Especialistas oferecem dicas de segurança para aproveitar as férias sem estresse; a atenção deve ser redobrada com a hidratação, proteção solar e o uso de repelentes.
Com a chegada do verão e o início das férias escolares, inicia-se a temporada de praias e piscinas lotadas por todo o país. No entanto, esse período de lazer também pode trazer uma frequência maior de problemas de saúde, como intoxicações alimentares, picadas de insetos, brotoejas, desidratação e queimaduras solares.
O médico infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que ninguém precisa ficar preso dentro de casa, mas que alguns cuidados são necessários. “As crianças, as gestantes e os idosos (que acabam se desidratando mais rápido do que os mais jovens), por exemplo, devem ser mais protegidos do sol, beber mais líquido, evitar ficar em áreas de risco, como piscinas sem tratamento adequado de cloro, e pisar em areias sujas de fezes e urina de animais”.
Atenção à pele e aos olhos
Sabe-se que a exposição ao sol sem a devida proteção do filtro solar pode prejudicar diversas camadas da pele. Além do aumento do risco de câncer, o esquecimento do protetor pode favorecer, a médio e longo prazo, o agravamento de problemas preexistentes na pele, como acne, vitiligo, lúpus, herpes e piora no aspecto de cicatrizes.
O excesso de sol também danifica as fibras de colágeno e elastina, proteínas responsáveis pela firmeza do tecido cutâneo, o que acelera o envelhecimento da pele. Há ainda a possibilidade de ocorrência de irritação, ferimentos, manchas escuras, queimaduras e reações alérgicas, como urticárias.
“A proteção mínima do filtro solar deve ser FPS 15, com aplicação de 15 a 30 minutos antes da exposição. A reaplicação deve ser realizada a cada duas horas de exposição contínua ou após mergulho e suor excessivo. O melhor período para tomar sol é antes das 10h e após as 16h. O uso do guarda-sol nos horários mais quentes é mais um cuidado essencial para se proteger dos raios solares”, orienta a dermatologista Selma Hélène, do Hospital Israelita Albert Einstein, e presidente do Departamento de Dermatologia da Sociedade de Pediatria São Paulo (SPSP).
Ela explica que os olhos também merecem uma atenção especial, com o uso de óculos de sol para prevenir danos, como catarata, câncer de pele nas pálpebras, lesões na retina e pterígio (alteração ocular que vem acompanhada de irritação, vermelhidão e fotofobia).
Picadas de inseto e repelente
Outro ponto importante é a atenção às picadas de insetos. Além do risco de serem causadas por mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika ou chikungunya, as picadas podem desencadear complicações de saúde em indivíduos alérgicos.
O infectologista da Unifesp explica que há risco de proliferação de insetos mesmo em piscinas com tratamento e limpeza frequentes. “As pessoas alérgicas a picadas de mosquitos devem andar com medicamentos e pomadas receitados pelos médicos sempre na bolsa”, aconselha.
Por isso, é recomendado associar o uso de repelente e protetor solar. A dermatologista do Einstein aconselha aplicar o protetor solar previamente, ainda em casa, antes de se expor ao sol. “Basta aguardar cerca de 15 minutos para que o produto seja absorvido pela pele para, depois, passar o repelente em todo o corpo. No rosto, devemos ter atenção para não aplicar diretamente nos olhos, mas sim com as mãos longe das pálpebras. Neste caso, prefira repelentes em creme”, orienta Hélène.
Cuidados com a desidratação
Olzon diz que é importante ter cuidado com os produtos que as pessoas consomem na praia, principalmente, os vendidos por ambulantes que normalmente não são refrigerados e manuseados corretamente, o que pode gerar uma intoxicação alimentar.
“Mesmo com uma boa aparência e sem gosto ou cheiro característicos, esses produtos podem estar estragados. É preciso tomar certas precauções para não desenvolver uma intoxicação alimentar. Há quadros infecciosos que costumam envolver desidratação, diarreia, vômitos e até febre”, alerta o médico.
