Da decepção a um amor incondicional

Lá se vão 53 anos que Delvino Longhi pisou pela primeira vez em solo pato-banquense. Na época ele era apenas um médico em início de carreira que procurava um lugar para se estabelecer. E, foi em Pato Branco, um lugar que não fazia jus a propaganda feita naquela ocasião, que o jovem nascido em Vacaria (RS), e que residia em Curitiba devido a faculdade de Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), resolveu aceitar o acaso.

“Vim para Pato Branco por uma casualidade”, brinca Delvino recordando que tinha como opções trabalhar na capital paranaense, ou até mesmo em São Domingos (SC), onde havia estagiado. “Quando eu estava em São Domingos, ouvia os radialistas falando com muito entusiasmo sobre Pato Branco, e como eu estava terminando o curso superior, tinha interesse de conhecer possíveis locais para trabalhar”.

Delvino lembra que sua chegada em Pato Branco foi por uma das piores estradas da época, uma vez que os acessos a localidades eram todos de chão batido, o que não se diferenciava muito da realidade do pequeno município que tinha poucas ruas pavimentadas. “Em um primeiro momento até me decepcionei. Pela propaganda que era feita, tinha-se a impressão de que era uma cidade grande, mas quando aqui cheguei não era aquilo. Nem calçamento tinha na maioria das ruas.”

Recém-chegado, Delvino procurou conhecer os colegas médicos que atuavam no município, assim teve o primeiro contato com Ivo Caramuru Barvinski, Iaroslau Koslinski e João Juglair Junior, todos integrantes do corpo clínico do Hospital São Lucas, e este último, proprietário da instituição.

Ex-prefeito Delvino, Ex-primeira Dama e ex-vereadora Arilde, Dalton e Luciane Longhi, filhos – Foto: Acervo familiar

“Em um primeiro momento, Dr. Ivo me indicou conhecer Bom Sucesso do Sul [que na época era território de Pato Branco], pelo fato de que o profissional que atendia aquela localidade estava saindo. Lá fiquei pouco mais de um mês, e achei melhor não permanecer lá”, comenta ele, lembrando que ao retornar para sede de Pato Branco decidido a agradecer o acolhimento e indicação, mas inclinado a aceitar convites para atuar em Dois Vizinhos e Francisco Beltrão, recebeu o convite para ficar no município.

No início de carreira e com poucos profissionais atuando — Pato Branco tinha três médicos do Hospital São Lucas, dois no Hospital São José (onde atualmente está a sede do UniMater) e outros poucos médicos instalado no Hotel Bedin, dando início a formação da primeira equipe de médicos da Policlínica —, Delvino se dedicou a medicina geral. “Por vários anos fui médico generalista, atuando na clínica geral, cirurgia geral, ginecologia, obstetrícia e até mesmo anestesia. Paralelamente acumulei a função de Médico Perito em medicina Legal e Médico Perito do INSS”, comenta ele.

Consolidado no Corpo Clínico do Hospital São Lucas, Delvino vivenciou uma das principais transformações médicas de Pato Branco. “Com o município se transformando em um polo, como é hoje, houve a necessidade de especialidades para compor o quadro clínico do hospital. Assim, Dr. João era o cirurgião, Dr. Ivo era o que mais praticava anestesiologia; Dr. Iaroslau se inclinou para ginecologia e obstetrícia e eu comecei a frequentar cursos de cardiologia, entre eles, no Instituto do Coração. Concluídos esses cursos eu passei por uma prova para poder atuar na especialidade”. Assim, desde 24 de setembro de 1984, Delvino Longhi atua como cardiologista em Pato Branco.

Com mais de 50 anos de formação, sempre atuante, Delvino segue com seu consultório médico, que conta com a colaboração da enfermeira Mariane Swiech.

Hospital São Lucas

O homem que faz parte do Corpo Clínico do Hospital São Lucas desde 1969 não esconde seu carinho por aquele que pode ser chamado de seu segundo lar. “Sempre fiz parte do corpo clínico do São Lucas. Para mim é uma paixão única. Aqui convivemos praticamente meio século, vi os primeiros pilares serem firmados, aliás, no começo era mesclado madeira com concreto e posteriormente foi se aprimorando”.

Se no início da caminhada a oferta era de poucos serviços de diagnóstico, Delvino faz questão de enfatizar, “hoje tem tudo. Temos vários equipamentos de ponta para o conforto do paciente.”

Sra. Evangelina Novais, Ex-prefeito Delvino, Professor Ataíde Ferraza, Diretor do CEFET PR, assinando escritura do Patrimônio Municipal-FUNESP, para União – Foto: Acervo familiar

A transformação médica

Polo de especialidades médicas, a medicina praticada em Pato Branco tem sido pioneira e referência regional ao longo dos anos. “Pato Branco sempre ocupou um lugar de destaque. No início atendíamos pacientes de todos os lados, a maioria eram da região da fronteira, até mesmo por conta da área que era bastante extensa”, pontua Delvino, completando que com a ampliação do corpo clínico hospitalar novas especialidades foram sendo incorporadas e assim, cada vez mais Pato Branco teve notoriedade. “Pato Branco atingiu um reconhecimento pela busca de qualificação que os profissionais que aqui atuavam, sempre se preocuparam em manter.”

