, a distância e a velocidade de aproximação do chute. Eles mostraram que Veiga corre em um arco de 33,5 graus, se distancia 4,7 metros da bola e chega a 6,8 km/h na corrida de aproximação. Da marca da cal até a linha do gol são 11 metros.
“Por ser uma curta distância, a aceleração é alta, o que nos leva a crer que ele parte para a bola com a decisão tomada sobre onde irá bater”, elucida Moura, professor do departamento de Ciências do Esporte da UEL. “É uma estratégia muito semelhante à do Fábio Santos, do Corinthians”, compara.
Ele avalia que o ângulo de aproximação de 33,5 graus de Veiga lhe ajuda no momento da cobrança. “Facilita a escolha de batida para qualquer lado do goleiro, ou seja, dificulta realizarmos uma previsão de onde irá bater. Se esse valor fosse muito abaixo ou acima disso, o atleta precisaria modificar muito o posicionamento do pé de chute para conseguir mudar o canto da batida”, pontua.
O pênalti de Veiga alcança, em média, 118 km/h. “É o jogador que analisamos que imprime a maior velocidade na bola nas batidas”, destaca o pesquisador. “A velocidade é alta, a distância é próxima e ele não faz a paradinha.”
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