A desidratação é outro perigo potencialmente grave, em que o indivíduo apresenta uma baixa concentração de água e sais minerais. Os sintomas incluem sede intensa, boca e pele secas, diminuição da sudorese, diarreia, dor de cabeça, sonolência e vômito. Essa condição pode estar associada a outros problemas de saúde, como febre e diarreias agudas.
“Uma orientação importante é não ingerir medicamentos para prender o intestino e parar de evacuar. Nós, médicos, possuímos um novo entendimento que isso mantém as bactérias e toxinas presas ao organismo. Portanto, o recomendado é manter uma alimentação pastosa, como purê de batatas, e manter-se hidratado, dando preferência pela ingestão de água mineral e água de coco, além de evitar o consumo de bebidas adoçadas e alcoólicas. Quando já existem sinais de desidratação, é aconselhado beber muita água filtrada ou fervida em goles pequenos e intervalos curtos, e manter-se em ambiente com temperatura amena”, orienta o infectologista.
Principais cuidados em relação à água
Dentre os perigos que podem estar presentes na água da praia, Olzon destaca o aumento dos casos de leptospirose, especialmente com a chegada dos meses mais quentes do ano.
“Não é indicado banhar-se em praias onde o mar e o rio se encontram, uma vez que se não houver uma rede com água e esgoto adequada, os rios podem trazer a urina e as fezes de ratos e, com eles, a leptospirose. Na minha rotina, costumo ver muitos casos assim, com os sintomas de febre alta, dor de cabeça, sangramento, dor muscular, calafrios, olhos vermelhos e vômito”, afirma Olzon.
Outro ponto que precisa de atenção é a presença das águas-vivas, facilmente encontradas em todo o litoral brasileiro. Enquanto algumas espécies são inofensivas, outras possuem toxinas capazes de causar desde queimaduras leves até reações neurológicas de gravidade variável.
“O contato com as águas-vivas pode acontecer na água ou na areia próxima ao mar. Medidas como lavar o local com água e sabão neutro devem ser realizadas até que o médico possa examinar a área atingida”, explica Hélène, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Já as doenças mais comuns associadas ao banho de piscina são as intestinais (diarreia), respiratórias (resfriados e inflamações de garganta), infecções de pele por bactérias, fungos e microorganismos, infecções dos olhos (conjuntivite) e de ouvidos (otite).
Os principais cuidados na piscina devem incluir:
- Verificação em relação à transparência da água;
- Tratamento adequado com o uso de cloro;
- Circulação de água, com ela se renovando constantemente;
- Existência de um chuveiro no acesso às piscinas para o uso dos banhistas.
Principais cuidados em relação à areia
Bactérias como as do tipo Escherichia coli (E. Coli) podem provocar quadros de vômitos e diarreia, além de infecção urinária. Elas vivem no intestino inferior dos mamíferos, incluindo o dos seres humanos, e podem proliferar na areia contaminada, por fezes de animais, como cães e gatos.
Uma dessas doenças é a Larva Migrans, conhecida popularmente como “bicho geográfico”. Quando as fezes desses animais alcançam o solo, geralmente seco e arenoso, criam um ambiente propício à contaminação. Ao entrar em contato direto com a pele, as larvas penetram, causando uma coceira intensa e lesões caracterizadas por trajetos sinuosos avermelhados. Com o passar dos dias, as larvas percorrem um caminho de um a dois centímetros por dia, parecido com um mapa geográfico.
“Para nos prevenir, devemos evitar o contato da pele diretamente na areia, na medida do possível. Quando possível, usar chinelos, sentar-se em cadeiras de praia ou na canga, e ficar longe de urina e fezes de animais. Outra medida de prevenção é lavar as mãos e retirar o excesso de areia, principalmente antes de comer”, orienta a dermatologista.
Por Úrsula Neves, da Agência Einstein
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