Aline Vezoli
Desde o início da pandemia da covid-19, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Pato Branco vem registrando a queda no número de idosos vítimas de violência ou em situação de vulnerabilidade no município. Os números passaram de 138 casos registrados em 2019, para 75 casos em 2020, registrando redução em mais de 50% no atendimento. Um ano após a pandemia, a procura continuou diminuindo, e ficou em 52 casos.
Mesmo com o período de restrição imposto pela pandemia da covid-19, a equipe do Secretaria de Assistência Social do município continuou atendendo a população idosa e vulnerável através de ações como a entrega em domicílio de alimentos, cobertores, hortifrútis e outros que, segundo a psicóloga e coordenadora do Creas, Marina Particheli, “já eram em sua maioria realizado em domicílio e foram mantidos, porém, com mais cuidado e de forma mais restrita devido os riscos de contágio do vírus em idosos e priorizando os casos de maior urgência e emergência”.
Outra importante ferramenta utilizada durante o período foi o contato telefônico e através do aplicativo WhatsApp, além de atividades entregues nas residências para acompanhar a situação do idoso, enquanto alguns casos específicos eram encaminhados para o acompanhamento na rede de saúde, ministério público, instituições de longa permanência e outros serviços necessários.
Já no início de 2021, Marina aponta que a procura no atendimento presencial voltou a aumentar, porém, muitos casos não são contabilizados pelo serviço, pois são situações de orientações devido a conflitos familiares, onde o idoso não tem os direitos violados e necessita apenas de encaminhamento para outros serviços do município. “Os casos contabilizados são de violência ou abandono, enquanto outras situações passam por aqui, como idosos com conflitos familiares ou outras questões para resolver e que não envolvem violência. Nesses casos, orientamos e encaminhamos para serviços como o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e damos sugestões para a família.”
Os idosos atendidos pelo Creas, de acordo com a psicóloga, sofreram ou sofrem algum tipo de negligência pelos familiares, onde o cuidador agride fisicamente ou psicologicamente, não oferta o necessário para que o idoso viva de forma digna, deixa de levá-lo em consultas ou não procura assistência médica quando necessário, sendo denunciado, na maioria das vezes, pelos próprios vizinhos.
“Outros casos podem acontecer quando o idoso não tem mais familiares ou algum vínculo com a comunidade e não podem mais morar sozinhos pois necessitam de auxílio, perdem a mobilidade, usam medicações e chegam para nós em situação mais crítica”, complementa.
Já nos casos de desligamento, a situação acontece devido ao óbito do idoso, mudança de município, pela resolução da situação, quando após intervenção do Creas, houve a mudança para outro cuidador ou a resolução da situação dentro do mesmo ambiente. “A mudança do idoso para uma instituição de acolhimento, quando não há familiar ou uma rede de apoio, muitas vezes resulta no cessar do atendimento”, enfatiza Marina, ao comentar que o Creas não desliga o idoso até que a situação seja resolvida de alguma forma.
Atividades realizadas pelo Creas
O Creas desenvolve, ao longo do ano, diversas campanhas informativas e de sensibilização, orientações aos familiares e cuidadores, atendimento individual e para a família de forma presencial e, quando necessário, em visita domiciliar. O encaminhamento ao núcleo de prática jurídica ou ao ministério público quando necessário também é realizado.
Referente às atividades, Marina afirma que há maiores intervenções na articulação de serviços necessários que garantam os direitos dos idosos em situação de violência e abandono. “Acionamos os familiares, quando o idoso possui e, quando preciso, fazemos a ponte para instituições que garantam a proteção e todos os cuidados necessários, pois esse público já chega aqui com limitações na saúde, de mobilidade e outros transtornos associados e também situações de alcoolismo, onde encaminhamos para o tratamento necessário”.
Acolhimento garante a proteção social
De acordo com a Secretária de Assistência Social de Pato Branco, Luana Varaschim Perin, o acolhimento realizado garante a dignidade para idosos que se encontram em situação vulnerável e não conseguem viver sozinhos devido ao risco de acidentes, impossibilidade de realizar os cuidados diários devido a perda de mobilidade e até mesmo quando os vínculos com os familiares estão rompidos e esse indivíduo é abandonado pelos mesmos ou se torna vítima de agressões físicas ou psicológicas. “Visamos promover o cuidado, a cidadania, a atenção e a socialização nesse estágio único da vida”.
A secretária enfatiza também que, antes do acolhimento, intervenções são realizadas para verificar a possibilidade de familiares assumirem os cuidados, “uma vez que o foco é sempre manter o indivíduo com a família”. No entanto, após esgotar as possibilidades de permanência em família ou comunidade, o idoso é encaminhado para uma instituição de acolhimento.
Em caso de presenciar violência ou negligência contra idosos, entre em contato com a Assistência Social do município através do telefone (46) 3225 – 5544. Denúncias também podem ser feitas através dos canais 181, disque 100 ou diretamente com a polícia militar e civil.
Atendimento no Centro Dia
O município de Pato Branco conta também com um local exclusivo de atenção ao idoso, o Centro Dia, onde o intuito é gerar possibilidades e realizar atividades para garantir a esses indivíduos que não deixem de socializar com outras pessoas. “Muitos idosos são submetidos a exclusão, dessa forma, buscamos aumentar a qualidade de vida social, física e emocional”, comenta Luana.
As atividades desenvolvidas no local são diversificadas, proporcionando oportunidades para a escuta, valorização, reconhecimento, produção coletiva, exercícios de escolhas, diálogo para a resolução de conflitos, reconhecimento de limites, trocas de experiências, aprendizado e valorização de suas histórias.