Na semana passada, falei da questão se a punição é uma forma de educar. Imagino que para muitos pais, ainda é, pois ouve-se muito as crianças, nas escolas, contarem sobre castigos que recebem por não terem cumprido com determinada regra.
Muitos pais, também, dizem que é necessário “vigiar” as atitudes das crianças e dependendo do que fazem, “puni-las” exemplarmente.
Especialistas da educação têm discutido essas questões exaustivamente, e com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, no Brasil, esses temas ganharam publicidade, e com o desenvolvimento das mídias sociais, as evidências de descumprimento de tal Estatuto, têm chegado com muito mais agilidade às autoridades e educadores de forma em geral.
Ora, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é o documento que traz a Doutrina da Proteção Integral dos Direitos da Criança, que coloca a criança e o adolescente como sujeitos de direito com proteção e garantias específicas, no contexto brasileiro.
O Estatuto foi criado logo após a promulgação da Constituição de 1988 para regulamentar o artigo 227 da Constituição Federal (CF), que garantia às crianças e adolescentes os direitos fundamentais de sobrevivência, desenvolvimento pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, forçando uma mudança de abordagem de ensino, principalmente na educação básica, fazendo com que o processo de ensino caminhasse para uma abordagem mais humanizada.
Como dispõe o Estatuto, “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”, cabendo aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores.
Como se vê, em nenhum momento o “ECA” tirou a autoridade dos pais, salientando, inclusive, que é dever dos pais sustentar, cuidar e educar os filhos.
Com certeza a intenção da lei não é de “diminuir” ou “retirar a função dos pais na questão da educação, cabendo-lhes o direito e dever de manter os filhos na educação formal (escolas) bem como orientá-los e educá-los para a vida em sociedade.
Como disse, as famílias têm o dever de educar os filhos e cada uma das famílias têm de encontrar a melhor educação para o seu filho. Especialistas em educação, psicólogos, médicos pediatras, entre outros, dizem que o mais importante na educação dos filhos é a construção de confiança, diálogo, de limites.
É evidente que é preciso construir limites e estabelecer regras de funcionamento da casa, de comportamentos adequados e/ou inadequados, explicando, sempre que motivos podem acarretar em algum tipo de punição. Isso, sempre com muita conversa e diálogo, sem gritos e cenas por parte dos pais. Quanto mais natural for a discussão sobre comportamentos inadequados e as consequências deles, melhor se cria uma relação de confiança com os filhos.
Por isso, uma das formas mais recomendadas pelos especialistas é estabelecer os limites justamente mostrando aos pequenos a causa e a consequência de suas ações. Ajudá-los a corrigir algo pode ser mais efetivo do que, simplesmente, trancá-los no quarto “para pensar”.
Penso que é precisar estar atento aos comportamentos das crianças, mas não no sentido de “vigiar” para punir. Penso que é extremamente adequado acompanhar o que as crianças veem na TV, na Internet, nas diversas mídias que acessam. Acompanhar não é o mesmo que vigiar. Ficar atento não é o mesmo que vigiar.
Punir por punir também não e adequado. Muitos pais aplicam punições que não se cumprirão e talvez seja uma das atitudes mais comuns e também uma das menos efetivas. Quantas vezes os pais dizem aos filhos que eles ficarão um mês sem ver TV e, no dia seguinte, assistem televisão junto com os filhos. Ora, isso confunde as crianças e demonstra que os pais não têm “pulso” para cumprir a punição que determinaram. Como eu disse na semana passada, se é necessário aplicar uma punição, os pais precisam manter a proporcionalidade da falta cometida com o “castigo”.
Determinar punições que não serão cumpridas, desautoriza os pais, e os faz perder a credibilidade, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
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