Um dos pioneiros da medicina pato-branquense se diz realizado em ver hoje o Município que lhe acolheu, ser referência em transplantes cardíacos, renais e de córnea.

“A medicina praticada aqui sempre manteve a sua essência: da ética, da moralidade, por profissionais que se dedicam à medicina e fazem questão de oferecer o melhor para a população”, enfatiza o profissional que ao chegar em Pato Branco no final da década de 1960, jamais imaginou que o Município teria curso de nível superior em Medicina. “Temos um excelente curso que ainda está em sua formação, mas as referências são as melhores possíveis.”

Família a base de tudo

Familiares de Delvino e Arilde Longhi – Foto: Acervo familiar

Arilde Terezinha Brum, nasceu em Capinzal (SC), mas muito pequena se mudou Rolândia e já na adolescência para Curitiba. E foi na capital paranaense, que Arilde e Delvino se conheceram, quando ele ainda era estudante de medicina.

Ainda durante a faculdade dele se casaram e iniciaram uma jornada de companheirismo e ajuda mútua que perpetua até hoje.

Junto com Delvino, Arilde aceitou o desafio de se estabelecer em Pato Branco, e antes disso, esteve com ele em Bom Sucesso do Sul, onde atuou já grávida do primeiro filho do casal, atuando como auxiliar de cirurgia.

“Eu tenho um espírito conservador, persistente e teimoso. E logo que cheguei em Pato Branco comecei a criar raízes, e minha esposa foi uma pessoa extraordinária que sempre me apoiou e me acompanhou”, reconhece Delvino que teve como primeira residência a antiga sede do Sindicato Rural de Pato Branco, onde hoje está a Pernambucanas, e que tinha no pátio dos fundos a lavanderia do Hospital São Lucas.

Em 1969, nasceu o primeiro filho do casal, Dalton Longhi, que anos mais tarde seguiu os passos do pai e formou-se médico, com especialidade em Oftalmologia. Dalton também é formado em Licenciatura em Letras.

Ele é casado com Silvana Aparecida Turatto Longhi e são pais de Luiz Turatto Longhi.

Já em 1974, nasceu a segunda filha do casal, Luciane Longhi, que é formada em Belas Artes, Desenho Industrial e Arquitetura.

Luciane é casada com Erlon Fernando Ceni de Oliveira. Eles são pais de Júlia Liz Longhi de Oliveira, que atualmente segue os passos do avô, cursando medicina; e de Henrique Lorenzo Longhi de Oliveira.

Realização em contribuir para o desenvolvimento de Pato Branco

Delvino e Arilde Longhi, com seus filhos Dalton e Luciane – Foto: Acervo familiar

Ligado a agropecuária (hoje sua principal atividade) desde meados dos anos de 1970, Delvino iniciou sua trajetória política no movimento sindical.

“Eu me aproximei do Sindicato [Rural de Pato Branco] desde que cheguei aqui. Casualmente comecei a prestar atendimento naquela casa e as coisas foram acontecendo e posteriormente eu acabei atendendo no Sindicato, na rua Osvaldo Aranha”, comenta Delvino sobre o início de sua trajetória política.

“Foram nove anos ligados à vida sindical, onde me tornei uma liderança em diversas reivindicações”, recorda Delvino lembrando o que foi na época um dos maiores movimentos na região.

“No tratoraço, reunimos mais de 800 máquinas agrícolas e várias centenas de agricultores, não só de Pato Branco, mas também de municípios vizinhos, com objetivo claro: que o Governo Federal socorresse os agricultores da grave crise de preços dos produtos agrícolas e consequente, a incapacidade de pagamento dos financiamentos das máquinas agrícolas”, narra ele, ao recordar o passo seguinte, “com isso, o pessoal começou a me cogitar como candidato a prefeito”.

Filiado ao PL, em 1990, Delvino concorreu a uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Lhe faltaram 124 votos para a eleição, ficando como primeiro suplente do partido.

Já na eleição seguinte, em 1992, Delvino novamente pelo PL, e tendo como candidato a vice, Roberto Zamberlan, recebeu 10.829 votos, e foi eleito prefeito de Pato Branco para o período de 1993 – 1996.

Como a Gazeta do Sudoeste divulgou na época, Delvino assumiu com um “ritmo cauteloso”, mas nem por isso deixou de colocar em prática o que defendeu como plano de governo, e hoje ele afirma “procurei exercer o cargo da melhor forma possível”, seguido de uma outra observação “aquela época a política era saudável.”

Delvino recorda que sua atuação como Chefe do Executivo de Pato Branco esteve pautada na saúde, com atenção ao saneamento básico; ensino e infraestrutura rural, no entanto, ele faz questão de elencar uma série de outras iniciativas que pautaram sua gestão.

