No Dia Mundial do Médico Veterinário, celebrado em 24 de abril, vamos falar sobre medidas que são oposição à eutanásia: o tratamento com medicina integrativa, que acolhe animais com baixa expectativa de vida
Os avanços na medicina veterinária ocorridos na última década, permitiram aos animais domésticos um aumento em sua longevidade. Antigamente, era incomum um cão viver tempo suficiente para envelhecer ao lado do seu tutor e, por consequência, começar a apresentar complicações devido à idade. Hoje em dia, espécies como os gatos podem chegar aos 20 anos, por exemplo, o que pode acarretar o surgimento de doenças específicas, como problemas cardíacos, insuficiência renal e tumores cancerígenos.
Mas a partir do momento em que a qualidade de vida desses animais está prejudicada, surge a dúvida: aplicar a eutanásia ou manter cuidados paliativos para amenizar seu sofrimento? Em 2012, o Conselho Federal de Medicina Veterinária emitiu uma resolução complementar em seu código de ética, indicando maior preocupação com o bem-estar do animal diante à eutanásia. Em quase todos os casos, a orientação é que o profissional aplique a anestesia geral antes de matar o animal. Porém, de acordo com a médica veterinária Karine Pacheco, existem muitas formas de aliviar a dor de pacientes em estado crônico, grave ou terminal, através de técnicas paliativas, evitando seu sacrifício.
Formada há 18 anos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e gestora do Hospital Veterinários com Amor, em Pato Branco (PR), Karine afirma que nunca executou e nem indicou a eutanásia durante toda a sua profissão. “Sempre que estive diante de um paciente em estado terminal, eu perguntava aos seus tutores porquê fazer a eutanásia, para que antecipar a morte, abreviar a vida dele”. Na sua forma de pensar e de sentir a vida, a veterinária afirma achar muito mais bonito acompanhar esse paciente, dar a qualidade de vida que puder, até que ele vá embora na hora dele, assistido e bem cuidado.
Usar a eutanásia para a abreviação da vida destes animais, abrevia também uma etapa do existir, pertencente ao paciente terminal, assim como da etapa do cuidar, pertencente ao seu cuidador. “É neste momento que mostramos a importância dos cuidados paliativos, em que o objetivo de curar é substituído pelo foco na prevenção e no alívio da dor, em oferecer carinho e na atenção dispensados, minimizando o sofrimento em casos que a doença não tem mais cura. É muito raro atender um tutor que opte pela eutanásia depois que explicamos”, afirma.
Dor ou sofrimento?
Mas como identificar a dor ou o desconforto nos pets, já que não há expressão verbal de sensações e desconforto? Segundo Karine, o sofrimento tem uma definição muito subjetiva, já a dor é objetiva. É possível aferir de acordo com as manifestações de alterações comportamentais inespecíficas, como ausência de apetite ou redução deste, associados ou não a dificuldade ou incapacidade em engolir, desinteresse sobre coisas que antes o interessavam muito e até sintomas específicos provenientes dos órgãos afetados. Em casos mais graves, taquicardia, movimentos respiratórios acelerados, prostração, estado de ausência, entre outros. “Existem métodos de avaliação por meio de escalas para que possamos mensurar qual a intensidade de dor que o paciente está sentindo. A partir disso conseguimos dar início à intervenção através da analgesia correta”, pontua a veterinária.
Além da observação clínica do médico veterinário, as informações precisas do cuidador no que se refere ao comportamento do animal e suas alterações, podem apresentar estes parâmetros. Para conseguir se fazer essa diferenciação, a dor tem sido muito estudada nos últimos anos dentro da medicina veterinária. “Achar que a eutanásia vai acabar com o sofrimento do animal é um erro. Em cada caso, precisamos investigar até que ponto é dor, até que ponto é desconforto, ou se o que está ocorrendo é o processo fisiológico da morte. Se o animal está com a dor minimizada, há a redução ou até a possibilidade de cessação do sofrimento. ”
Medicina Veterinária Integrativa
Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2012, como procedimentos que melhoram a qualidade de vida diante de quadros irreversíveis. O tratamento deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, promovendo, dentro da medicina veterinária, o bem-estar necessário para o enfrentamento desta condição tanto para os animais, quanto seus tutores.
As ações realizadas no Hospital Veterinários com Amor incluem os tratamentos veterinários tradicionais e medicamentosos para o alívio dos sintomas físicos, e ainda, práticas integrativas complementares, como o reiki, a acupuntura e a mocha, a fim de proporcionar mais conforto e reequilíbrio da energia vital destes animais.
Cuidar de um paciente nessas condições exige muito mais do que conhecimentos científicos e técnicos. Exige a compreensão de todo um processo de vida, da individualidade do ser, do seu valor único e o reconhecimento do processo de morte. “É preciso compreender que morrer é um processo natural e que faz parte do nosso aprendizado, preparar o animal, assim como seu tutor, com serenidade para esse momento inevitável, faz dele uma despedida menos dolorosa e cercada de boas e eternas lembranças”, finaliza Karine.