Dirceu Antonio Ruaro
Prezados amigos, na semana passada, abordei o tema da briga entre irmãos, fato que é muito comum em praticamente todas as famílias.
É claro que a família mudou em todos os aspectos: sociais, filosóficos, sociológicos, econômicos, morais.… É difícil, senão impossível, estabelecer comparações com as famílias de antigamente, pois as mudanças foram imensas, em todos os sentidos. E até porque, comparar situações desiguais não nos levaria a bom termo.
Já vivemos quase um quarto do século XXI e as expectativas em torno da família, enquanto célula principal da sociedade, continuam a existir. Muitos “especialistas” diziam que a família acabaria, que não haveria mais famílias. De certo modo muitos “tipos de família” acabaram mesmo.
A família no século XXI apresenta tantas facetas diferentes que a tornam, de certa maneira, uma das células mais complexas da sociedade. Muitos e importantes aspectos sociais têm contribuído para que a família contemporânea tente “ajustar-se” no espaço que lhe permitem as demais “células” que compõem a sociedade atual.
A “educação dos filhos” tem sido um dos aspectos que mais trazem insegurança aos pais e educadores. E, entre as situações difíceis de entender e superar, certamente é o desentendimento entre os filhos, o que causa as famosas “brigas” do dia a dia.
É de se entender e admitir que cada filho tem sua personalidade, seu “jeito de ser”, sua forma de relacionar-se com os demais membros da família. É certo que cada um tem sua individualidade. Mas, é preciso entender que a função de educar e cuidar é, ainda, responsabilidade dos pais.
Por isso, os textos produzidos por psicólogos e psicopedagogos, além de “educadores” têm sinalizado que é imprescindível que os pais ou, a família, definam uma base sólida na educação das crianças.
E, uma das questões mais consideradas é que para educar futuros filhos, adolescentes e adultos saudáveis, livres e responsáveis, não devemos abrir mão da demarcação de limites claros, permitindo que a criança experimente algum grau de frustração para entender que o mundo não gira em torno do seu ego.
O tema de “limites” na educação de filhos perpassa o tempo e, desde a metade do século XX vem chamando a atenção de pais e educadores. Entende-se por limite uma delimitação de fronteira, marca no qual não se pode continuar ou ultrapassar.
O conceito do limite na infância está ligado às potencialidades mentais e físicas da criança em relação ao seu meio, a interação com seus pais. O comportamento infantil é aprendido mediante a imitação, experimentação e invenção. Através dessa socialização familiar a criança vai aprendendo a comportar-se em sociedade e vai adquirindo noções de limite individual e relacional, do que podem ou não podem fazer, do que é aceitável ou inaceitável.
Então, quando se fala em “limites” aborda-se a questão da autoridade dos pais. E isso, causa arrepios nos pais, mesmo os mais preparados “intelectualmente”, porque a sociedade contemporânea criou conceitos de liberdade, autonomia, e direitos que, de certa forma, afrontam a “autoridade paternal”.
Entendemos que, é dever moral, legal e familiar dos pais exercerem a autoridade dentro de seus lares e quando os pais aceitam, por menor que seja, uma quebra de limite, um comportamento desrespeitoso, uma malcriação, estão permitindo que os filhos quebrem o limite natural para o convívio familiar e social, deixando seu limiar de frustração baixo e invertendo as funções de papéis, ou seja, os pais vão perdendo a autoridade sobre seus filhos e quem detém o poder são os filhos e não os pais.
E aí se estabelece o “reinado das crianças”. Ou seja, há uma inversão natural dos papéis familiares. Quem passa a obedecer, são os pais e não os filhos. E “essa bagunça” vai refletir no modo de ser e agir da criança que se torna adolescente, que se torna adulto e terá uma visão estrábica do mundo e de suas relações.
O Exercício da autoridade dos pais não pode ser transferido para os filhos. Doa a quem doer. Eles precisam entender que em casa, quem manda são os pais, quem organiza e é responsável pela família são os pais, quem decide o que comer, o que fazer, onde ir, são os pais.
Estou sendo tradicional? Pois que seja. A família que não tem como referência “a autoridade paterna” se cria a deriva do sabor das ondas que surgem a cada instante na publicidade, na moda, nos costumes que querem se implantar…
Entendo que e, creio que meus leitores também entendem que autoridade é diferente do autoritarismo. A autoridade é um poder saudável que os pais têm sobre os filhos de forma sincera e espontânea e que precisa existir para impô-los, submetê-los e organizá-los em todas as situações de suas vidas. O autoritarismo é um poder em excesso e tirânico de se comportar ou exercer, desrespeitando as particularidades do submetido, repletos de injustiças e inadequações.
Se os pais assumirem, de fato, a rédea de suas casas, com a autoridade paterna necessária, a chance de criar “crianças mandonas e autoritárias” pode diminuir em muito, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER