Tangriani Simioni Assmann
A perspectiva futura no mundo é de possível escassez de alimentos devido ao aumento do custo de energia, principalmente do gás natural, o qual tem impacto direto na produção de fertilizantes. Este aumento do custo energético teve efeito cascata na cadeia de fertilizantes, fazendo com que o preço dos mesmos praticamente triplicasse. Além disso, alguns países vêm impondo políticas de redução de exportação de adubos e grandes indústrias de fertilizantes vêm reduzindo sua produção. A Yara (Noruega), maior produtora mundial de amônia, desde de setembro vem diminuindo em 40% a produção deste componente químico, base dos adubos nitrogenados. Isso certamente terá um impacto ainda maior no fornecimento desse tipo de fertilizante.
O Brasil é atualmente o quinto maior consumidor de fertilizantes do mundo contudo detém somente 2% da produção global de fertilizantes. Segundo balanço da ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos), no ano passado, das 40 milhões de toneladas entregues ao mercado apenas 6 milhões vieram do mercado interno, o que significa que o país importa 85% do produto que consome.
Certamente são urgentes ações de médio e longo prazo que visem a suficiência de produção desses nutrientes. Dentre essas ações, uma das principais, seria o aumento de produção de fertilizantes em nosso País, diminuindo dessa forma a dependência de importações o que asseguraria, ainda que parcialmente, nossa soberania quanto a produção de alimentos.
Contudo, a curto prazo, com ações dentro das propriedades rurais, pode-se reduzir o impacto do custo de adubação. O uso de fertilizantes deve ser feito de maneira criteriosa e tendo como base análises de solos realizadas anualmente e com coletas criteriosas. Infelizmente temos observado em nossa região aplicações padrões de fertilizantes cujo critério de recomendação de formulação NPK a ser utilizada é o cultivo a ser realizado (soja, milho…).
Na região sudoeste do Paraná, o principal problema quanto a nutrientes no solo é a disponibilidade fósforo (P) para as plantas e, ao contrário, o potássio (K) no solo encontra-se com valores acima do nível crítico, ou em muitos casos apresentando valores duas as três vezes superiores.
Assim sendo, maiores quantidades de fósforo (P) deveriam ser aplicadas em relação as quantidades de potássio (K), contudo, observa-se muitas vezes que na prática as formulações N-P-K mais comercializadas são aquelas que apresentam a mesma proporção P2O5/K2O, como por exemplo 0-20-20; 5-25-25. O uso contínuo dessas formulações faz com que os teores de P do solo não aumentem na velocidade necessária para assegurar a produtividade das culturas. Além disso, a quantidade de potássio que está sendo adicionada, certamente tem um custo embutido no valor do NPK e por si só não resultará em ganhos de produtividade. Esse tipo de manejo de adubação errôneo não possibilitará que os patamares adequados de produtividade das culturas sejam atingidos.
Assim sendo, diante do panorama atual, em propriedades que já estejam com seu sistema de produção consolidado, poderá optar-se pela redução do uso de fertilizantes. Essa redução não significa a redução da quantidade de um formulado NPK a ser aplicado. Essa redução deve ser feita considerando o nutriente que já se encontra em níveis satisfatórios no solo (acima do nível crítico). Sendo que tal recomendação de adubação deve ser feita sob critérios rígidos de interpretação de análise de solos, a qual sempre deve ser realizada por um profissional capacitado para tal.
Engenheira Agrônoma, doutora e professora titular do Curso de Agronomia UTFPR/Pato Branco