Saúde

De acordo com o ex-prefeito, em seu mandato foram realizados mais de 40 quilômetros corridos de rede de saneamento básico na área central de Pato Branco. “Era uma necessidade, e a obra possibilitou Pato Branco se desenvolver”, lembra Delvino completando “nós cumprimos com a meta que estabelecemos, e no final do mandato era comparada proporcionalmente como uma das cidades mais bem saneadas do Estado.”

Ele recorda que por vezes recebeu críticas, “porque literalmente esburacamos a cidade. Mas, valeu porque logo nos destacamos por ser uma cidade limpa e o rio Ligeiro, que corta a cidade, e que antes era extremamente poluído, teve condições para o surgimento de peixes.”

Ainda na esfera da saúde, foi na gestão de Delvino que o atendimento foi municipalizando, sendo um dos primeiros do Paraná a ter esta condição. “Isso nos possibilitou um grande aprimoramento da saúde local, passamos a atuar com a medicina semiplena em Pato Branco”. Também foi na gestão que a estrutura que antes era mantida pelo Estado, na região da Baixada Industrial, se tornou Pronto Atendimento Municipal (PAM).

Ensino e cultura

Assinatura oficial, no momento, Ministro Murilo Ingel, prefeito Delvino e Professor Ataíde Ferraza, Deputado Federal Ivanio Guerra e outras autoridades. Assinatura oficial num momento histórico para Pato Branco, com a Federalização das Faculdades, hoje (UTFPR) – Foto: Acervo Diário do Sudoeste

Na área de educação Delvino comemora a federalização do Ensino Superior, com os então cursos da Fundação de Ensino Superior de Pato Branco (Funesp), passando a integrar o então Centro Federação de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet) em 1994, e, que anos mais tarde se tornou Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

“Na época se cogitava muito a estadualização do ensino superior tanto em Pato Branco como em Francisco Beltrão, mas foi uma tentativa que não teve êxito. No meu período tivemos a felicidade de pleitear e conseguir a incorporação da faculdade que era municipal, à União. Com a federalização do ensino superior em Pato Branco tivemos a criação do Cefet”, exalta o ex-prefeito atribuindo a este momento um novo salto de desenvolvimento para Pato Branco, que começou a receber estudantes de várias partes do Estado e até mesmo do Brasil.

Foi também na gestão de Delvino que foi construído o Centro Cultural Raul Juglair (teatro, museu e biblioteca), que anteriormente se concentrava no primeiro andar da Prefeitura.

Infraestrutura

Em 1994, Pato Branco se desenvolvia, e a então gestão buscou ligar o Município com grandes centros de forma mais ágil. Assim, naquele ano teve início a primeira linha área de Pato Branco, que permaneceu até o final de 1996.

Ainda nesta época, foi no Aeroporto Juvenal Cardoso, o farol que segue sendo utilizado até hoje.

Outra assinatura do Governo Delvino, foi a construção do atual Terminal Rodoviário José Catani, tirando a rodoviária do Centro, o que acabou por contribuir com o desenvolvimento da região Norte da cidade.

Também leva a marca da gestão, a reformulação do traçado da avenida Tupi, criando o calçadão da praça Presidente Vargas, que na época recebeu pavimentação com pedras portuguesas. A revitalização, que recebeu recursos do Programa Paraná Urbano também resultou na retirada do estacionamento diagonal da avenida Tupi, colocação dos postes republicanos e floreiras. “A ideia da reformulação da avenida foi para deixar ela com aspecto humano e acolhedor”, comenta Delvino.

Na educação, a federalização do ensino superior foi comemorada, e Delvino orgulha-se de ter sido o prefeito que pavimentou 54 quilômetros das principais estradas rurais do município, com pedras irregulares.

“Eu entrei e saí na hora certa. Dei minha contribuição, tenho maior orgulho e alegria. Hoje sou um homem realizado”, avalia o ex-prefeito.

Reconhecimento

Da atuação como médico, liderança sindical e prefeito, em 2016, Delvino recebeu da Câmara Municipal de Vereadores em 2016, o título de Cidadão Honorário de Pato Branco. “Foi uma alegria muito grande. Me alegro, por ser um gesto do reconhecimento do trabalho, o que é motivo de orgulho para a família, pois acredito que deixei um legado para o Município”, comenta ele sobre a honraria e completando, “me senti realizado em ser prefeito. Dei minha contribuição para Pato Branco”.

Arilde na política

Arilde Terezinha Brum Longhi, além de ter sido primeira dama do Município, foi presidente do Provopar, e posteriormente secretária de Assistência Social, no segundo mandato de Clóvis Padoan.

A atuação na área social, levou Arilde a ser um nome natural a uma cadeira ao Legislativo de Pato Branco. Ela foi eleita para a gestão 2009-2012, sendo a única mulher eleita naquele mandato.

Prefeito Delvino, Primeira Dama Arilde e seus filhos Dalton e Luciane LONGHI, no gabinete do Prefeito – Foto: Acervo familiar
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