Cultura da paz e solução para o byllying

Flori Tasca

A necessidade de se incluir uma cultura de paz na escola para prevenir o bullying foi tema do estudo “O bullying na perspectiva sociocultural construtivista”, de Raquel Gomes Pinto Manzini e Angela Uchoa Branco, publicado em 2012 no Boletim da Psicologia, de São Paulo. Nele, as autoras destacaram que a incidência crescente de bullying nas escolas retrata a necessidade de se mudar o paradigma educacional. Para isso, a escola precisa difundir valores sociais positivos, promovendo interações saudáveis.

O estudo destacou que crianças e adolescentes são expostos desde cedo a situações em que competir é considerado a melhor forma de atingir os seus objetivos, o que favorece o surgimento da agressividade e da violência. As autoras lembraram que o bullying pode ser a forma que o agressor encontra para reagir às agressões sofridas em outro contexto, acreditando que assim elevará a sua autoestima. Ele pode não ter vivenciado experiências que lhe permitissem compreender o valor e os sentimentos do “outro”.

Por isso, realizar atividades escolares diárias nas quais as crianças possam ter a oportunidade de desenvolver a empatia é visto como algo fundamental. O caminho não seria ensinar os alunos a tratar bem os colegas porque “isso é o certo”, mas demonstrar, por meio do diálogo e de práticas sociais, o valor do outro, de modo que eles se sintam bem ao respeitá-lo e ajudá-lo. Isso significa uma educação que não é mais orientada para os valores competitivos e individualistas que levam a um “nós” contra “eles”.

Essa divisão é justamente o que está na base do preconceito e do processo de exclusão de quem tem características vistas como diferentes de um padrão idealizado pela sociedade de consumo. Estigmatizar o outro torna mais fácil justificar comportamentos agressivos, opressores e omissos que se têm em relação a ele. As autoras aproveitaram para citar casos de bullying vivenciados pela atriz Babi Xavier e pela filha da atriz Bárbara Karla, os quais reforçaram a necessidade de intervenção da escola e família.

E, para as pesquisadoras, o primeiro movimento para o processo de mudança seria o de considerar que o preconceito existe em todos nós e que, caso a sua irracionalidade não seja compreendida, ele pode motivar comportamentos cruéis. O bullying, afinal, é tão antigo quanto a humanidade, pois é um processo de exclusão do outro, pautado em preconceitos, crenças e valores individualistas e competitivos, de tendências perversas.

Para enfrentá-lo, é necessária a promoção ativa de valores sociais positivos, como a justiça, a solidariedade, a liberdade e a igualdade, desde a infância, na família, na mídia, nas escolas e demais contextos de desenvolvimento. O outro precisa ser considerado tão importante como nós mesmos. As autoras reforçaram que a prevenção e a intervenção devem ser realizadas em longo prazo e de forma sistemática, considerando a dinâmica social entre agressores e agredidos. Deve-se fazer com que eles sejam envolvidos em práticas de cooperação e desenvolvam a comunicação interpessoal por meio de diálogos sobre temas que os façam respeitar as diversidades e fortalecer a identidade de todos.

Tudo isso representa uma mudança do paradigma educacional, pois a escola teria que passar a incluir a paz como um dos eixos em seu currículo escolar. Este é um processo contínuo e permanente, mas em um contexto social no qual prevalece o respeito mútuo o bullying tem mais chance de ser discutido e evitado, em vez de naturalizado. Assim também é com as famílias, pois, caso priorizem os sentimentos de respeito, a criança os internalizará e dará a devida importância ao outro, às regras e aos valores positivos. Os pais não podem, por exemplo, estimular a vingança da criança que recebeu a agressão.

Como lembrado pelas autoras, a ideia de cultura de paz não significa que os conflitos serão erradicados, pois eles são inevitáveis e, mais do que isso, são muito importantes para o desenvolvimento humano. Significa, isso sim, que eles passarão a ser resolvidos de forma construtiva, sem que possam gerar ódio ou revolta. Quanto mais cedo a escola atuar na promoção dessa cultura, mais alunos serão beneficiados e o bullying cessará.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa, doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná. fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

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