Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, passado o carnaval, como se costuma dizer, o Brasil começa o ano. E, nesse “começo” uma das percepções que temos é de que a vida escolar retomou com seriedade.
Desde que me lembro, sempre houve “certa” pressão por um bom aproveitamento escolar por parte dos pais e demais familiares. “Certa pressão”, até determinado ponto, pode ser muito salutar visto que nossas crianças e adolescentes precisam criar o hábito de estudar e aproveitar o tempo escolar.
Muitas escolas têm uma cultura de “testes e provas” que de alguma forma acaba criando ansiedade e medo nas crianças e adolescentes. E, deveria ser exatamente o contrário. A avaliação deveria ser encarada como algo normal, estudei, aprendi e sei comprovar que aprendi.
Nessa afirmação existe no primeiro verbo uma questão de muita discussão: “estudei”. Ora, parece que boa parte de nossos estudantes não se dão ao luxo de estudar. De fato, estudar exige muito mais do que “ler o conteúdo”. Claro que a leitura é obrigatória e necessária, mas não basta. É preciso entender o que está escrito. Interpretar o que diz o conteúdo. Perceber que aplicações o conteúdo apresenta. Precisa, “pensar”.
Na outra afirmação “aprendi”, está, talvez, a maior razão do grande fracasso e do medo das crianças e adolescentes de se submeterem a uma “avaliação”.
Aprender exige uma reflexão interna, um comportamento de introspecção, de compreensão e interpretação daquilo que foi ensinado e, qual, ou quais, as implicações que isso traz para a vida acadêmica.
Aprender a pensar deve ser uma das preocupações das famílias e das escolas e não apenas “cobrar desempenho satisfatório” nas avaliações.
Estou falando disso porque observo que muitos estudantes, especialmente do ensino médio e superior, acabam se conformando com algum tipo de rótulo que lhes é imposto pelas famílias e pelas escolas. E, estes adolescentes e jovens entendem que não são capazes de aprender mesmo e aceitam o rótulo de incapazes.
Nem todas as pessoas têm o mesmo índice de desempenho. Nem todos aprendem com facilidade, nem todos conseguem alto desempenho nas avaliações.
Se a preocupação central fosse com o aprendizado e não com o desempenho nas avaliações, o bom desempenho viria como consequência da aprendizagem.
Não estou dizendo que as escolas e os pais não devam “cobrar um bom desempenho” escolar. Não é isso. Estou dizendo, que observo que, na maioria dos casos, só se cobra o desempenho nas provas e testes, sem se preocupar com a aprendizagem.
De nada adianta criar um verdadeiro “circo” na época de testes e provas, provocando estresse, ansiedade e medo.
A criança e o adolescente, precisam aprender a confiar no estudo que fizeram, na aprendizagem que tiveram e com isso se submeter a testes e provas com a naturalidade e confiança que isso exige.
Evidentemente que essa situação pede acompanhamento dos pais e professores. Grande parte dos pais não sabem nem o nome dos professores dos filhos, isso em qualquer rede escolar, até mesmo nas “melhores redes”. Ora, não basta matricular o filho na escola. Não basta pagar a mensalidade, inclusive do ensino superior. É preciso acompanhar o desempenho na aprendizagem. Não nas notas.
Uma observação que preciso fazer é que os pais precisam ficar atentos aos diferentes “momentos” acadêmicos dos filhos. Há uma passagem da educação infantil para os anos iniciais, destes para os anos finais do ensino fundamental e, muito seriamente dos anos iniciais do ensino fundamental para o ensino médio.
São ciclos e/ou fases na vida estudantil que exigem um acompanhamento e compreensão das dificuldades que cada uma destas etapas envolve. É preciso lembrar que as crianças e adolescentes possuem diferentes ciclos de maturidade para enfrentar cada uma das etapas. Cabe aos pais entender isso e não esperar que tudo seja sempre igual. Uma criança que só tirava notas boas no quinto ano, pode, no sexto ano ter dificuldades de adaptação e de ritmo escolar e ter, até certo ponto, um retrocesso no desempenho.
Com a retomada do ano escolar, seja no nível que for, é preciso cuidar da forma como os pais e as escolas, cobram o desempenho. Pressionar não resolve, pelo contrário. É necessário criar o hábito de estudar, de fazer tarefas, de buscar complementar o conteúdo visto em sala de aula. Para isso, a internet é excelente, porém, como já disse, o acompanhamento dos pais é fundamental.
O sucesso escolar é uma caminhada que não é fácil. Precisa da compreensão e de atitude da escola e dos pais. Pais que não podem simplesmente rotular dos filhos de fracassados e desistir deles porque o desempenho não é o esperado. Pais que precisam aprender a não rotular o filho de “incapaz”, mas de reconhecer quando os filhos precisam de algum tipo de ajuda para manter ou aumentar o seu sucesso escolar, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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