“O desespero dele para buscar um diálogo é para conseguir retirar as sanções internacionais, que são o que realmente preocupam Maduro”, diz o ex-militar José Antonio Colina, um observador das relações entre as Forças Armadas e o chavismo. “Ele quer acesso a recursos para minimizar sua imagem perante a comunidade internacional.”
Chavistas e opositores anunciaram a abertura de processo para restabelecer um diálogo nacional. Representantes dos dois espectros políticos devem se reunir no México a partir de agosto para uma rodada de negociações mediada por partes internacionais e com apoio da Noruega. A oposição ligada a Juan Guaidó pede, entre outras coisas, eleições livres municipais, regionais e nacionais, enquanto Maduro se disse aberto a buscar uma solução para a crise.
O ex-deputado Luís Silva, da Ação Democrática, pondera que com a troca de governo nos EUA a diplomacia voltou a ganhar força. “É do interesse da comunidade internacional recuperar a credibilidade da democracia venezuelana. Com isso o governo começou a ceder, como no caso da CNE (Comissão Nacional Eleitoral) e a reabilitação da MUD”, afirma.
Silva se refere às recentes decisões chavistas de nomear juízes alinhados à oposição para a Justiça eleitoral venezuelana e reabilitar a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática para disputar as eleições regionais do fim do ano.
Luís Vicente Leon, presidente do Datanálisis, explica que, apesar das negociações atuais envolverem Guaidó e Maduro, a retomada partiu originalmente de um grupo da oposição ao chavismo que deseja participar das eleições regionais, em vez de repetir a estratégia de boicote, que não resultou em nada prático. Com a sinalização positiva de Maduro, o chavismo liberou até mesmo a criação de um novo CNE, integrado por figuras críticas ao chavismo.
“Essa dinâmica praticamente obrigou o governo interino de oposição a dizer que está disposto a negociar com Maduro, quando semanas antes dizia o contrário, que não podia negociar com um ditador. O governo venezuelano pediu, para participar das negociações, a liberação de todas as sanções, o que é absolutamente impossível, pois elas são justamente a única ferramenta da oposição capaz de provocar uma mudança. Ao mesmo tempo, a oposição pede a realização de uma eleição presidencial, que é pouco provável”, explica Leon.
O presidente do Datanalisis ainda vê na abertura de diálogo uma oportunidade no avanço de pautas subjacentes dos dois lados, como a participação da oposição nas eleições regionais de novembro, e cria caminhos para o governo Maduro voltar a pleitear demandas e acordos pontuais em relações multilaterais – mesmo sem o reconhecimento amplo.
Cautela
Apesar do aparente avanço, o professor Erik del Bufalo, da Universidade Simon Bolívar, não se surpreende com a aparente reaproximação. “Essa negociação é parte de um ciclo que se repete para os venezuelanos. A cada momento de crise, é restabelecido um diálogo, e se retoma esse tema. Na Venezuela, não há apenas o regime chavista, há um sistema, em que grande parte da oposição oficial é cúmplice, e mantém a estabilidade. Não há nada detrás destas negociações, a não ser o de sempre, que é a renovação do sistema de privilégios e interesses oligárquicos”, afirma del Búfalo.
Apesar disso, ele concorda com a visão de que o objetivo de Maduro é se livrar das sanções. “Ao chavismo convém negociar por causa da crise. A crise deste momento tem muito a ver com a economia, e o chavismo busca, com o diálogo, promover um espetáculo eleitoral, para dizer que há democracia na Venezuela e reduzir as sanções impostas pelos EUA.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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