Em 2020, a retração econômica de 4,1% resultou numa perda de R$ 315,1 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), conforme estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Desse valor, quase metade ficou concentrada na atividade “outros serviços”, que encolheu R$ 144,9 bilhões, puxada pelo tombo de negócios como hotéis, bares, restaurantes, salões de beleza e academias.
Para Juliana Trece, pesquisadora do Ibre/FGV e coautora do estudo, a “queda generalizada” do setor de serviços pesa muito na economia: “É muito importante, ainda mais pela questão do mercado de trabalho, pois emprega muita gente.”
O setor de bares e restaurantes foi um dos mais atingidos, tanto nos primeiros meses da pandemia quanto na segunda onda, em 2021. “No início, a gestão pragmática ajudou a sobreviver, sangrando, mas a sobreviver. Quando o governo voltou a apertar fortemente as restrições, nos mantemos com uma mistura de gestão e um pouco de fé e loucura”, diz Humberto Munhoz, sócio do grupo Turn The Table, de bares como O Pasquim e a Vero! Coquetelaria.
Por outro lado, mesmo com a retração agregada da economia, houve setores que saíram ganhando. Mesmo nos serviços, fecharam 2020 com ganhos atividades como intermediação financeira (corretoras de valores, por exemplo) e serviços imobiliários (cada um com R$ 16,3 bilhões a mais de contribuição para o PIB).
Para Eduardo Zilbermann, economista-chefe da Gávea Investimentos e professor da PUC-Rio, a covid-19 parece trazer mudanças estruturais. O destaque é um impulso nos serviços tecnológicos e em comunicação a distância. No lado negativo, enquanto a pandemia seguir seu curso, os serviços que exigem contato pessoal, como bares e restaurantes, seguirão fragilizados.
A dúvida é sobre a duração desses efeitos, diz Zilbermann. Um controle moderado da pandemia poderá exigir a manutenção de algumas medidas de restrição a contatos sociais por algum tempo, mas, no caso de um freio mais forte na doença, os serviços presenciais poderiam ganhar impulso no curto prazo, diante da demanda reprimida.
Além de alguns serviços, fecharam com ganhos em 2020 a agropecuária (R$ 2,48 bilhões a mais no PIB) e a indústria extrativa (R$ 2,7 bilhões), aponta o Ibre/FGV. São atividades puxadas pelas exportações de matérias-primas, cujas cotações estão em alta.
O agronegócio deverá renovar o recorde da produção este ano, e o Ibram, entidade representante das mineradoras, projeta faturamento de até R$ 270 bilhões, salto de até 29% ante o ano passado.
Década perdida
Segundo Zilbermann, esses setores ajudam na recuperação da economia, levando à revisão para cima de projeções para o PIB, mas há dúvidas sobre o “quão sustentável” esse movimento será. A continuidade pode ser atrapalhada por “problemas usuais” da economia brasileira, com destaque para as crises política e fiscal.
Preso nesses problemas, o Brasil teve uma década perdida na economia. De 2011 a 2020, o PIB teve retração de R$ 92 bilhões, ou 1,2%, embora a população tenha crescido 10,1% no período, aponta o Ibre/FGV. Com isso, o PIB per capita encolheu de R$ 39.196, em 2011, para R$ 35.172 em 2020. “É uma economia totalmente estagnada”, aponta Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Ibre/FGV.
Varejo
O comércio, que faz parte do setor de serviços, fechou 2020 com perdas de R$ 24,6 bilhões, calcula o Ibre/FGV. No entanto, algumas atividades específicas saíram ganhando, impulsionando negócios como supermercados, mercadinhos, farmácias e as grandes empresas de comércio eletrônico.
Com boa parte das famílias trancadas em casa, o faturamento do comércio eletrônico no País saltou 41% em 2020, aponta pesquisa da Ebit/Nielsen e do Bexs Banco, somando R$ 87,4 bilhões. A taxa de crescimento foi quase três vezes maior do que a alta de 16% no faturamento de 2019.
A alta chama a atenção, mas o comércio eletrônico ainda responde por apenas 6% do volume vendido pelo varejo ampliado no País, diz Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Esse movimento é mais relevante em alguns segmentos, como o de aparelhos de comunicação e informática (28% das vendas já são online), livraria e papelaria (9,5% do volume vendido em 2020 foi por meios digitais), móveis e eletrodomésticos (8,7%) e comércio automotivo (6,6%).
“Combustíveis e lubrificantes não têm nada de venda online, claro. Em supermercados ainda é baixo, só 1,2% das vendas foram online no ano de 2020. Outro setor com dificuldades estruturais de vencer essa barreira do e-commerce é o de vestuário, que tem só 5,4% do faturamento proveniente do comércio eletrônico”, diz Bentes, que projeta novo avanço do comércio eletrônico no País neste ano.
Segundo ele, a participação das vendas online no faturamento do varejo ampliado deve subir para 6,8% em 2021. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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